sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Como fazer?

Hoje é dia 25 de Agosto. Eu lembro-me bem do 25 de Agosto em que o Chiado se transformou num inferno de chamas descontroladas. Foi – com justa consternação – uma catástrofe que gerou a comoção nacional. Rezam as crónicas que «um residente e um bombeiro morreram, 70 pessoas ficaram feridas, mais de 300 desalojadas e outras duas mil perderam os locais de trabalho». Uma verdadeira catástrofe de má memória.
A cidade de Lisboa em particular, mas o país como um todo e, portanto, o Estado central, organizaram-se para reabilitar a zona ardida, recuperando os edifícios, as ruas e as infra-estruturas.
Menos de dois meses volvidos sobre a tragédia, o Estado criou o Fundo Extraordinário de Ajuda à Reconstrução do Chiado (FEARC) – ao qual sucedeu mais tarde o Fundo Remanescente de Reconstrução do Chiado (FRRC) – associando-lhe legislação própria, uma generosa dotação inicial do Orçamento do Estado e mobilizando os melhores arquitectos e engenheiros do país. Fez-se o que se devia fazer. Ter-se-á, porventura, demorado mais tempo do que o desejado (está-nos no sangue) mas não se deixou de dedicar a atenção e os meios extraordinários que um evento extraordinário exigia. Num Estado decente é assim que se deve fazer.

Estamos em 2017. Passaram quase 30 anos sobre aquele fatídico 25 de Agosto. Tivemos Pedrógão, Mação, Oleiros, a Serra da Estrela do lado da Covilhã, e tantos mais, especialmente no norte e no centro do país.
Já não sou capaz de saber quantas centenas de casas arderam – muitas delas de primeira habitação. Já não sei bem quantos hectares de floresta e de mato foram consumidos pelo fogo. Choro pelos muitos locais de trabalho que o fogo destruiu (medidos em fábricas e armazéns consumidos). Choro pelas centenas de feridos. E choro sobretudo pelas 65 pessoas que perderam a vida.
Quantos 25’s de Agosto já tivemos em 2017? Quantas catástrofes do Chiado vivemos e estamos a viver por estes dias?

Eu sei.
Pedrógão não é o Chiado e não fica em Lisboa (ou no Porto).
Mação não é o Chiado e não fica em Lisboa (ou no Porto).
Oleiros não é o Chiado e não fica em Lisboa (ou no Porto).
A Serra da Estrela não é o Chiado e não fica em Lisboa (ou no Porto).
O resto do país não é o Chiado e não fica em Lisboa (ou no Porto).

Mas o mínimo que se exige é o mesmo empenho do Estado central. No mínimo, o mesmo. Um Fundo Extraordinário de Ajuda à Reconstrução. Legislação Especial. Dotações expressivas do Orçamento do Estado. Um plano com os Sizas Vieiras da segunda década do século XXI.
Para que daqui a 20 ou 30 anos olhemos para Pedrógão, Mação, Oleiros, etc, com o orgulho com que hoje olhamos para o Chiado.

Num Estado decente é assim que se deve fazer.

#Saladeestar
#Escritório

terça-feira, 22 de agosto de 2017

A liberdade ainda é de todos

Eu por acaso não acho nada indiferente que um político se assuma na sua orientação sexual. A entrevista da Graça Fonseca ao DN tem interesse por várias razões (deixarei para o fim a parte da revelação sensação).

Desde logo é uma entrevista que nos dá a conhecer uma política (no sentido de sujeito) que pensa e fundamenta a sua própria presença na política, que tem sentido crítico, que revela elegância no modo como vê «o outro lado» e, especialmente, como se vai desviando das perguntas algo tendenciosas e desnecessariamente opinativas que lhe foram sendo colocadas. Fê-lo sempre com serenidade e fundamentação e em contra corrente com o tom populista e preconceituoso da entrevistadora – que subliminarmente lhe pedia a adesão que ela não dava (é interessante o modo como responde, sempre com contemporização, à generalização sobre o PSD, sobre o Partido Republicano, sobre o fenómeno racial, ou até como procura explicar o que sabemos das tendências do sistema de justiça no julgamento de estrangeiros).
Eu gostei da entrevista. Gostei de conhecer um pouco mais da Graça Fonseca.

Ora, com isto eu não estou a dizer que concordei com o que a Graça Fonseca foi dizendo, com as opiniões que foi expondo e a mundividência política que representou. Se bem interpretei a política Graça Fonseca, eu vislumbrei naquela entrevista alguém com quem eu me posso entender numa sociedade plural como a que defendo. E foi por isso que eu gostei da entrevista. Porque eu temo – temo mesmo – pela ausência de interlocutores disponíveis, de boa-fé, com fundamentação, nas diferentes facções do nosso espectro político.

Já quanto à revelação da sua homossexualidade eu repito. Não acho nada indiferente que um político livremente (e este livremente é intransponível) se assuma na sua orientação sexual. Para quem, como eu, acha que a avaliação de uma proposta de transformação política implica conhecer os seus protagonistas – o que passa por conhecer o seu carácter, os seus gostos, a sua mundividência – não é indiferente conhecer a sua história, nela podendo relevar a orientação sexual. E como há, por razões de maioria, uma presunção de heterossexualidade (não percam tempo a qualificar a presunção), essa revelação é mais pertinente no caso dos homossexuais. Não confundam – podem confundir, mas estarão a deturpar – com querer saber o que cada um faz ou não faz em casa (faço ouvidos moucos à curiosidade de sarjeta). Não confundam – podem confundir, mas estarão a deturpar – com obrigar ou esperar de uns o que não se obriga ou espera de outros. Não confundam – podem confundir, mas estarão a deturpar – com «proscrição» de uma orientação sexual face a outra.

Uma sociedade livre é mesmo isto. É também a assunção livre da orientação sexual. E é a liberdade de quem acha muito bem (a revelação e a opção) a saudar, quem não concorda a condenar, e quem acha indiferente a desprezar ou não ligar. Todos com a mesma liberdade pessoal. O que quer dizer – e este ponto é muito importante – que quem acha bem não deve «obrigar» aqueles que não concordam a concordar (com a revelação ou simplesmente com a opção ou com a sua promoção). Porque a liberdade ainda é de todos.

#Escritório

O regresso de férias (V)


Quaisquer dois dias de trabalho (quaisquer duas ou três horas ...) servem para destruir completamente o «modo de férias». A rotina (boa ou má) regressa com uma facilidade estonteante.
Porque diabo não é assim com o «modo de férias», que chega a demorar uma semana a conquistar completamente?


#Saladeestar

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

O regresso de férias (III)

E aproveitaste para dormir? A pergunta tem vários defeitos. O primeiro é o de assumir que dormir é sinónimo de descanso (claro que é, não vou negar o óbvio). Mas recuso-me a essa visão desinteressante do descanso. Eu não passo sem «descansar» à base de serões noite dentro, a conversar, a discutir, a ler, a rir, a beber um bom vinho ou uma cerveja bem gelada. E não vale a pena ter ilusões que não há como não roubar ao sono para conseguir … descansar.

E depois, esquecem-se de um pormenor relevantíssimo e inultrapassável. Podemos dormir bem nas férias. Aliás, convém que durmamos bem nas férias. Mas dormir mesmo bem, só mesmo depois das férias. Confessem lá. Há ou não há uma espécie de reconciliação no regresso à cama de todos os dias? É ou não é onde se dorme melhor?

#Saladeestar

O regresso de férias (II)

Há de certeza um conluio. Entre a EDP, as Águas do Porto, a NOS ou a MEO e, sobretudo, muito sobretudo, a Autoridade Tributária. Todas se organizam para nos enviarem extensa correspondência no clássico mês de Agosto. O conluio vai ao ponto – de certeza! – de se organizarem para saberem com rigor da data da nossa partida. Suspeito que as cartas são depositadas na caixa de correio no justo momento em que, depois de batermos a porta do carro e arrancarmos, desaparecemos no horizonte da nossa rua por uns dias.

E não fazem a coisa por menos – há que concentrar em Agosto aquelas cartas com prazos de pagamento muito curtos, garantindo-se assim o «doloso» incumprimento. E, claro, hão-de ser justamente aquelas contas que já só poderão ser pagas nas diversas instalações dos diferentes serviços.

Até já acho graça ao cerimonial. Fim do mês de Agosto. Encontros marcados nos serviços de água, luz, televisão, finanças. Ticket na mão. Bancos de espera todos ocupados. Ar condicionado pela avaria do ar condicionado. Cartas encarquilhadas na mão (secaram depois de terem estagiado molhadas na caixa de correio). Semblante meio envergonhado, ou não fossem encontros de devedores …

#Saladesestar

Regresso de férias (I)

Vivo os dias de férias (mais os primeiros, quando ainda não desliguei completamente, e o último, quando volto a ligar) com aquela pedra clássica no sapato. Aposto que deixei a luz da dispensa ligada. Aposto que a torneira da casa de banho dos miúdos ficou mal fechada e passou semanas a pingar e a gastar água. Aposto que deixei qualquer coisa na cozinha – ou o lixo por deitar no contentor, ou meia dúzia de batatas, ou um pacote de leite aberto – que infestou a casa com um cheiro desagradável. Aposto que os miúdos deixaram um qualquer aparelho electrónico ligado. Entre assaltos de pânico (não é bem pânico, é uma ligeira aceleração do coração) e suspiros de «que se lixe, depois vê-se» (não há outro remédio, temos de desligar, que não dá para passar as férias em sobressalto), a pedra no sapato volta e meia faz-se sentir. E não é propriamente agradável.
Chegou o dia. Levo a mão ao bolso. Selecciono a chave de sempre (caramba, como até sabe bem regressar aos banais objectos de todos os dias). Estou naquele momento em que a chave penetra e a faço rodar na fechadura (é o auge da tensão e da dúvida - como estará tudo? O que me será revelado por trás da porta?). Acendo a luz.
Sabe bem tirar a pedra do sapato.

#Saladeestar

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Insensibilidade e derrota

Assusta-me esta sensação de (já) ter de me impor uma reacção de horror e indignação perante o próprio horror.

Começa a ser assim. Com os incêndios (em Portugal). Com os atentados terroristas (ontem em Barcelona). Com o terrorismo de Estado (por estes dias na Venezuela).

O risco iminente de insensibilidade - que teimo em contrariar - são um triste sinal dos tempos menos bons que vivemos.

É verdade que a natureza humana é também capaz do melhor - e não devemos perder essa esperança e esse sentido de futuro - mas o alastramento do mal e do ódio não podem ficar por "minutos de silêncio" ou declarações de "solidariedade" (palavra quase vã neste nosso tempo). Ou bem que somos consequentes ao ponto de perceber que estamos mesmo perante um confronto de valores com conteúdo - e então lutamos pelos nossos - ou chegará mesmo o dia da insensibilidade. E da derrota.

#Saladeestar
#Escritório

sábado, 12 de agosto de 2017

Diz que são férias (V)

"Caro Senhor Montenegro, muito obrigado pela sua estadia. Agradecemos que o check-out ocorra até às 10h."
Não há maior anti-clímax das férias que este aviso (ou esta ameaça, para ser mais rigoroso). Passamos dias e dias a conquistar hábitos e horários justos (asseguro que deitar tarde e tarde erguer é saudável), e quando a coisa está bem oleada lá vem a ameaça que estraga tudo. Eu já não gosto da operação "desmontar a tenda" (custa-me mais que fazer malas de partida para férias e muito mais que carregar o carro). E gosto ainda menos de viver esse momento violentando o sono e a harmonia biológica criada ao longo de dias de descanso. E a verdade é que esse dia é sempre precedido de uma noitada de descrição quase proibida (ainda hei-de tentar perceber por que raio os astros se conjugam invariavelmente para que a véspera seja exigente...).

#Saladeestar

Diz que são férias (IV)


Uma noitada. Uma tem de ser. Mas onde? Qual? Como?
Não interessa. Uma noitada tem de ser. Somos mais de 20. Todos bem resolvidos. Onde formos e quando formos, pintamos a manta. Nem é preciso muito. Não há melhor combustível que a vontade - quase fome - de ir. E o grupo de sempre é um aditivo imbatível.
E depois, como é?
É o costume. Regada a gins e a finos, a entrega é total. O DJ fica convencido que é um génio (nem imagina quão fácil é a missão!). E as horas galopam noite dentro ao som de abraços e risotas cada vez mais fáceis. É sempre assim. Mas é tão bom!

#Saladeestar

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Diz que são férias (III)

Os últimos dias são por regra dias de consumite aguda lá por casa. Meninos, comam os gelados! Meninos, comam os iogurtes! Meninos, bebam sumos! Meninos, comam, bebam, comam, bebam!!!
Depois de vários dias de normal parcimónia (é importante regrar os apetites dos petizes, e gerir o frigorífico com um mínimo de ordem), chegamos aos últimos dias com o propósito inverso. Pouco interessa a coerência (e quase até a educação dos miúdos). Já só interessa não deixar nada no frigorífico para não ter de carregar sobraa de mercearia no regresso. A vida é sempre muito complexa.

#Saladeestar

Diz que são férias (II)

Sempre achei curiosa a tensão a que os casais se expõem nos momentos clássicos de partida e de regresso de férias. E, como que numa espécie de osmose de coerência, a essa tensão junta-se a birra do mais pequeno, a asneira do mais velho e a mimalhice exacerbada da do meio. Tudo em absoluta harmonia, num concurso de stress e confusão. Não sei explicar mas até já acho graça ao fenómeno (o que é meio caminho andado para o contrariar).

#Saladeestar

Diz que são férias (I)

Há a operação malas. Há, depois, a inevitável operação "carregar o carro". E, claro, há os sacos e saquinhos que minam a operação (a mala do carro até fechava sem que se visse um único saco por cima da tampa!). A distância para a condição de carro de feirante é curta e há-de haver sempre um saco (ou dois ou três ou sei lá quantos mais) que nos impõe a rendição. Nunca na vida vamos de férias com classe e com ordem ... mas é mesmo assim.

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quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Mega felizes e sempre fixes

Não foi nada de especial. Quer dizer, não foi mau, mas não foi nada de especial. Éramos todos amigos, esteve-se bem, mas não foi memorável. Foi simplesmente normal. E ter sido normal não tem mal nenhum.
Mas estejam descansados. A meio lá tirámos a fotografia. Abrimos o nosso melhor sorriso (como se alguém tivesse contado uma anedota). E já não sei quem é que ficou de editá-la (para disfarçar o pouco bronze de alguns).
E estejam descansados também que mal seja publicada a foto vamos lá todos, disciplinadamente, pôr like (há quem esteja a pensar em pôr um coração). E já distribuímos os comentários por todos. A mim, por exemplo, coube-me um «Top, Top, Top!!!», à Ana (a que vai pôr o coração), ficou destinado «Mega jantar! A repetir!», o Miguel (como é típico dele) vai comentar com «Grandes vinhos! Grandes Risotas!», e o Manel ficou de escolher uma private qualquer (tem que ser qualquer coisa que sugira uma piada que só os que lá estiveram compreendem, mesmo que não seja verdade).

Tudo menos passar a ideia que foi um jantar normal, que nós cá queremos fazer parte do grupo dos mega felizes e sempre fixes!

#Saladeestar