sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Bom ano

Tudo bem. As mensagens de «Bom ano» ou «Bom ano novo» são normais e não tenho nada a dizer.
Também me adapto a um «Feliz ano», embora não goste muito da expressão «feliz» conjugada com «ano».
Agora «próspero» é que não. Não me peçam para explicar mas «próspero ano novo» soa-me a rococó e piroso.
É como quando dizem «o meu esposo» em vez do «meu marido». Marido tudo bem, esposo não gosto.
Ou uma também típica (sem querer ofender ninguém). Não digam «o dia do meu aniversário» … digam «o dia dos meus anos». E fujam da mistura explosiva «feliz aniversário». Não tem explicação mas não fica bem. É como é.
Pronto. Não vou implicar mais.
O que queria dizer era simplesmente isto: tenham todos um Bom Ano de 2017 e esqueçam lá essa coisa do próspero (que não tem mal nenhum mas eu não gosto).

#Saladeestar

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Santo cansaço

- E então, cansado?
- O primeiro sentimento não é esse. Mas sim, cansado. Dorme-se pouco. 24 de um lado, 25 do outro, como é suposto. Com a viagem pelo meio e muitas horas à mesa.
- Mas não se esteve bem, não se comeu bem?
- Ah isso comeu. E bebeu. E bem. E muito. O que, por falar em cansaço, também cansa.
- Mas todos juntos e bem dispostos?
- Todos juntos, claro. Bem dispostos? Acho que sim.
- Porquê esse acho?
- Meu amigo, a distância entre uma birra e uma gargalhada é ténue. Tanto se peguilha como se abraça. De um minuto para o outro. E então nestes dias sem rotinas ...
- Então não correu assim tão bem.
- Correu. E quanto mais dias passam mais certo é que correu bem. Ninguém se lembra das pequenas birras. E todos se lembram dos abraços e das gargalhadas. Nós e as crianças.
- Imagino a confusão!
- Imagina mas não te aflijas.
- Desculpa, só me aflige essa das birras.
- Não te aflijas. Referia-me às crianças. Que dão mais sentido mas também cansam.
- Não sei se me revejo nessa ideia estafada de que as crianças cansam.
- Sabes que com as crianças é tudo muito relativo. Connosco também, é certo, mas o mundo das crianças é diferente.
- Como assim?
- Num mesmo dia – em qualquer dia – nós experimentamos nas crianças as birras e as ternuras, os gestos comoventes e os impulsos repugnantes, a serenidade e a impaciência. No Natal e nas festas em geral não é diferente. Talvez seja até mais exagerado.
- Percebo.
- Se as crianças nos induzem ao que há de mais genuíno e puro – e por isso, pela essência, chegamos mais facilmente ao que verdadeiramente interessa – elas também nos consomem e nos desviam dessa essência. Ninguém, cansado, perante uma birra, consegue pensar na maravilha do nascimento do Menino …
- Mas as crianças não passam o dia todo em birras …
- Pois não. E não é desses momentos que nos recordamos quando recuperamos as memórias destes dias. Pensamos no vinho que bebemos, nos doces que nos marcaram, nas conversas que nos uniram, na alegria de todos, na comunhão das saudades. E ficam-nos tantas outras fotografias. A dos presentes mais certeiros e mais infelizes. As dos semblantes deslumbrados das crianças – outra vez elas. A da gruta esculpida com arte e engenho para receber o Menino Jesus e toda a parafernália que o circunda no majestoso presépio (que voltou a deslumbrar, como se fosse a primeira vez). E mais, muito mais.
- Que sorte!
- Estás a ver? Já só me lembro do que correu bem, porque é cansado que corre bem.
- Então essa expressão cândida e até beata do Santo Natal não é um bocadinho forçada?
- Não. Não é. Um Santo Natal é isto mesmo. Santo não quer dizer que seja perfeito. Santo não quer dizer que seja indolor e sem cansaço. E sem birras. E sem presentes infelizes. E sem saudades. Não. Um Santo Natal é esta quase misteriosa amálgama de momentos que, quando recordados, têm o sentido próprio da família que se reúne. E insisto – as crianças cansam, não há como negá-lo, mas tornam o Natal mais Santo.
- Olha, santo cansaço!
- É isso.

#Jardim

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Não gosto da tua música então não gosto de ti

Parece que agora é esse o critério para se ser boa ou má pessoa e merecer ou não respeito no momento da morte.
«Já vais tarde», dizem os que não gostavam das suas músicas.
Deixa-me estar quieto e não pôr à prova a minha veia criativa (chego a ter medo da qualidade das músicas que não criei!).
Deus me guarde da brigada do bom gosto, que eu cá quero ser boa pessoa.

#Saladeestar
#Jardim

Silva Marques

Ainda me lembro daquelas tardes. Depois das aulas, sentado no sofá, o colo forrado de torradas num prato, regalado a ver o que dava na televisão.
Umas vezes era o Orçamento de Estado, outras uma moção de censura (que às tantas virava para moção de confiança), outras ainda o estado da nação. Entretinha-me e divertia-me com os directos da Assembleia da República. A oratória, o humor, a razão e o despudor. Os preparados e os atrevidos. Os talhados e os desajustados.
Lembrei-me dessas minhas tardes quando soube da morte do Silva Marques. E tive saudades.
Não sei se se lembram mas o Silva Marques foi um destacado deputado. Foi um dos que caiu em si quando percebeu que o PCP e o seu projecto político para o país eram um logro. E entre o PS e o PSD escolheu este último. Era, de facto, um senhor deputado. Por regra sentava-se na primeira fila, mas na cadeira mais à esquerda, de onde exibia o seu farto bigode, nó de gravata robusto e sorriso simpático. E tinha o que mais gosto nos deputados – eloquência inteligente e bem-humorada.

#Escritório

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Eu gosto

Gosto desta azáfama. Gosto do reencontro familiar. Gosto da casa pronta a receber. Gosto da loucura das decorações e das luzes. Gosto das cidades enfeitadas. Gosto dos espectáculos e da programação intensa. Gosto das músicas. Gosto dos balanços. Gosto dos postais, dos e-mails e dos telefonemas. Gosto das crianças ansiosas. Gosto dos pais sem mãos a medir. Gosto do frio. Gosto da lenha a arder. Gosto das declarações de saudade e amizade. Gosto da noite. Gosto do dia seguinte. Gosto das roupas mais arranjadas. Gosto dos presentes. Sim, gosto dos presentes. Gosto de dar e de receber. Gosto das montras. Gosto das lojas cheias. Gosto das ruas e centros comerciais apinhados. Gosto dos embrulhos. Gosto dos papéis berrantes. Gosto dos sorteios de Natal. Gosto das listas de compras. Gosto de ter de escolher porque os recursos são escassos. Gosto da confusão. Gosto do cansaço. Gosto das mesas cheias. Gosto do bacalhau. Gosto dos doces, especialmente as rabanadas. Gosto do copo de vinho. Gosto das conversas longas. Gosto das angústias e das alegrias partilhadas. Gosto da saudade. Gosto da generosidade. Gosto da ajuda a tantos que precisam. Gosto do mistério do presépio. Gosto da estrela e dos sinos. Gosto dos Reis Magos. Gosto de José e de Maria. Gosto do Menino Jesus. Gosto da missa de Natal. Gosto de rezar ao Menino Jesus pedindo por todos aqueles a quem tudo o que eu gosto é negado. Gosto de tanta gente.
Eu gosto do Natal.

Um Santo e feliz Natal para todos!

#Jardim

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

O prazer da inocência

Eu, que gostei de viver a inocência própria de cada idade, que me diverti com a «viagem» natural da descoberta e que tive espaço para a curiosidade, estou aqui. Firme e hirto.
Não. Aos 5 anos não me trataram como se tivesse 10. Aos 10 não me impuseram as ansiedades dos 12 ou 13. Aos 14 não me obrigaram a saber e a fazer como se tivesse 18.
E olhem que eu gostei. A sério. Tive o prazer da inocência, da descoberta, da curiosidade. Até o do pudor.

Não percebo porque negam aos meus filhos a liberdade desse prazer.

#Saladeestar

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Alma

1. Meus amigos, que alma, que vontade, que raça! Brinquem, brinquem connosco.
2. Contra tudo e contra todos sabe melhor. Não deixa de ser escandaloso. Mas se é para ser mais saboroso, estão a conseguir.
3. Marcámos 3 golos. Validaram 2. Mas os 3 pontos são nossos.
4. Eu nunca disse que o Depoitre não era uma boa contratação. Só ainda não sabia.
5. E pronto. Por agora, desejos de um Bom Natal.

#Saladejogos

Alma

1. Meus amigos, que alma, que vontade, que raça! Brinquem, brinquem connosco.
2. Contra tudo e contra todos sabe melhor. Não deixa de ser escandaloso. Mas se é para ser mais saboroso, estão a conseguir.
3. Marcámos 3 golos. Validaram 2. Mas os 3 pontos são nossos.
4. Eu nunca disse que o Depoitre não era uma boa contratação. Só ainda não sabia.
5. E pronto. Por agora, desejos de um Bom Natal.

#Saladejogos

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Mário Soares e eu

Sou um filho daquela marcante campanha presidencial de 1986. Cresci a cantar o «Prá Frente Portugal com Freitas do Amaral» por oposição ao «Soares é fixe». E senti aquela derrota eleitoral, à segunda volta e à tangente, como se de uma derrota do meu clube se tratasse. Na minha cabeça de criança empenhada tinham ganho os maus com um golo de penalti duvidoso nos descontos. Eram tempos ainda de ressaca revolucionária. E eu respirava um ambiente de facção que hoje compreendo, que terá sido quase inevitável, mas no qual não me revejo.
Com o tempo, com o distanciamento, com a maturidade (a pouca que a natureza me foi concedendo) desvaneceu-se aquela imagem simplista dos bons e dos maus. A política e a história sempre rivalizaram com o futebol na disputa pelo meu tempo de menino e adolescente. Sem esforço e sem mérito, tanto lia biografias políticas e programas eleitorais (programas eleitorais, imaginem!), como coleccionava cachecóis de clubes e bilhetes de jogos de futebol. Se no início os dois mundos até pareciam próximos, às primeiras leituras e aos primeiros pêlos na cara, comecei a duvidar, a relativizar e a contextualizar. Ainda com a voz a engrossar já conseguia valorizar politicamente o que antes diabolizara sem discussão. Reservei ao futebol a clubite que lhe é própria e ofereci-me à política com uma certa bonomia crítica e exigente. É desse exercício que nasce a minha «reconciliação» com Mário Soares, a quem logo reconheci uma rara capacidade para nos interpretar.
Não. Mário Soares não é essa figura impoluta e perfeita que muitos sustentarão. Tem de sobra episódios condenáveis. De facção, de traição e de jogo. E nunca foi tributário do meu voto. Mas foi demasiado importante num momento especialmente relevante e fundador do nosso regime. Não lhe devemos tudo, até porque não esteve sozinho. Mas à sua intuição, à sua coragem e insubordinação, e ao seu profundo amor à liberdade, ficámos a dever a nossa própria. Não é coisa pouca. Mas fico com a sensação que muito boa gente, porventura refém de uma certa «clubite de menino», ou não o sabe, ou não o reconhece ou não o valoriza. Mas devia.

#Escritório

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Títulos

Concordo. Em 87, com a Taça dos Campeões Europeus é que foi. Ou em Sevilha, no quente Maio de 2003, com a pesada Taça UEFA. E logo no ano seguinte, naquela cidade alemã de nome esquisito. A Champions! A Champions! A inacessível, a do hino, a exclusiva dos milionários! De 2011 guardo mais o percurso impoluto (como a reviravolta frente ao Villareal ou a retumbante vitória na Rússia). Mas voltámos a agarrar o canecão pesado (só nós!).
Concordo. São estes 4 que valem a sério. Que valem muito. Os tais da inveja – genuína, indisfarçável e própria da rivalidade.
Talvez se sobrevalorizem os outros títulos internacionais de um só jogo ou a duas mãos (as taças intercontinentais e a supertaça europeia). A verdade, contudo, é que os experimentámos. Os vencemos. Foram nossos. E justamente por causa daqueles que valem muito.
Há 12 anos levantávamos um desses canecos!
#Saladejogos

domingo, 11 de dezembro de 2016

Como se nada fosse

Ainda me lembro como era isso de ter uma gripe e poder curá-la convencionalmente. Na cama, sem ser convocado para nada, cumprindo e fazendo cumprir as prescrições clássicas (dormir, comer e beber na estrita medida do necessário, tomar dois ou três xaropes ou pastilhas e não ser incomodado).

Ai dói-me o corpo? Pesa-me a cabeça? Não me larga a tosse? Só me apetece estar na cama? Estou fraquinho?

Há por aqui por casa uns seres que não querem saber e passeiam-se como se nada fosse. Chamam como se nada fosse. Querem tomar o pequeno-almoço, o almoço, o lanche, e o jantar às horas certas como se nada fosse. Peguilham como se nada fosse. Fazem asneiras e desarrumam como se nada fosse. Até brincam connosco como se nada fosse.

Perdi algures essa coisa do direito a estar doente. Quer dizer, estou. Mas cá em casa é como se nada fosse.

#Saladeestar

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Sou parolo mas não me importo

Estou, definitivamente, do outro lado da barricada.
Achei muito bem o Pingo Doce na Marechal (na mesma avenida onde há escolas, bancos, bombas de gasolina, clínicas veterinárias, escritórios de advogados e de consultoras, e, até há pouco tempo, serviços da segurança social). Até dou por mim – não o escondo – a achar que ficou mesmo bem o tal Pingo Doce.
E também acho muito bem o Tourigalo na Fonte da Moura e o Continente ao lado da Cufra (na mesma avenida onde há de tudo – desde bombas de gasolina, lojas de tapetes, restaurantes baratos e caros, tascas, farmácias, jardins de infância, clínicas, sedes partidárias, salas de espectáculos, jardins, bares de noite e, pasme-se, supermercados!).
Lamento muito, mas em avenidas como estas, com tantas funcionalidades e espaços diferentes, não há critério de selecção que recomende negar a abertura de supermercados ou de restaurantes. Sejam eles gourmet ou populares. Caros ou baratos.
O critério, do meu lado, é mais simples. Em espaços descuidados ou devolutos, casas abandonadas há anos, dominadas pela marginalidade e pela vegetação selvagem, eu anseio sempre pela abertura de um Tourigalo ou de um supermercado. Para pôr fim a esse degredo. E, já agora, para minha comodidade.
Foi isso que aconteceu.
Chamem-me parolo da cidade que eu não me importo.

#Salaodevisitas

domingo, 4 de dezembro de 2016

A César o que é de César, à Europa o que é da Europa

Esta brincadeira - que é de uma brincadeira que se trata - de deixar a sorte da Europa entregue a disputas e motivações internas dos seus Estados é uma moda perigosa e que deveria merecer enérgica reacção da própria Europa.

O que se passa em Itália no referendo de hoje não é senão uma velha discussão interna sobre a sua organização política. A europeização dessa discussão nasce na insensata instrumentalização dos seus promotores que apostam no drama para assegurar a sua carreira. E alimenta-se da ideia (que é quase um desejo mediático) de que vêm aí os populistas e anti-europeístas.

Se em Inglaterra o tema ainda era a Europa, em Itália já só o era pelos temores populistas e pelo tal jogo de ameaças pessoais. Em ambos os casos, todavia, é triste ver a Europa reduzida a joguete e a bode expiatório às mãos de quem se arroga institucionalista e responsável (Renzi hoje, Cameron ontem).

O problema da Europa começa a ser não se dar ao respeito. De repente ninguém toma as suas dores. Ninguém denuncia alto e bom som: a César o que é de César, à Europa o que é da Europa!

#Escritório