terça-feira, 4 de julho de 2017

A taxa turística

Sou, por princípio, avesso à criação de novos tributos (porque os que temos são mais que suficientes). E no caso da taxa turística de que agora se fala para o Porto, não alinharei numa espécie de preâmbulo que se dedique a invocar a necessidade de chamar os turistas a contribuir para os serviços públicos de que beneficiam porque cá não pagarão impostos. Este argumento não serve nem é verdadeiro. Os turistas pagam e ajudam a pagar muitos impostos. Pagam o IVA dos seus consumos em hotéis, restaurantes, transportes, compras e tudo o mais. Contribuem para a solvabilidade e lucros de muitos negócios (e, portanto, têm a sua «quota-parte» no IRC e derrama municipal dessas entidades), propiciam a recuperação de património (com uma infindável lista de sectores de actividade e entidades – sujeitos passivos de imensos impostos –, directa e indirectamente beneficiadas). Não faltam transmissões onerosas de imóveis directamente provocadas pelo turismo (com as devidas receitas de IMT para os municípios), não cessam de aumentar os veículos dedicados e justificados pela actividade turística (mais imposto automóvel, mais imposto municipal sobre veículos, mais imposto sobre os produtos petrolíferos, mais IVA). E nem falo das receitas directas pela contraprestação que pagam em cada visita e utilização de serviços municipais e estaduais (como museus, salas de espectáculo ou monumentos). Enfim, a contribuição dos turistas para as receitas tributárias do Estado e dos municípios é incontestável e não é de pequena monta. Não serve, portanto, o argumento de que têm de ser chamados a contribuir porque, em boa verdade, já muito contribuem.

Já serei sensível à ideia de que, com respeito pela proporcionalidade, com uma taxa turística reduzida e não dissuasora, se logram alcançar importantes propósitos públicos. Ouve-se falar do combate ao desequilíbrio do mercado imobiliário nas zonas mais turísticas (tenho sérias dúvidas sobre a bondade de uma solução que passe pelo reforço do município como proprietário de habitação dirigida a esse conceito indeterminado que dá pelo nome de «classe média»). Ouve-se falar também da criação de locais destinados aos transportes turísticos (aí, já nada terei a obstar). E admito que se possam isolar outros fins (assim, de repente, ocorre-me propor que se destine a promover soluções de mobilidade como seja a do atravessamento pedonal do rio Douro – aqueles passeios no tabuleiro inferior da ponte de D. Luís são terríveis e em períodos mais concorridos instala-se o caos … e o perigo).

De todo o modo, anunciando-se uma taxa de € 2, reconheço que aquela preocupação de proporcionalidade estará acautelada. Ainda não estou totalmente esclarecido quanto aos fundamentos e aos fins. Mas, como sempre, estou aberto a estar.

By the way, não gosto nada da expressão «pegada turística». Sugere a ideia de uma epidemia a extinguir. Ora, pelo contrário. Devemos acarinhar o turismo nem que seja para não sermos acusados de ingratidão, que eu tenho memória de como estávamos há 10 anos (para não ir mais longe).

#Escritório
#Salaodevisitas

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