sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Bom ano

Tudo bem. As mensagens de «Bom ano» ou «Bom ano novo» são normais e não tenho nada a dizer.
Também me adapto a um «Feliz ano», embora não goste muito da expressão «feliz» conjugada com «ano».
Agora «próspero» é que não. Não me peçam para explicar mas «próspero ano novo» soa-me a rococó e piroso.
É como quando dizem «o meu esposo» em vez do «meu marido». Marido tudo bem, esposo não gosto.
Ou uma também típica (sem querer ofender ninguém). Não digam «o dia do meu aniversário» … digam «o dia dos meus anos». E fujam da mistura explosiva «feliz aniversário». Não tem explicação mas não fica bem. É como é.
Pronto. Não vou implicar mais.
O que queria dizer era simplesmente isto: tenham todos um Bom Ano de 2017 e esqueçam lá essa coisa do próspero (que não tem mal nenhum mas eu não gosto).

#Saladeestar

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Santo cansaço

- E então, cansado?
- O primeiro sentimento não é esse. Mas sim, cansado. Dorme-se pouco. 24 de um lado, 25 do outro, como é suposto. Com a viagem pelo meio e muitas horas à mesa.
- Mas não se esteve bem, não se comeu bem?
- Ah isso comeu. E bebeu. E bem. E muito. O que, por falar em cansaço, também cansa.
- Mas todos juntos e bem dispostos?
- Todos juntos, claro. Bem dispostos? Acho que sim.
- Porquê esse acho?
- Meu amigo, a distância entre uma birra e uma gargalhada é ténue. Tanto se peguilha como se abraça. De um minuto para o outro. E então nestes dias sem rotinas ...
- Então não correu assim tão bem.
- Correu. E quanto mais dias passam mais certo é que correu bem. Ninguém se lembra das pequenas birras. E todos se lembram dos abraços e das gargalhadas. Nós e as crianças.
- Imagino a confusão!
- Imagina mas não te aflijas.
- Desculpa, só me aflige essa das birras.
- Não te aflijas. Referia-me às crianças. Que dão mais sentido mas também cansam.
- Não sei se me revejo nessa ideia estafada de que as crianças cansam.
- Sabes que com as crianças é tudo muito relativo. Connosco também, é certo, mas o mundo das crianças é diferente.
- Como assim?
- Num mesmo dia – em qualquer dia – nós experimentamos nas crianças as birras e as ternuras, os gestos comoventes e os impulsos repugnantes, a serenidade e a impaciência. No Natal e nas festas em geral não é diferente. Talvez seja até mais exagerado.
- Percebo.
- Se as crianças nos induzem ao que há de mais genuíno e puro – e por isso, pela essência, chegamos mais facilmente ao que verdadeiramente interessa – elas também nos consomem e nos desviam dessa essência. Ninguém, cansado, perante uma birra, consegue pensar na maravilha do nascimento do Menino …
- Mas as crianças não passam o dia todo em birras …
- Pois não. E não é desses momentos que nos recordamos quando recuperamos as memórias destes dias. Pensamos no vinho que bebemos, nos doces que nos marcaram, nas conversas que nos uniram, na alegria de todos, na comunhão das saudades. E ficam-nos tantas outras fotografias. A dos presentes mais certeiros e mais infelizes. As dos semblantes deslumbrados das crianças – outra vez elas. A da gruta esculpida com arte e engenho para receber o Menino Jesus e toda a parafernália que o circunda no majestoso presépio (que voltou a deslumbrar, como se fosse a primeira vez). E mais, muito mais.
- Que sorte!
- Estás a ver? Já só me lembro do que correu bem, porque é cansado que corre bem.
- Então essa expressão cândida e até beata do Santo Natal não é um bocadinho forçada?
- Não. Não é. Um Santo Natal é isto mesmo. Santo não quer dizer que seja perfeito. Santo não quer dizer que seja indolor e sem cansaço. E sem birras. E sem presentes infelizes. E sem saudades. Não. Um Santo Natal é esta quase misteriosa amálgama de momentos que, quando recordados, têm o sentido próprio da família que se reúne. E insisto – as crianças cansam, não há como negá-lo, mas tornam o Natal mais Santo.
- Olha, santo cansaço!
- É isso.

#Jardim

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Não gosto da tua música então não gosto de ti

Parece que agora é esse o critério para se ser boa ou má pessoa e merecer ou não respeito no momento da morte.
«Já vais tarde», dizem os que não gostavam das suas músicas.
Deixa-me estar quieto e não pôr à prova a minha veia criativa (chego a ter medo da qualidade das músicas que não criei!).
Deus me guarde da brigada do bom gosto, que eu cá quero ser boa pessoa.

#Saladeestar
#Jardim

Silva Marques

Ainda me lembro daquelas tardes. Depois das aulas, sentado no sofá, o colo forrado de torradas num prato, regalado a ver o que dava na televisão.
Umas vezes era o Orçamento de Estado, outras uma moção de censura (que às tantas virava para moção de confiança), outras ainda o estado da nação. Entretinha-me e divertia-me com os directos da Assembleia da República. A oratória, o humor, a razão e o despudor. Os preparados e os atrevidos. Os talhados e os desajustados.
Lembrei-me dessas minhas tardes quando soube da morte do Silva Marques. E tive saudades.
Não sei se se lembram mas o Silva Marques foi um destacado deputado. Foi um dos que caiu em si quando percebeu que o PCP e o seu projecto político para o país eram um logro. E entre o PS e o PSD escolheu este último. Era, de facto, um senhor deputado. Por regra sentava-se na primeira fila, mas na cadeira mais à esquerda, de onde exibia o seu farto bigode, nó de gravata robusto e sorriso simpático. E tinha o que mais gosto nos deputados – eloquência inteligente e bem-humorada.

#Escritório

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Eu gosto

Gosto desta azáfama. Gosto do reencontro familiar. Gosto da casa pronta a receber. Gosto da loucura das decorações e das luzes. Gosto das cidades enfeitadas. Gosto dos espectáculos e da programação intensa. Gosto das músicas. Gosto dos balanços. Gosto dos postais, dos e-mails e dos telefonemas. Gosto das crianças ansiosas. Gosto dos pais sem mãos a medir. Gosto do frio. Gosto da lenha a arder. Gosto das declarações de saudade e amizade. Gosto da noite. Gosto do dia seguinte. Gosto das roupas mais arranjadas. Gosto dos presentes. Sim, gosto dos presentes. Gosto de dar e de receber. Gosto das montras. Gosto das lojas cheias. Gosto das ruas e centros comerciais apinhados. Gosto dos embrulhos. Gosto dos papéis berrantes. Gosto dos sorteios de Natal. Gosto das listas de compras. Gosto de ter de escolher porque os recursos são escassos. Gosto da confusão. Gosto do cansaço. Gosto das mesas cheias. Gosto do bacalhau. Gosto dos doces, especialmente as rabanadas. Gosto do copo de vinho. Gosto das conversas longas. Gosto das angústias e das alegrias partilhadas. Gosto da saudade. Gosto da generosidade. Gosto da ajuda a tantos que precisam. Gosto do mistério do presépio. Gosto da estrela e dos sinos. Gosto dos Reis Magos. Gosto de José e de Maria. Gosto do Menino Jesus. Gosto da missa de Natal. Gosto de rezar ao Menino Jesus pedindo por todos aqueles a quem tudo o que eu gosto é negado. Gosto de tanta gente.
Eu gosto do Natal.

Um Santo e feliz Natal para todos!

#Jardim

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

O prazer da inocência

Eu, que gostei de viver a inocência própria de cada idade, que me diverti com a «viagem» natural da descoberta e que tive espaço para a curiosidade, estou aqui. Firme e hirto.
Não. Aos 5 anos não me trataram como se tivesse 10. Aos 10 não me impuseram as ansiedades dos 12 ou 13. Aos 14 não me obrigaram a saber e a fazer como se tivesse 18.
E olhem que eu gostei. A sério. Tive o prazer da inocência, da descoberta, da curiosidade. Até o do pudor.

Não percebo porque negam aos meus filhos a liberdade desse prazer.

#Saladeestar

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Alma

1. Meus amigos, que alma, que vontade, que raça! Brinquem, brinquem connosco.
2. Contra tudo e contra todos sabe melhor. Não deixa de ser escandaloso. Mas se é para ser mais saboroso, estão a conseguir.
3. Marcámos 3 golos. Validaram 2. Mas os 3 pontos são nossos.
4. Eu nunca disse que o Depoitre não era uma boa contratação. Só ainda não sabia.
5. E pronto. Por agora, desejos de um Bom Natal.

#Saladejogos

Alma

1. Meus amigos, que alma, que vontade, que raça! Brinquem, brinquem connosco.
2. Contra tudo e contra todos sabe melhor. Não deixa de ser escandaloso. Mas se é para ser mais saboroso, estão a conseguir.
3. Marcámos 3 golos. Validaram 2. Mas os 3 pontos são nossos.
4. Eu nunca disse que o Depoitre não era uma boa contratação. Só ainda não sabia.
5. E pronto. Por agora, desejos de um Bom Natal.

#Saladejogos

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Mário Soares e eu

Sou um filho daquela marcante campanha presidencial de 1986. Cresci a cantar o «Prá Frente Portugal com Freitas do Amaral» por oposição ao «Soares é fixe». E senti aquela derrota eleitoral, à segunda volta e à tangente, como se de uma derrota do meu clube se tratasse. Na minha cabeça de criança empenhada tinham ganho os maus com um golo de penalti duvidoso nos descontos. Eram tempos ainda de ressaca revolucionária. E eu respirava um ambiente de facção que hoje compreendo, que terá sido quase inevitável, mas no qual não me revejo.
Com o tempo, com o distanciamento, com a maturidade (a pouca que a natureza me foi concedendo) desvaneceu-se aquela imagem simplista dos bons e dos maus. A política e a história sempre rivalizaram com o futebol na disputa pelo meu tempo de menino e adolescente. Sem esforço e sem mérito, tanto lia biografias políticas e programas eleitorais (programas eleitorais, imaginem!), como coleccionava cachecóis de clubes e bilhetes de jogos de futebol. Se no início os dois mundos até pareciam próximos, às primeiras leituras e aos primeiros pêlos na cara, comecei a duvidar, a relativizar e a contextualizar. Ainda com a voz a engrossar já conseguia valorizar politicamente o que antes diabolizara sem discussão. Reservei ao futebol a clubite que lhe é própria e ofereci-me à política com uma certa bonomia crítica e exigente. É desse exercício que nasce a minha «reconciliação» com Mário Soares, a quem logo reconheci uma rara capacidade para nos interpretar.
Não. Mário Soares não é essa figura impoluta e perfeita que muitos sustentarão. Tem de sobra episódios condenáveis. De facção, de traição e de jogo. E nunca foi tributário do meu voto. Mas foi demasiado importante num momento especialmente relevante e fundador do nosso regime. Não lhe devemos tudo, até porque não esteve sozinho. Mas à sua intuição, à sua coragem e insubordinação, e ao seu profundo amor à liberdade, ficámos a dever a nossa própria. Não é coisa pouca. Mas fico com a sensação que muito boa gente, porventura refém de uma certa «clubite de menino», ou não o sabe, ou não o reconhece ou não o valoriza. Mas devia.

#Escritório

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Títulos

Concordo. Em 87, com a Taça dos Campeões Europeus é que foi. Ou em Sevilha, no quente Maio de 2003, com a pesada Taça UEFA. E logo no ano seguinte, naquela cidade alemã de nome esquisito. A Champions! A Champions! A inacessível, a do hino, a exclusiva dos milionários! De 2011 guardo mais o percurso impoluto (como a reviravolta frente ao Villareal ou a retumbante vitória na Rússia). Mas voltámos a agarrar o canecão pesado (só nós!).
Concordo. São estes 4 que valem a sério. Que valem muito. Os tais da inveja – genuína, indisfarçável e própria da rivalidade.
Talvez se sobrevalorizem os outros títulos internacionais de um só jogo ou a duas mãos (as taças intercontinentais e a supertaça europeia). A verdade, contudo, é que os experimentámos. Os vencemos. Foram nossos. E justamente por causa daqueles que valem muito.
Há 12 anos levantávamos um desses canecos!
#Saladejogos

domingo, 11 de dezembro de 2016

Como se nada fosse

Ainda me lembro como era isso de ter uma gripe e poder curá-la convencionalmente. Na cama, sem ser convocado para nada, cumprindo e fazendo cumprir as prescrições clássicas (dormir, comer e beber na estrita medida do necessário, tomar dois ou três xaropes ou pastilhas e não ser incomodado).

Ai dói-me o corpo? Pesa-me a cabeça? Não me larga a tosse? Só me apetece estar na cama? Estou fraquinho?

Há por aqui por casa uns seres que não querem saber e passeiam-se como se nada fosse. Chamam como se nada fosse. Querem tomar o pequeno-almoço, o almoço, o lanche, e o jantar às horas certas como se nada fosse. Peguilham como se nada fosse. Fazem asneiras e desarrumam como se nada fosse. Até brincam connosco como se nada fosse.

Perdi algures essa coisa do direito a estar doente. Quer dizer, estou. Mas cá em casa é como se nada fosse.

#Saladeestar

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Sou parolo mas não me importo

Estou, definitivamente, do outro lado da barricada.
Achei muito bem o Pingo Doce na Marechal (na mesma avenida onde há escolas, bancos, bombas de gasolina, clínicas veterinárias, escritórios de advogados e de consultoras, e, até há pouco tempo, serviços da segurança social). Até dou por mim – não o escondo – a achar que ficou mesmo bem o tal Pingo Doce.
E também acho muito bem o Tourigalo na Fonte da Moura e o Continente ao lado da Cufra (na mesma avenida onde há de tudo – desde bombas de gasolina, lojas de tapetes, restaurantes baratos e caros, tascas, farmácias, jardins de infância, clínicas, sedes partidárias, salas de espectáculos, jardins, bares de noite e, pasme-se, supermercados!).
Lamento muito, mas em avenidas como estas, com tantas funcionalidades e espaços diferentes, não há critério de selecção que recomende negar a abertura de supermercados ou de restaurantes. Sejam eles gourmet ou populares. Caros ou baratos.
O critério, do meu lado, é mais simples. Em espaços descuidados ou devolutos, casas abandonadas há anos, dominadas pela marginalidade e pela vegetação selvagem, eu anseio sempre pela abertura de um Tourigalo ou de um supermercado. Para pôr fim a esse degredo. E, já agora, para minha comodidade.
Foi isso que aconteceu.
Chamem-me parolo da cidade que eu não me importo.

#Salaodevisitas

domingo, 4 de dezembro de 2016

A César o que é de César, à Europa o que é da Europa

Esta brincadeira - que é de uma brincadeira que se trata - de deixar a sorte da Europa entregue a disputas e motivações internas dos seus Estados é uma moda perigosa e que deveria merecer enérgica reacção da própria Europa.

O que se passa em Itália no referendo de hoje não é senão uma velha discussão interna sobre a sua organização política. A europeização dessa discussão nasce na insensata instrumentalização dos seus promotores que apostam no drama para assegurar a sua carreira. E alimenta-se da ideia (que é quase um desejo mediático) de que vêm aí os populistas e anti-europeístas.

Se em Inglaterra o tema ainda era a Europa, em Itália já só o era pelos temores populistas e pelo tal jogo de ameaças pessoais. Em ambos os casos, todavia, é triste ver a Europa reduzida a joguete e a bode expiatório às mãos de quem se arroga institucionalista e responsável (Renzi hoje, Cameron ontem).

O problema da Europa começa a ser não se dar ao respeito. De repente ninguém toma as suas dores. Ninguém denuncia alto e bom som: a César o que é de César, à Europa o que é da Europa!

#Escritório

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Voto de louvor

Que não se levantem. Que neguem o aplauso. Que façam o que quiserem.
Lutarei para que ninguém os fuzile contra nenhum muro.
Que somos um país democrático e livre!

#Escritório

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Cuba e a memória

Ando há dois ou três dias a escrevinhar umas ideias sobre Cuba, a morte de Fidel, a memória. Sobre o que é isso do amor à liberdade. E à verdade. Sobre como deveria ser indigna - sempre! - a morte por delito de opinião, seja ela às mãos de um ditador de esquerda ou de direita.
E justamente quando me preparava para dizer meia dúzia de lugares comuns, leio este texto da Zita Seabra.
Não preciso de dizer mais nada. Não devo.

Não apaguem a memória - Zita Seabra 

#Escritório

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Queridas bases de dados,

Já percebi que nunca se esquecem de mim, que prezam muito a minha presença (e a do meu telemóvel, e a dos meus e-mails) nas vossas extensas e valiosas listas. E também sei que é uma relação para a vida. Já sei, fui eu que vos contei tudo. E pouco interessa que o deva a momentos de fraqueza («não quer acumular pontos no nosso cartão cliente?»). Só depois de sair das lojas é que, ainda meio hipnotizado, suspeito que revelei àquela cheirosa e vistosa menina do balcão dados pessoais que deviam ser mesmo pessoais …
Está tudo muito certo e eu não estou aqui para mudar o mundo. Só queria, se fosse possível, que eliminassem duas ou três das 5 linhas em que apareço. É que escusava de receber cinco vezes os mesmos SMS e os mesmos e-mails. Basta uma vez (ou duas, vá) para ficar sensibilizado com as vossas generosas, incríveis e exclusivas promoções. Era mesmo só isso.
PS. Já agora, mudem aí o vosso tradutor automático. De repente, tratam-me por Black? Não sou Black, sou negro. Montenegro. Se der corrijam isso também.

#Saladeestar

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

O mito dos puros

Há um fenómeno que me intriga e, em certa medida, indispõe a respeito do modo como se institucionalizou olhar para o PSD, para a sua autenticidade e os seus protagonistas. Digo para o PSD porque o fenómeno é sobretudo dirigido ao PSD, ainda que o CDS também dele vá padecendo. É, em boa verdade, um fenómeno que tem por destinatários os partidos à direita do PS.

Com estafada frequência ouvimos e lemos que o velho PSD, partido social democrata, já não existe. Já existiu – em todo o seu cristalino esplendor – mas terá desaparecido. Os representantes desse velho PSD também dele terão desistido ou, infelizmente, já não estão entre nós. Aliás, o fenómeno vem muito à tona em jeito de elogio póstumo – «era um verdadeiro social democrata, amante da liberdade e que nunca se rendeu à deriva liberal» (ou, na versão CDS, «era um dos últimos democrata cristãos»).

Nestes desabafos de frases feitas está implícito, muitas vezes, um rasgado elogio a esse partido tão bom que desapareceu. É uma espécie de partido equilibrado, socialmente galvanizado e reformista que, em contraposição à deriva de que foi vítima, perseguia o bem comum. Os elogios são tantos, tão rasgados e tão consensuais, que chego a questionar-me como foi que se perdeu esse partido!
E o que é ainda mais intrigante e curioso é que, amiúde (acho que é a primeira vez que escrevo «amiúde»), essas declarações de amor pelo velho PSD nos são servidas por quem nunca se reviu no tal partido tão bom, nunca nele votou nem votaria.

Este fenómeno anda de braço dado com a ideia de que as preocupações sociais e a promoção do Estado social são um exclusivo da esquerda e que à direita não lhe assiste mais essa causa (aliás, persegue uma agenda de destruição do dito Estado social). A velha direita terá tido essas louváveis preocupações, mesmo que, ao tempo, seja difícil encontrar esse reconhecimento.

A explicação para este fenómeno – lamento dizê-lo – não abona especialmente a favor dos seus arautos. Por regra, tem na génese a ideia, pouco democrática, de que os outros partidos à direita do PS se devem subjugar às mesmas prioridades da esquerda. Ademais, essa subjugação não se pode sequer esgotar na adesão às prioridades – elas devem ser perseguidas da mesma maneira, com os mesmos métodos (sejam eles meramente panfletários ou não). E sempre com a condescendência doutrinária de que a social democracia de Sá Carneiro ou a democracia cristã de Amaro da Costa eram – essas sim – boas e respeitáveis (por muito que ambos tenham sido combatidos pelos mesmos que condescendem).


Eu não quero convencer ninguém, por muito absurdo que ache o fenómeno. Também me poupo a projectar um olhar crítico ao lado «sinistro» (como se diz em italiano) do xadrez partidário. Mas talvez sugira que concedam aos partidos à direita do PS a impureza própria das organizações políticas, que exercem o poder e que se fazem das pessoas que, em cada momento, querem participar. Já nem falo da certeza biológica de os protagonistas de hoje serem filhos dos de ontem. Nem ouso invocar que uns terão sido formados por outros. Eu só me insurjo contra o estigma dos impuros de hoje. Especialmente porque baseada no mito. O dos puros.

#Escritório

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Copenhaga

1. Houve vontade. Aos jogadores não se pode apontar falta de vontade.
2. Fomos superiores, como vimos sendo em quase todos os jogos. Mas não é essa a medida que interessa. Falhamos golos que têm de ser golo e não temos objectividade na área!
3. O banco de hoje é inexplicável. A última substituição é quase um insulto.
4. Que grande dupla de centrais. Não me custa nada admitir. Não inventa, sempre concentrada e com entrega que me orgulha.
5. Devíamos ter ganho. Estou farto de terminar assim. Quero ganhar c@#%?o (caramba)!

#saladejogos

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Fora

1. Estou fora e não vi.
2. Mas já vi o suficiente.
3. Desde os senhores de preto, aos senhores da tribuna (que acumulam loas e votos em assembleias gerais de desconversa), acabando no senhor do banco, já estou farto. Farto de ser gozado, enganado e desrespeitado.
4. Estou fora e não vi. Estamos fora da taça e não vi. Eu sei quem queria ver fora. Mas também não vi. Ainda.

#Saladejogos

Amoris Laetitia

Sempre que leio uma exortação apostólica, uma encíclica ou qualquer outra reflexão do Papa (do actual, como dos seus predecessores) experimento o sobressalto da consciência e do entusiasmo (ou da esperança). Claro que me assiste o interesse ou a devoção filial, mas não creio que a ela se deva totalmente aquele sobressalto. Procuro mesmo colocar-me na pele e na consciência do distante. De quem não comunga da devoção e do interesse. E, invariavelmente, descortino o chamamento aos homens livres e de boa vontade. Seja à paz, seja ao amor (talvez a mais humana e inata das vocações), seja ao respeito pelo ambiente (para dar um exemplo recente).

Todavia, nunca como na recente exortação apostólica "Amoris Laetitia" (Alegria do Amor) foi tão verdadeira a vocação universal da mensagem do Papa.

Não é preciso ter fé, não é preciso estar próximo da mundividência cristã, não é sequer preciso gostar do Papa e da Igreja. Para qualquer mulher e homem de boa vontade, a reflexão que nos é oferecida "sobre" o Hino à Caridade de São Paulo (Capítulo IV da Exortação Apostólica) é uma generosa e doce receita para a felicidade. Não está lá nenhum segredo. Não está lá sequer nada de novo. Mas está lá tudo. E é um desperdício não aproveitar.

Desculpem o pequeno desvio aos assuntos ligeiros do dia a dia, mas eu tinha que dizer isto.


#Jardim

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Eu também acho não sei quê

Eu também tenho uma teoria sobre a vitória de Trump, a derrota da Hillary, os populismos, os sistemas eleitorais, a relação entre maiorias e representatividade. E sobre o caso do Bruno de Carvalho com o presidente do Arouca. E sobre a lua grande. Talvez esta última seja mais discutível.
Mas não. Não passa por chamar ignorantes e estúpidos a tudo o que mexe. Não tenho jeito (quer dizer, jeito tenho, mas sou dominado pela vergonha) para exercícios de superioridade moral. E ao que leio por aí ainda me arrisco a levar uma bisga.

Fica para quando estiver tudo mais calmo. Ou não, que não se perde nada (já sei, escusam de me advertir).

#Saladeestar

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

À conversa com Leonard Cohen

Volta e meia vejo-me obrigado a contemporizar essa do «gostos não se discutem». Há estrelas que não estão sujeitas a semelhante boutade. Não aquelas que nos são impostas e a que aderimos por obediência quase bovina. Falo antes das estrelas mesmo. De um Cohen, hoje, como de um Bowie, ontem.

E então para quem gosta de músicas, para quem gosta de melodias, de letras, de histórias. Para quem gosta de vozes graves, de conversas, de álbuns inteiros. Leonard Cohen está quase isolado. Ouvi-lo dava-me a sensação de estar numa conversa – sim, ele interpretava como quem conversava ou contava uma história. E por isso às vezes não perdia muito tempo com essa coisa da melodia que ele próprio criara (encarregava até uns quantos back vocals para que não se perdesse essa parte da criação).
Com Leonard Cohen o brilho era completo. A qualidade, de tão genuína, tão massiva, tão sufocante, envolvia-nos e não consentia essa ousadia do «gostos não se discutem» (como quem diz, discutam para aí, que não há como beliscar o génio).


Ao olhar para as minhas estantes carregadas de criações banais, apeteceu-me pôr lá uma caixa. Na lombada escreveria «À conversa com Leonard Cohen». Para quê? Para disfarçar a vergonha de a ter vazia. Para a preencher urgentemente. E para poder recuperar essas conversas com o génio.

#Jardim

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

A democracia e o voto

Nesta manhã em que a pulsão democrática está em crise (ela é mais posta à prova quando os resultados traem o desejo e a expectativa) não retiro uma vírgula ao que escrevi no dia a seguir ao referendo do Brexit:
«O voto é esclarecido
Não tenho nem ilusões nem presunções. E não faço exigências.
O voto é o que cada um quiser fazer dele. Na mais absoluta liberdade. Se essa liberdade é baseada na leitura aturada dos programas ou numa ponderação profunda sobre as alternativas, tanto melhor. Mas vale o mesmo se for fruto de uma precipitação, de um engano ou até de uma garotice.
E esta constatação tanto vale para um lado como para o outro. Serve para quando gosto e para quando não gosto do resultado.
Achar que os eleitores não sabem o que fazem é presunçoso, incoerente e até pouco democrático. Presunçoso porque tem na génese a ideia de que «eu é que sei». É incoerente porque já não interessa quando os resultados são os que eu gosto. É pouco democrático porque vai colher à ideia de que isto estaria bem era nas mãos de uns iluminados (que o povo é ignorante e não é capaz de decidir bem).
O argumento das promessas demagógicas e vãs é fraco e não vale – se não fosse fraco e não valesse, então valeria sempre (porque não há acto eleitoral que não se ornamente de promessas demagógicas e vãs).
Eu por mim respeito sempre os resultados de qualquer votação. Com humildade e com espírito democrático.
(…)»
Por ora é o que se me ocorre dizer - outra vez - sobre os resultados (para lá da esperança de que a realidade seja melhor que o «verbo»).

#Escritório

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

I'm out

Não vou à Web Summit.
Não tenho uma Startup.
Nem app. Nem sou CEO. Nem CFO. Nem Entrepeneur.
Falta-me um Business Plan para fazer um Road Show, atrair Business Angels ou Investment Funds, que depois de uma Due Dilligence, me proporão uma Joint Venture ou M&A.
Talvez um Outsourcing para estudar um Management Buyout ou mesmo um IPO. Default é que não.
Um Empowerment é urgente.

Vou mas é beber uma mini. Sorry.

#Saladeestar

domingo, 6 de novembro de 2016

Perder também é isto

1. Pouco interessa essa coisa do não merecemos.
2. Quer dizer, o palavroso do banco mereceu. Esse mereceu.
3. Estávamos à procura do segundo golo, não havia nem sinal de réplica, e o intelectual do banco achou que era boa ideia pôr um freio (mais um médio e menos um extremo naquele momento foi todo um programa).
4. Perdemos. 2 pontos nossos. 1 para lado de lá. E obviamente que não ganhar em casa é perder. Essa é que é essa.
5. Não me apetece dizer mais nada.

#Saladejogos

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Manuel Sampaio Pimentel

Lemos os maiores elogios ao seu carácter, ao seu modo simples, directo e despudoradamente leal de ser. E de escolher. E de servir. Eloquente consenso, apetece dizer.
Talvez seja mais justo dizer que é muito difícil e exigente ser como o Manel escolheu ser (que inveja Manel!).
Quando hoje rezar por ele e pelos seus vou começar com um «gostava do Manel». Sei que Deus estará também em sintonia.

#Jardim

Da memória e da responsabilidade


É das tradições que faz mais sentido e que mais me comove. O mapa de ternura em que se transformam os nossos cemitérios anima-me. Lembrar as raízes que nos fazem inteiros é mais que um exercício de memória. É sobretudo um exercício de responsabilidade.



#Jardim

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Do nojo

A descrição da carreira do chefe de gabinete do Secretário de Estado do Desporto que agora se demitiu (ou foi exonerado) é todo um programa. Está lá tudo. Digo-o sem qualquer prazer. Talvez o faça com pena, porque não diz bem de nós, do sistema em que vivemos e da nossa falta de exigência.

Reparem bem. O senhor (lamento não poder utilizar o «Dr.» que ele tanto valorizava) foi presidente da Associação Académica de Lisboa, mas nunca acabou qualquer curso – terá passado um ano por um e três por outro. Foi vice-presidente do Conselho Nacional de Juventude. Beneficiou de não sei quantos ajustes directos de serviços de consultoria e comunicação (um clássico). Acumula experiências soltas na assessoria de comunicação em gabinetes, sendo essas as únicas experiências de «trabalho» que conseguimos perceber. Gozava das prerrogativas e benesses do gabinete que chefiava sem qualquer senso e pudor. Aparentemente, geria sem apreensões outras actividades (de scouting para um clube de futebol, imagine-se!) em acumulação com as funções de chefe de gabinete. Mentiu descaradamente sobre o seu CV e, pelos vistos, o seu poder foi ao ponto de fazer rolar a cabeça de um Secretário de Estado e ser imposto a outro pelo Ministro (com uma espécie de jura de segredo até hoje).

A mentira é já um CV sobre o senhor. Achar que precisa de esconder que não tem qualquer licenciatura é outro.


Há tanta gente boa. Com e sem licenciatura. Com efectiva capacidade e disponibilidade para trabalhar. Até com vocação política e com vontade de serviço. É criminoso andarmos a preencher os lugares com gente desta. E quando me refiro a gente desta incluo os cúmplices deste nojo.

#Escritório

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Sobre João Lobo Antunes

Vale a pena dizer. Vou-me convencendo disso. Sem arrependimento. Cada um a seu jeito. Vale a pena deixar dito.
No dia em que parte – eu, que não o conheci – estou a vê-lo. Valeu a pena de certeza. A sua vida e este texto.

O meu irmão João
ANTÓNIO LOBO ANTUNES

É talvez a pessoa que conheço melhor no mundo e todavia quase não falamos. Para quê? São desnecessárias as palavras entre nós, passámos mais de vinte anos, acho eu, no mesmo quarto, num silencioso princípio de vasos comunicantes que até hoje se mantém. Para além do muito amor que raramente lhe manifestei tenho uma imensa admiração por ele e um orgulho sem limites. Herdou do nosso pai (herdaste do pai, sim, tem paciência) a honestidade, o carácter, a coragem e o horror à mentira. Desde criança foste sempre valente. Se assim à má fi la me ordenassem que dissesse duas características tuas respondia logo a valentia e o pudor, formas supremas da elegância. E isto desde que te conheço, tu que nasceste vinte meses depois de mim (o número vinte deu-lhe para me perseguir hoje) que era cobarde e despudorado e custou-me tanto ver-me livre dessa ganga nojenta, zangado de vergonha comigo. Foste sempre digno e discreto contigo mesmo e com os outros e bem sei, sem mo teres dito, as difi culdades e as dores que sofreste, a carne viva que escondes e eu vejo, a compaixão que não mostras e eu sinto. E a tua oculta e bondosa generosidade. O rigor também, a falta de complacência para com a ingratidão, a pulhice, os sentimentos rasteiros. Claro que tens defeitos: alguns divertem-me, outros enternecem-me, nenhum me incomoda, talvez por serem os defeitos das tuas qualidades da mesma maneira que um automóvel possui os travões adequados à potência do motor. Se fosse Deus não mudava grande coisa em ti: talvez trocasse um móvel de posição, alterasse uma jarra, substituísse um quadro. Na casa não mexia: agrada-me que seja como é. E depois claro que te foi dada uma inteligência superior e isso não vale a pena mencionar porque no meu caso não me serve de nada, ninguém é tão estúpido como um homem inteligente e muitas das asneiras que fi z conhece-las de ginjeira. Lembras-te da mãe - Tão inteligentes para umas coisas, tão estúpidos para outras mas eu canalizei tudo para a escrita, construí-me para isso e os teus interesses são mais variados que os meus. E no meio disto somos tão ingénuos ambos, sensíveis à lisonja, por vezes completamente parciais, cegos em relação aos amigos, de julgamento turvado quando os afectos se misturam nele. É curioso como, sendo diferentes, temos coisas idênticas. O pai não queria filhos, queria campeões de karaté. Conseguiu-os e o preço disso foi uma parte nossa amputada e uma sede de amor sem limites, em ti cuidadosamente escondida. A gaita é que eu sou desbocado e tu não, vivo nas nuvens e tu só às vezes, porque eu vivo nas nuvens e das nuvens e tu tens de confrontar-te com uma realidade imediata que te dá um peso específico maior que o meu e uma relação necessariamente pragmática com certos aspectos do quotidiano. Estou para aqui a escrever isto e a pensar na educação que recebemos, normativa, implacável, no limite da impiedade e da dureza. Quantas vezes nos revoltámos contra ela e, no entanto, que importante foi. Um pai que competia connosco e, mais tarde, te invejava. É terrível a relação do fi lho com o pai, julgando-se mutuamente numa ferocidade sem doçura. Nunca foi doce. Nem tolerante. Que egoísmo horrível naquele homem. E por baixo disso tudo uma vaidade em nós, ou antes uma vaidade nele dado imaginar (a imaginação não era o seu forte, nem o sentido de humor, nem a criatividade) que nos havia feito peça a peça e não fez. Não nos poupava mas poupava-se a si. Dito desta forma parece que lhe quero mal. Não quero. Só que não me acho em dívida: o preço foi alto. Levou a vida que quis, como quis, e impunha-nos à força a sua vontade. É curioso, João: dá-me pena que tenha morrido. Movia-se por paixões, entusiasmava-se e gostava de nós através das nossas filhas por lhe ser impossível amar-nos abertamente. E contudo, mau grado o que acabo de dizer, não duvido do seu amor e de um orgulho genuíno nos filhos, que fazia os possíveis por disfarçar. Estou a ser injusto, de longe em longe descuidava-se. E apesar do que afi rmo, gaita, era, é o nosso pai. Não esqueço as palavras de Herculano a propósito de Garrett que ele repetiu dúzias de ocasiões ao longo dos anos - Por meia dúzia de moedas o Garrett é capaz de todas as porcarias, menos de uma frase mal escrita ou da ordem de Filipe Segundo ao arquitecto do Escorial - Façamos qualquer coisa que o mundo diga de nós que fomos loucos e como esses dois preceitos se gravaram na gente. Isto foi importante para além do que declarei a teu respeito e herdaste dele de facto: a honestidade, o rigor e a coragem. É bom ser filho de um homem desta têmpera e essas qualidades nasceram contigo. Talvez com outro pai houvesses sido igual, não sei. Capaz de todas as porcarias menos de uma frase mal escrita: para mim foi um tiro na mouche. Em cheio. E estou-lhe grato por isso. Estou-lhe grato também pelos irmãos que foram aparecendo, a chorarem como uns danados até aos dois anos, raios os partam. À mãe igualmente claro, de quem a avó nos dizia - Vocês matam a vossa mãe numa convicção que me confundia. Via-nos a apunhalá-la com a faca do pão, a da serrilha grande, e ela a torcer-se na cozinha. Felizmente sobreviveu à faca e segue viva da costa. Agora, há uma semana, sucedeu aquilo do Pedro e de novo te admirei, mano, a tua efi ciência, a tua capacidade de decisão, o teu valor, a rapidez pragmática do teu afecto, eu que de pragmático, pobre de mim, nada tenho. Quando acabaste de operá-lo apeteceu-me beijar-te. Claro que não beijei mas sabes que beijei: és o meu irmão João. Aquele a quem me une um silencioso princípio de vasos comunicantes. E com que alegria repito isto dentro de mim: o meu irmão João. O meu irmão João para sempre.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Conservadorismo. Mas não só.

O meu querido amigo Francisco Mendes da Silva veio hoje dissertar – com a sua habitual elegância literária – sobre o conservadorismo em que se revê (este artigo no Jornal de Negócios). No caso, a incursão no tema servia para se apartar do estilo agora ensaiado pela novel primeira‑ministra britânica, Theresa May, que, segundo ele, enveredou pelo proteccionismo reaccionário (os adjectivos são meus). Não será esta a motivação do meu comentário (não comungo, em intensidade, da vibração do Francisco com o que se passa em terras de sua majestade). Eu gostava de recuar ao «seu» conservadorismo (e ao de Michael Oakeshott e de João Pereira Coutinho, que ele cita no seu artigo).
Se tendencialmente me sinto confortável com a ideia de que devemos preferir «tirar partido das possibilidades do presente» em vez de «ansiar por passados irrecuperáveis ou futuros incertos» e de que a exigência com a mudança é uma predisposição essencial (a importância da tal «pedra na engrenagem» de que fala João Pereira Coutinho e que o Francisco recupera) não creio que a acção política se possa alimentar de tão pouco. A ideia (ideia no sentido literal) tem de ter mais espaço, o propósito de conformação em liberdade da sociedade, a fixação de limites (sem receio da radicalidade, se necessário), a afirmação de valores (ou a não cedência nos essenciais). No fundo, uma doutrina de substancia (seja a doutrina social da Igreja, seja o socialismo democrático, seja o liberalismo, seja o comunismo) faz parte e não vejo porque não deva fazer com significado. Coisa diferente – aqui reaproximo-me do Francisco – é a de que a acção política (seja ela qual for) se deve orientar pelo senso comum, com temperamento, respeitar e ter presente a natureza humana, a moral, a tradição, a comunidade, a experiência. Aí estou de acordo. E já sabia que estava.

No fundo, o que queria dizer é que o conservadorismo como expressão de gestão corrente (agora é a minha vez de criar expressões) deve conviver com ideias. Eu percebo o sublinhado do Francisco. Em tempos de falta de bom senso e de temperamento, talvez seja boa ideia recuperá-los como doutrina política. Mas não deixa de ser insuficiente.

#Escritório

3 anos de Rui Moreira

Se com um ano de mandato é prematuro, e com dois ainda não é suficiente, volvidos três anos à frente da Câmara do Porto estamos já em condições de ensaiar um balanço (que se há-de completar, naturalmente, daqui a um ano).

Aspectos positivos:

1.
Dinâmica cultural. Os primeiros dois anos foram de tal modo fervilhantes que o embalo é imparável. O Porto é já – ele próprio – expressão de dinâmica cultural. Talvez se possa sinalizar este último ano com a «conquista» da polémica colecção Miró do BPN. Mas podia isolar a feira do livro, os concertos de música clássica na avenida ou a D’bandada, por exemplo. Ou a «descoberta» do património, agora explorado com outra organização (a torre dos clérigos será o caso mais icónico). Depois da inesperada partida do genial vereador Paulo Cunha e Silva, os legítimos receios de desaceleração foram infirmados. Não lhe podia ser feita melhor homenagem.
2.
O destino. O Porto consolidou-se e cresceu vertiginosamente como destino. Não é só o número impressionante de turistas. É mais a expressão cosmopolita que o Porto ostenta, com a criação e recriação de espaços, de soluções urbanísticas e paisagísticas. Com o «espevitar» das nossas instituições culturais, patrimoniais ou universitárias (são milhares os estudantes estrangeiros). E se os méritos primeiros estão nas pessoas, na sociedade civil, há que reconhecer que o modo como o Porto se abre é também mérito do seu executivo camarário.
3.
Foco na zona oriental da cidade. Ainda não se consegue medir como devia, mas é justo reconhecer que se olharmos aos maiores investimentos eles foram na área social e nos bairros da zona oriental da cidade. Vibro com o despertar da cidade «conhecida» para esta cidade «adiada» e reservo enormes expectativas para o projecto do matadouro municipal.
4.
Escolas – valorização dos espaços exteriores. Tenho vindo a sinalizá-lo todos os anos e, felizmente, vejo razões para renovar esse sublinhado. A reserva dos espaços de recreio face ao exterior das escolas faz todo o sentido (o que nem sempre é possível porque há muitas escolas cujos recreios estão sob as janelas de prédios, sobretudo em bairros sociais). A recuperação generalizada dos espaços exteriores das escolas (os únicos espaços onde muitas crianças brincam, como lembrava o próprio Rui Moreira) segue e deve ser saudada;
5.
Higiene e espaços verdes. Já vinha de trás, mas é uma marca da cidade que me orgulha muito. O Porto é uma cidade limpa e com espaços verdes incríveis e cada vez mais reabilitados;
6.
Abertura a todos. Sou muito sensível à ideia de que todos os cidadãos se devem sentir representados na sua Câmara Municipal. Esse sentimento tem sido possível e desejado, com enorme mérito do actual executivo. Este ano, por exemplo, a mão foi estendida ao vereador Ricardo Valente a quem inteligentemente foi atribuído um relevante pelouro.
7.
A Baixa. Está intimamente relacionada com tudo o que disse (dinâmica cultural, o destino Porto, a higiene, a abertura). A Baixa do Porto já saiu do controlo. E se a Câmara Municipal tem pouco a ver com o que os milhares de privados decidiram fazer, é justo reconhecer que soube tirar partido desse fenómeno. Com eventos, com agenda e sobretudo com o alargamento da área relevante da baixa (numa lógica de disseminação e contaminação).
8.
Finanças. Quem olha para o orçamento municipal para 2017 percebe que a Câmara está a fazer um excelente trabalho sob o ponto de vista financeiro. O aumento expressivo do investimento, conjugado com a redução dos impostos municipais, é uma lição que me orgulha.

Aspectos menos positivos:

1.
Pouca dinâmica na manutenção da rede viária. Não obstante o «movimento» mais intenso dos últimos meses, continuo a achar que a pequena manutenção ficou aquém do necessário e possível. Não estamos a falar das grandes obras, mas simplesmente das reparações de buracos e de repavimentações. Conseguiria, sem esforço, nomear dezenas de ruas (da zona ocidental à oriental) que carecem de manutenção. A ver se este último ano me apaga esta crítica!
2.
A paisagem por recuperar. Se em cima, nos aspectos positivos, destacava o enfoque na zona oriental, também terei de a destacar nos aspectos menos positivos. Passaram 3 anos e a assustadora porta de entrada da cidade que é a Estação de Campanhã continua incólume no seu terceiro mundismo. Os acessos, o asseio, o aspecto geral, são demasiado penosos. O acordo do Porto – que garantirá verbas para o novo terminal e demais investimentos previstos – teima em transitar dos anúncios para o terreno. E é urgente! E, já agora, pergunto também pelo Parque Oriental – para quando o seu crescimento para que se possa afirmar como polo de lazer e de atracção numa cidade que tem de ser territorialmente mais equilibrada?
3.
O prado do repouso. Tal como Campanhã - aliás, o prado do repouso é na freguesia de Bonfim e quase na de Campanhã - é um local de enorme frequência e que marca para muitos a imagem que levam da cidade. Os acessos e o asseio urbanístico até ao cemitério recomendam uma intervenção prioritária da Câmara.
4.
Palácio de Cristal. Sou suspeito porque tenho naqueles jardins e naquele pavilhão um canto a que gosto de voltar muitas vezes. Há ali demasiado potencial por explorar. E o estado do pavilhão - para multiusos ou centro de congressos - é triste. E mais triste é não perceber para quando uma intervenção da Câmara passados que estão 3 anos e depois de tanto debate.
5.
Alguma sobranceria. Não consigo fugir ao tema. Reivindicamos há muitos anos uma liderança que nos represente, que tome as nossas justas dores, que o faça com rigor e seriedade. Se é certo que Rui Moreira interpretou bem essa sua missão e até logrou escalar a difícil barreira mediática, é também importante advertir para os momentos dispensáveis que protagonizou. Não gostei do despique com o Alcaide de Vigo, até porque Rui Moreira tinha razão. Tem de ser superior aos seus ímpetos verbais, sobretudo para que não perca a razão que tem.
6.
Trânsito. Não sei o que se passa. Se é por haver mais carros, se é pela sincronização dos semáforos ou se é pela organização viária (que tem sofrido algumas alterações). O que sei é que o trânsito está caótico e piorou muito neste último ano.
7.
Equipa. Falta músculo para lá do presidente. A saída inesperada de Paulo Cunha e Silva - com o seu protagonismo e espaço próprios - não ajudou com certeza.

Conclusão:

Venho fazendo uma avaliação global francamente positiva. Passado mais um ano reitero animado essa avaliação. Mantenho o espírito crítico porque gosto de ser exigente. Mas é justamente por ser assim que não hesito nos elogios e, com honestidade, procuro apontar o que julgo não estar tão bem.
Sei também que há muitas mais razões para elogiar. E haverá explicações e atenuantes para as críticas que faço (não é possível ir a todas, dirão com razão).
E há ainda um ponto - que só serei capaz de avaliar no final - que é a área da economia e do emprego. No fundo, os dados da atracção de investimento. Suspeito que será o «prato forte» quando olhar para o mandato. Ainda bem!
Por mim, continuo a acompanhar, a viver e a vibrar com o Porto que tanto amo.

#Escritório
#Salaodevisitas

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Desabafo

Porque me magoas? Vivo contigo há tantos anos!
Tomamos o pequeno-almoço juntos. Vivemos aqueles momentos a sós antes de me deitar. E sabes que não dispenso o teu calor.
Gosto mais de ti branca, sem adereços e simples. E eu sei que se te ignorar e não for meigo contigo até deitas fumo!
É por isso que te ligo como mereces. Com cuidado, sem violência e sem me distrair.
Chego a ser eu que te faço a higiene mais íntima e te tiro as migalhas desta vida!

Porque teimas em me queimar? Porque não deixas os meus dedos em paz, torradeira?

#Cozinha


terça-feira, 18 de outubro de 2016

De Brugges

1. Em Brugges como em Leicester. De repente, a 25 minutos do fim, começamos a jogar. Só que o Brugges não é o Leicester. Felizmente.
2. Mas o Porto não é isto. O Porto come a relva do início ao fim. Pode não jogar bem os 90 minutos. Mas quer ganhar desde o primeiro.
3. Do banco não ver o evidente gera-me imensa intranquilidade. E começam a ser vezes demais.
4. O Porto ganhar fora na Champions é um laivo de normalidade que me sabe mesmo bem..

#Saladejogos

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

O orçamento da desilusão e do alívio

A esquerda e a direita (tomemos por bons estes chavões para identificar sobretudo o CDS e o PSD, de um lado, e o PS, do outro) estão mais sintonizadas do que se imagina. E nunca, como neste orçamento, essa sintonia foi tão evidente.
Desde logo a comunhão de expectativas. À direita germinava a percepção de que o Orçamento do Estado para 2017 seria o momento impossível. À esquerda, por sua vez, tinha-se consciência de que seria um exercício a raiar o impossível. Aos primeiros correspondia um sentimento de esperança e apreensão. Aos segundos também de esperança e apreensão.
Com a apresentação da proposta na passada sexta-feira, mais do que críticas ou loas de substância, o que vemos é desilusão ou alívio em face daquelas expectativas. À direita por aquele impossível afinal ter sido possível (com tudo o que isso representa). À esquerda por aquele quase impossível afinal ter sido possível (com tudo o que isso representa).

Pode parecer mas não estou a fazer nenhum jogo de palavras. Ninguém, no seu perfeito juízo, gosta deste orçamento. Ninguém, no seu perfeito juízo, faria muito melhor.
Propaganda à parte, que governo gostaria de criar um novo imposto? Que governo gostaria de adiar o fim da sobretaxa? Que governo prefere fazer aumentos e acertos simbólicos em lugar de os fazer com relevância e efectivo impacto?
O discurso do gradualismo (da direita) versus o aceleramento da devolução de rendimentos e da revogação dos cortes (da esquerda) não é substantivo nem real.
O espartilho orçamental em que nos movemos colectivamente potencia a demagogia no discurso mas não esconde o essencial – em face das exigências de que não abdicamos, e pressionados pelo imediato, não conseguimos diminuir os altos níveis de tributação vigentes (seja nos impostos directos ou indirectos, gerais ou especiais, sobre o rendimento, o património ou o consumo). A direita ontem preferia ter tido margem para não subir galopantemente o IRS. A esquerda hoje preferia ter margem para baixar o IRS que ontem subiu. A direita ontem e a esquerda hoje preferiam não ter de recorrer a regimes especiais de regularização de dívidas para arrecadar desesperadamente receita. E a gestão mais apertada da despesa do Estado – as famosas cativações – não são um exclusivo de nenhum dos lados e não emanam de qualquer convicção ideológica (e estou convencido que é um desporto mais praticado à esquerda, por muita paixão e amor que esta coloque no discurso sobre o estado social e os serviços públicos).


Claro que há questões técnicas dispensáveis e mesmo condenáveis na proposta de orçamento (a começar pelo atabalhoado adicional ao IMI). Claro que há opções simbólicas de governação (o modo como se encaram as escolas com contratos com o Estado). Claro que há opções com consequências (o caso da TAP e da gestão dos transportes públicos talvez seja o mais paradigmático). O problema, todavia, é que para lá do discurso não sabemos bem se poderia ser substancialmente diferente. E se pensávamos que por causa da esquerda do PS este não conseguiria – daí a apreensão que pairava – agora estamos reduzidos, sem convicção para lá dos slogans, à desilusão de uns e ao alívio de outros. Chega a ser infantil. Mas este é mesmo o orçamento da desilusão e do alívio.

#Escritório

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Adicional ao IMI?


Era mesmo preferível um imposto à parte. Transparente, puro e genuinamente novo imposto. Esta coisa de enxertar no IMI um adicional ao IMI com regras próprias (em alguns casos manhosas) só serve para confundir.
Só de imaginar como será quando me pedirem para explicar a tributação sobre o património em Portugal, até fico com os cabelos em pé.
Ninguém vai perceber que temos dois IMI’s. Um propriamente dito e outro adicional. Um que é devido por quem for proprietário a 31 de Dezembro e outro por quem for proprietário a 1 de Janeiro. Um verdadeiramente municipal, outro destinado ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (mas que se chama na mesma «municipal»). Um dirigido a cada imóvel, outro dirigido a uma soma de imóveis mas não de todos e com várias nuances. Um pago numa, duas ou três prestações (em Abril, em Abril e Novembro, ou em Abril, Julho e Novembro) e outro pago integralmente em Setembro. Já para não falar das ligações sub-reptícias ao IRC em matéria de deduções à matéria colectável. Enfim, um mundo de tecnicidades que não se recomendam a nenhum país que se queira fiscalmente estável e acessível (quanto mais a um país que precise desesperadamente de o ser).


Mais que um adicional ao IMI teria valido a pena um adicional de bom senso!

#Escritório

Orçamento do Estado?

Cada um estará a olhar para o seu bolso e a pensar - vou pagar mais?
Rico e pobre, interessado e alheado, leigo e especialista.
Deixem-me cá ver se vos ajudo.
Ora bem, teremos meia dúzia de mexidas nos códigos mais clássicos. Suspeito que mais por preconceito que por boa política (no IRS e no IRC). E mais duas ou três por necessidade envergonhada de receita, onde pontuam o tal DESPI, sobre o património, e o curioso refrescamento do sortido de impostos indirectos. É provável que inovem qualquer coisa nas regras do procedimento e do processo (seja qual for o governo, normalmente é aí que a incompetência e a chico-espertice costumam brilhar mais). E depois teremos alguns paliativos nas pensões (mais para o chavão político que para o bolso das pessoas). É basicamente isto.
Ah, querem saber se vão pagar mais não é?
Sim, sim. Directa ou indirectamente. Como diz o povo, tão certo como a morte.

#Escritório

terça-feira, 11 de outubro de 2016

À mercê do Florêncio

As declarações ufanas, quase todas  irracionais e até cómicas dos manifestantes armados (sim, quaisquer viaturas, nas mãos daqueles senhores, são autênticas armas, como se viu), não são novidade. A novidade talvez tenha sido o despudor colectivo, galopante e sem mediação, que é próprio de quem se julga impune.

O que me fica da jornada de luta (levaram à letra essa coisa da "jornada de luta" ...) é a cobardia, a conivência e a falta de comparência da autoridade do Estado. É assustadora a ligeireza com que os manifestantes decidem sitiar o aeroporto, não cumprir o percurso acordado com as forças de segurança e fazer sua a missão de vigiar os carros da UBER.

Deixarem-nos ao abandono e à mercê desta gente é tão ou mais assustador que as declarações do Senhor Florêncio e seus indomáveis pares.

#Saladeestar

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Não há perdão

Se há coisa que não me surpreende mas que lastimo - à direita e à esquerda - é a paixão com que se critica ou defende exactamente a mesma solução quase ao mesmo tempo. Sim, exactamente a mesma solução. Defende-se ou critica-se em função do autor da proposta ser ou não ser dos "nossos".

Percebe-se o incómodo do governo a propósito do perdão fiscal agora anunciado. Ele não é senão uma medida desesperada de arrecadação de receita. Mas é assim com este perdão fiscal como foi com o seu "irmão" promovido há 3 anos pelo anterior governo. E não vale a pena perder tempo com narrativas porque não é preciso conhecer os detalhes do diploma para saber que este e o de há 3 anos são iguais no que verdadeiramente interessa (perdão de juros e de custas para quem pagar dívidas fiscais).

Há de facto uma diferença. Os críticos de ontem são os apoiantes de hoje. E vice-versa. E essa diferença é hipócrita, é circunstancial e não é tributária de qualquer nobre convicção.
Apetece-me dizer - à direita e à esquerda - que a falta de memória e de contenção verbal é feio. E para isso é que não há perdão.

Já agora, apetece-me dizer também que abomino o modo como se pretende encravar, a propósito desta medida, o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Denunciar-se que a medida beneficia a GALP é o mesmo que sugerir que ela não deveria ser geral e abstracta e que, portanto, não se deveria dirigir a todos os contribuintes. É pura dialéctica política (no mau sentido). Eu defendo (em linguagem popular e demagógica) que estas medidas devem estar ao serviço de todos, das pequenas e médias empresas, das famílias, dos grandes criadores de emprego, de quem investe. Dizer que está em causa beneficiar o grande capital, a GALP, o sogro e o irmão do Secretário de Estado é dizer a mesma coisa. Mas é também feio e também não há perdão.

#Escritório