sexta-feira, 29 de abril de 2016

Separados à nascença

Os debates na Assembleia da República – tal como estão – fazem-me lembrar as informações de trânsito. Se forem gravados ninguém repara. Se forem trocados também não.
Vamos experimentar.
Presidente: Tem a palavra para um pedido de esclarecimentos o Sr. Deputado Jonas Galamba do Partido do Tempo Novo (PTN).
Deputado Jonas Galamba: Muito obrigado Senhor Presidente, Senhoras e Senhores deputados, a esta hora sinal vermelho na segunda circular, com fila nos dois sentidos. Nota para uma viatura parada na faixa da esquerda à passagem pelas Torres de Lisboa no sentido Benfica - aeroporto, e acidente no outro sentido na zona da rotunda do relógio. Na A2, acidente junto à primeira ponte do Feijó a provocar fila desde o nó do fogueteiro. E na A5, resistências desde o Estádio Nacional até ao túnel do Marquês.
Presidente: Tem que terminar Senhor deputado. Excedeu o seu tempo.
Deputado Jonas Galamba: Estou a terminar Senhor Presidente. Há ainda a registar no IC19 trânsito lento no sentido Sintra-Lisboa desde o Cacém até à Amadora, com fila no Estado Maior até Pina Manique. Ah, e um burro no meio da via na Calçada de Carriche que provoca fila desde Odivelas. Disse.
Aplausos da bancada do PTN.
Presidente: Tem a palavra para responder o Senhor Deputado Marco Antero Costa do Partido da Austeridade (PA).
Deputado Marco Antero Costa: Muito obrigado Senhor Presidente. Senhoras e Senhores deputados. Senhor deputado Jonas Galamba. Haverá ainda a registar o acidente na VCI, no sentido Arrábida – Freixo, com fila desde Bessa Leite até ao nó de Francos, e no sentido Freixo Arrábida, trânsito com resistência desde o Mercado Abastecedor e com paragem no nó da A3. No final da A28, trânsito lento na ponte sobre o Rio Leça com fila na avenida AEP até à Sidónio Pais e 5 de Outubro. Na via panorâmica em direcção ao Campo Alegre. E na A41, junto ao nó da A3, decorrem os trabalhos relacionados com o desabamento das vias de há 10 anos.
Aplausos da bancada do PA.
Estão a ver?
#Escritório

quinta-feira, 28 de abril de 2016

O Plano BÊ e o BE

Não vejo o jogo político-parlamentar do Governo por trás da fuga à votação do Programa de Estabilidade como um problema (e muito menos como uma surpresa).
Claro que o CDS – mais e melhor do que o PSD – faz muitíssimo bem em expor a fragilidade das esquerdas trazendo o assunto para cima da mesa e mostrando, para quem ainda não soubesse, quão envergonhada é a sustentação parlamentar do Governo PS.
E também acho que o Governo – e, com ele, o BE e o PCP – faz o seu papel ao evitar levar a votação um documento que teria um potencial de desestabilização perigoso e que não traria qualquer vantagem para o seu mandato.
Se quisesse resumir numa frase o desfecho deste episódio diria que já nem espaço há para uma boa hipocrisia, de tão transparentes que são as intenções.
O Programa de Estabilidade, pleno de generalidades, é para meninos e presta-se sem arte ao jogo político.
A sério vai ter de ser o OE 2017 (ou um eventual Plano B). Aí já não estarão disponíveis as divergências ideais. Ou aprovam ou não aprovam.
Mais do que o OE ou o Plano B quero é ver qual é o Plano BE (e PCP) para esse momento cada vez mais próximo. Sobretudo se as sondagens não recomendarem uma consulta popular.
#Escritorio

segunda-feira, 25 de abril de 2016

O homem

Várias vezes lhe invejei o virtuosismo. Chegava a irritar-me com a dependência que dele tínhamos. E impressionava-me os mil e um ofícios de que era capaz.

Ontem, como hoje, qualquer problema solta o desabafo "é preciso chamar o homem". Pode ser uma janela que fecha mal, um candeeiro que não acende, uma torneira que pinga, o estuque da parede que caiu, qualquer electrodoméstico éstico que não funciona. Até para carregar móveis mais pesados.
Ao leve sinal de uma pequena patologia ou necessidade em casa, lá se ouve um "é preciso chamar o homem".

Com tanta arte e dependência do homem, é impossível a qualquer rapazito não querer ser homem um dia. Só não é tão completamente assim porque, como com quase todas as ilusões de infância, o tempo encarrega-se de desfazer o mito. Percebemos que o homem tem vários nomes, que não é sempre o mesmo, que nem sempre é competente. O "é preciso chamar o homem" chega a ser uma forma de pôr fim à conversa (suspeita-se que a avaria não tem solução, não se sabe sequer que homem se há-de chamar, mas não apetece alimentar a conversa, caso em que o "é preciso chamar o homem" vem sempre a calhar).

Por muita concorrência que lhe ergam (a começar pelos imensos incentivos modernos do "faça você mesmo"), por muito que lhe apontem o preconceito sexista (ainda há espaços de convivência imunes à perseguição do BE), por maior que seja a ignorância sobre quem é o artista em concreto, "o homem" ainda é uma instituição.
Para mim não tem problema nenhum. Para quem tiver não sei que lhe faça. Ou então que chame o homem ...

#saladeestar

quinta-feira, 21 de abril de 2016

O homem que era um gimnodesportivo

De miúdo sempre ouvi o conselho de que a vida é para pôr a render. De parábola em parábola, de meditação em meditação, ficava-me uma síntese eloquente para a vida: deixa rasto.
Eu percebia o conselho. Era na base do não sejas de meias tintas, compromete-te, serve os outros, deixa uma marca (boa, pressupõe-se).
Não pretendo contrariar estes conselhos que trago de miúdo. E muito menos pretendo inventar uma doutrina barata e forçosamente foleira.
A verdade é que essa coisa do «deixa rasto» é uma miragem para 99,9% das pessoas. E dos 0,1% que deixaram rasto (rasto que se veja, que perdure para lá daqueles com quem conviveram) só uma ínfima parte é que fica a fazer parte do dia-a-dia dos vivos.
E mesmo desta ínfima parte dos 0,1%, a maioria deles perduram não pelo que foram, mas pelo que são.
Querem exemplos?
Aqui no Porto, se falarem em Marechal Gomes da Costa e perguntarem o que é, e onde é, ouvirão sem hesitações qualquer coisa como «é uma avenida ali para os lados de Serralves». Quase ninguém sabe quem foi o dito Marechal. Ou em Lisboa, todos saberão onde é, e o que é, o Saldanha ou a Fontes Pereira de Melo, mas quase ninguém sabe quem foram o Duque de Saldanha ou o Fontes Pereira de Melo.
Os melhores exemplos para mim ainda são os estádios por esse país fora. Tal como as avenidas ou as praças, não temos que dizer «estádio» antes do nome – basta o nome propriamente dito que toda a gente sabe do que estamos a falar. Onde vais? Vou a Barcelos ao Adelino Ribeiro Novo, ou a Aveiro ao Mário Duarte, ou ao saudoso Vidal Pinheiro (este era sempre antecedido de «o velhinho»), ou ao Estoril, ao António Coimbra da Mota (e não puxem por mim que nunca mais saio daqui). Já ninguém sabe quem são tão ilustres personalidades! Mas toda a gente sabe onde são e o que são! Essa é que essa.
Quanto a mim, mantenho o tal propósito do «deixa rasto». Já percebi que é vã a ambição de uma avenida, uma praça ou um estádio. Um grande pavilhão talvez seja difícil (só ao justo alcance de uma Rosa Mota ou de um Carlos Lopes – e que se não se tratarem ainda acabam demolidos como o Américo de Sá …).
Estou convencido que um Gimnodesportivo estará mais ao meu alcance. Não haverá, previsivelmente, conquistas históricas no meu gimnodesportivo (nem bilhetes de grandes eventos com o nome estampado). Mas já ficaria satisfeito se ouvisse um «gosto muito de ir jogar ao José Maria Montenegro». Ao gimnodesportivo, entenda-se (que o pai, o filho, o advogado ou o que for já ninguém vai saber).
O José Maria Montenegro? Sei perfeitamente. O gimnodesportivo.
#Saladeestar

terça-feira, 19 de abril de 2016

Pena

A longa sessão que nos foi servida pelos deputados brasileiros na votação do impeachment não salva ninguém. A emoção mais primária exibida sem pudor em cada declaração de voto – a favor ou contra – deixou-me com o pior dos sentimentos pelo povo brasileiro. Pena.

#Escritório

O Estado da Troika

Dizem que o Primeiro-Ministro de Portugal (sublinho de Portugal, e omito o partido de que provém, porque para este efeito não me interessa) devia viajar em voos comerciais e em classe económica, como fez inovadoramente o seu antecessor.
Lamento, mas não consigo acompanhar os indignados. Antes como agora, continuo a não desprezar o simbolismo da dignidade do Estado. É aí que se inscreve o pleno e adequado direito do Primeiro-Ministro a ter um avião ao seu dispor para as deslocações ao serviço do Estado.
O exemplo de frugalidade que deve vir de cima não se mede à custa da dignidade do Estado. Especialmente em anos de troika ou de protectorado estrangeiro. Ainda não somos o Estado da Troika.
#Escritório

Uma experiência eleitoral diferente

1. Pela primeira vez senti necessidade de ir ao Dragão para votar. E pela primeira vez não me senti à vontade no exercício livre do voto (o que não me impediu de votar como estava decidido a livremente votar).
2. Infelizmente, o ambiente dissuadia a livre opção. Não havia qualquer privacidade. Não havia sequer a opção pelo voto branco. Quem estivesse desconfortável e simplesmente quisesse não votar em ninguém não o pôde fazer sem que mil olhos o testemunhassem (a começar pelos dos máximos responsáveis).
3. Não é saudável que assim seja e não queria acreditar que era este o modo de funcionamento da democracia no meu clube!
4. Houve vários sinais interessantes (no sentido de surpreendentes), para lá da própria organização da jornada eleitoral. A Direcção e muitos dos colaboradores da SAD decidiram passar o seu dia à porta e na própria sala onde decorria o acto eleitoral. O modo como se mobilizaram é eloquente sobre a tensão que se sente entre os sócios. Até os SD se deram ao cuidado de divulgar um vídeo a apoiar a única lista.
5. A explicação sobre o sentido de alguns votos nulos é, toda ela, um programa (o que para quem se apresentou sem programa …). Por um lado, é caricata a necessidade do máximo responsável pelo acto eleitoral avançar com essas considerações. Por outro, o próprio presidente completar essas considerações, dizendo que muitos dos votos nulos foram incentivos à sua única candidatura, é também um sinal curioso. Eu senti embaraço alheio, devo dizer (para quê falar dos 21% quando se obteve 79%?).
6. Deixo no ar duas perguntas: se Pinto da Costa se apresentasse a eleições renovando os seus vice-presidentes (com outra lista nova) teria tido os 79%? Não terão sido esses tais «gritos» nos Boletins de voto um desabafo do tipo «gostamos de ti mas não gostamos de quem te acompanha»?
7. Pinto da Costa foi inequivocamente eleito. E por isso é o nosso presidente e comigo contará no que for necessário e no que eu for útil. Em democracia deve ser assim.
8. Não sei explicar, mas nos momentos difíceis, de tensão e de incerteza, gosto ainda mais do meu Porto. E por isso não me consigo desinteressar, não me consigo alhear, não consigo deixar de me entregar. E de sofrer. E também não consigo deixar de sofrer com tantas iniquidades.

#Saladejogos

sexta-feira, 15 de abril de 2016

BI

Não digam que não é importante. Para mim foi quase uma promoção. Era um dos símbolos da transição da quarta classe para o ciclo (acho que já não se chama ciclo ao 5.º e 6.º ano). No ano em que fazíamos 10 anos tínhamos de ser portadores (orgulhosamente portadores, por mim falo) do malogrado Bilhete de Identidade. Não sei se tinha a ver com a idade se com a inscrição no 5.º ano.
A odisseia começava com a ida ao centro comercial lá da zona – daqueles onde havia sempre uma loja de «foto tipo passe» – para tirar a foto garantidamente apalermada que nos haveria de identificar. Era essa, aliás, a foto que, qual praga, contaminaria tudo o que era documentos pessoais dos anos que se seguiriam. Como ficava mais barato pagar 8 ou 16 exemplares, arrumávamos o assunto das «foto tipo passe» por uns tempos. Quando penso na estupidez que era pedir uma grande quantidade da mesma horrível foto (da qual ficávamos reféns em tudo o que era cartões), penso mais no lado prático da coisa. Se era verdade que a foto era horrível (devem ser muito poucos os fotogénicos de passe) – o que recomendava replicá-la pelo mínimo – não é menos verdade que as fotos dos anos seguintes não corrigiam essa mala pata (a cada nova «foto tipo passe» ficávamos ainda mais horríveis e apalermados).
Resolvido o tema da foto, íamos (já não de mão dada, mas ainda com a nossa mãe), à conservatória do Registo Civil. Era um serviço genuinamente serviço. E portanto, aí experimentávamos uma longa espera (era uma espécie de estágio para as relações com os serviços do Estado ao longo da vida). Umas horas depois, lá saímos altivos, de dedo indicador borrado pela marca digital aplicada no cartão e ainda esticados pelo esforço que fizéramos para que nos marcassem uma altura que não envergonhasse (um metro vírgula qualquer coisa centímetros – ficava registado!). Das informações que constavam do BI (filiação, naturalidade, etc) orgulhava-me de todas (talvez me irritasse aquela coisa do Arquivo de Identificação ser de Lisboa – já nessa altura, com razão, pensava porque diabo uma coisa destas tinha que ir à capital e não se podia fazer logo ali).
O cartão do cidadão desfez todo este cerimonial. Passou a ser uma exigência para qualquer criança cujos pais a queiram fazer constar da sua declaração de rendimentos (por muito ridículo e injusto que seja o impacto no imposto a pagar). Já não exige a tão querida foto tipo passe. Até o dedo indicador passa higienicamente incólume. E – o que para mim é o mais grave – já nem pergunta pelo local de nascimento (de tão digital que é, ignora uma das informações que mais me identifica!).
Também não gosto do cartão do cidadão.
#Saladeestar

quinta-feira, 14 de abril de 2016

M de muito (se preferirem assim)

Só para avisar que não estou disponível para mudar nada no meu cartão de cidadão. Muito menos o sexo ou «género» como gostam de dizer (deixem lá ficar o «M» em paz). 

Sobre os outros

1. Gostava de ter sido eu. Claro que gostava.
2. Sei como é bom estar lá, como é fazer parte dessa elite, como é assim que crescemos (quer para lá quer para cá).
3. Não foram humilhados e bateram-se com brio até ao fim. Certo. Mas foi só isso. Nem sequer em casa levaram a melhor.
4. De repente, nem parece que foram eliminados. Dá a sensação que não ser humilhado é motivo de festejo.
5. Não estou a tirar de esforço. Mas ser grande tanto passa por ter aversão à humilhação como à mera eliminação. Por muito avançada que seja a fase da prova e por muito poderoso que seja o adversário.
6. Não estou a desvalorizar nada, até porque valorizo mais a vossa prestação europeia deste ano que as duas finais da Liga Europa que tanto festejaram.
7. Este ano as coisas descambaram de tal maneira para as minhas bandas que já nem me assistem maus sentimentos para fora. Felicitações desportivas!

#Saladejogos

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Stand on the right!


Há uns anos estava eu distraído a descer as escadas rolantes de uma qualquer estação do metro em Londres quando ouço por trás, em voz grossa e irritada, um sonoro «Are you unable to read???». Afastei-me, meio confuso, para deixar passar o senhor.
Interrompido na minha distracção, pude ver os vários avisos «Stand on the right», e perceber que não devia ter estacionado à esquerda.
Não estou irritado, nem quero devolver a grosseria do recado. Mas ao ver o Primeiro-Ministro estacionado nas escadas rolantes da estação do Metro de Lisboa hoje inaugurada lembrei-me do conselho.
Stand on the right!
#Escritorio

Onde estás, prima?

Não sei se te perdeste. Se estás a preparar uma entrada de arromba que perdurará para nosso deleite por Outubro e Novembro adentro. Admito até – numa explicação conspirativa (isto anda tudo ligado!) – que foste vítima das rotas que a TAP eliminou para o Porto (e estarás perdida numa ligação algures).
Nunca pensei sentir tanto a tua falta. Mas aparece de uma vez Vera!
#Saladeestar

terça-feira, 12 de abril de 2016

Parábola no Serviço de Finanças

Sempre me intrigou a parábola do filho pródigo. Ainda por cima a mais popular.
Não é tanto a leitura que dela nos recomendam que me intriga - como todas as parábolas, se nelas meditarmos sem preconceito, são inúmeras as ilações práticas e justas.
A minha resistência à parábola advém de nela se consagrar a condenação do «certinho», para promover à categoria de herói o «pândego e gastador» . Eu sei que o que se pretende sinalizar é o valor do arrependimento. E ainda o desvalor do «bem» meramente rotineiro. Mas a verdade é que sem o bem rotineiro do filho mais velho não haveria colo para receber o mais novo arrependido.
Sempre que vou a um Serviço de Finanças e me vejo de senha na mão atrás de uns quantos contribuintes - o que por ofício me acontece frequentemente - sinto a tentação de me ir embora qual filho mais novo. E só não vou à minha vida, gozar até ao limite, porque me pesa a responsabilidade do filho mais velho.
Reconheço que talvez falte a este filho mais velho um coração aberto e generoso no cumprimento do dever diário. Mas se fossemos todos filhos pródigos isto havia de estar bonito (já para não falar das coimas e execuções a que nos expúnhamos)!
Já perceberam. Mesmo com os meus momentos de filho pródigo (quem não os tem?), tenho tendência para o filho mais velho. O tal da fidelidade rotineira e sensaborona. E se é verdade que os momentos de rasgo, os impulsos que mudam a história, se fazem mais à custa dos arrependimentos dos filhos pródigos, não é menos verdade que são os filhos mais velhos que aguentam o barco e lhe asseguram a estabilidade para que não afunde (e nos poupam às coimas e às execuções ...).
Continuo na fila...
#Saladeestar

domingo, 10 de abril de 2016

Irmãos

A hierarquização do amor tem tanto de absurdo como de impossível. Há diferentes amores, há diferentes relações de amor e há naturalmente diferentes expressões de amor.
Mesmo em família, não vale a pena comparar o amor dos pais pelos filhos (porventura o mais incondicional de todos), com o dos filhos pelos pais (na hora justa, talvez o mais reconhecido e agradecido), ou com o amor conjugal (que emana da nossa escolha e se exprime na comunhão mais completa).
Os irmãos conhecem-se de sempre. No seu melhor e no seu pior. Sabem uns dos outros o que nunca os pais saberão e o que os maridos ou mulheres não têm nada que saber. Não fazem cerimónia entre si e partilham os orgulhos e os embaraços familiares.
Quando penso no amor de irmãos não penso nessa lógica impossível de saber se é o maior da nossa vida. Sei que é enorme. Que provavelmente é o mais transparente, mais genuíno e mais autêntico.
E, já agora, para mim é sobretudo indispensável.
#Jardim

sexta-feira, 8 de abril de 2016

A cultura da impunidade

1. Não me chocou, não me indignou e até me divertiu o caso da promessa de bofetadas.
2. Gostei ainda mais da conclusão da história.
3. Do que não gostei nada – nunca gostei e nunca haverei de gostar – é da presunção de superioridade moral e de impunidade que estão na origem destes tristes impulsos de João Soares e quejandos (até o ter escolhido o termo bofetada serve bem para representar o que digo).

#Escritório

quinta-feira, 7 de abril de 2016

O que levarias na mochila?

Não é bem suposto vivermos atormentados, mas de cada vez que penso no drama dos refugiados (e penso especialmente nas milhares de crianças órfãs que vagueiam por esses campos de lama, frio e indiferença) fico transtornado e quase bloqueado. Não posso largar tudo – afinal não posso, eu próprio, gerar mais órfãos – mas é criminosa a indiferença ao mais alto nível que este drama colossal suscita.

Há um ano a divulgação das imagens de um enorme naufrágio, com as pessoas a desaparecerem no mar, despertaram a nossa sensibilidade para o drama dos refugiados. Mas foi com a fotografia horrível daquela criança entregue pela espuma da maré que a nossa sensibilidade ficou genuinamente exacerbada. Era demasiado real e chocante para não gerar um impulso de disponibilidade, ainda que difusa.

Confesso que por algum tempo alimentei a esperança de que aquelas vidas não se teriam perdido em vão. Internamente, projectei essa esperança no processo eleitoral em curso e nos programas que cada partido então preparava. Achava que fariam eco do «bruá» colectivo que momentaneamente a causa dos refugiados experimentava. Foi curta e vã a minha esperança. A pobreza dos programas – de todos os programas – estava totalmente alinhada com o calculismo e o jogo político que os Estados exibem, sem pudor e sem humanismo, nos acordos e verbas que com pompa anunciam.
 
Enquanto tiver consciência farei um esforço para não me ser indiferente. E procurarei que à minha volta o sofrimento e a desgraça alheia nunca sejam indiferentes. Sei que só faço o mínimo – diariamente, ao deitar e ao acordar, junto-me aos meus filhos para pedir pelos que mais sofrem (especialmente as crianças como eles).

Mas apetecia-me fazer-me à estrada. E à pergunta «o que levarias na mochila» responderia tão simplesmente com «nada». Levaria os braços abertos para abraçar aquelas crianças abandonadas e apresentava-lhes a cara envergonhada para um enorme pedido de desculpas.

#Jardim

terça-feira, 5 de abril de 2016

Não foi só hoje

1. Miserável é pouco. Não correm, não querem, não se importam.
2. Podia ter sido o que vulgarmente se designa de "futebol". Mas não. Tem sido sempre assim.
3. Ninguém nos respeita. Os erros contra nós já nem a nossa indignação geram. E tudo e todos sabem explorar isso contra nós.
4. Não suporto os comentários e a realização da Sport TV. Não exibem as repetições óbvias, tratam-nos com deselegância e impõem-nos horários indignos.
5. Estamos isolados. Não estamos presentes em lado nenhum. Primamos pela ausência. Consentimos tudo - a marcação do jogo para hoje às 7h é um triste exemplo.
6. Danilo enorme. O único.
7. Não foi só hoje.

#Saladejogos

O líder Passos Coelho

Por motivos de força maior, não pude seguir o Congresso deste fim-de-semana em Espinho.
Segui, ainda assim, o discurso de encerramento de Passos Coelho.
Não consigo apontar nada ao discurso. Nem quanto ao conteúdo, nem quanto ao ritmo, nem sequer quanto à colocação da voz.
Parece fútil colocar as coisas nestes termos mas ao ouvir aquelas frases longas e graves - naquele porte imperturbável ornamentado pelo pin da bandeira na lapela - dei por mim desgastado a duvidar. A liderança vem da adesão. Da percepção de futuro. Da novidade também.
Pouco importará se é justo ou não é justo. Se há ou não há ingratidão. A política é, por regra, avessa a esses sentimentos - o que recomenda distanciamento pessoal.
A pergunta que faço, porventura injusta e ingrata, mas com distanciamento, é esta: Passos Coelho gerará a adesão, a percepção de futuro e de novidade de que o PSD tanto carece?

#Escritório