quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Belmiro de Azevedo


Nunca o vi, ou nunca o reconheci, por ser «o mais rico» ou «dos mais ricos». Essa circunstância – que é mesmo circunstancial – não é necessariamente sinónimo de especial virtude. E não é justo ser o epíteto no obituário de um homem como Belmiro de Azevedo que, sendo rico (era com certeza) não vivia à sombra dessa condição de privilégio.

Sempre identifiquei Belmiro de Azevedo como um homem da indústria, da gestão e dos negócios que, de facto, inovava, investia e gerava empregos. Muitos. E em Portugal.
E tendo-o feito sempre a partir do Porto e do Norte – quando, porque infelizmente se tornou numa opção mais exigente e incómoda, eram cada vez menos os que o faziam – eu tendo a valorizar mais o seu legado. Não são frases feitas. Qualquer exercício serve para demonstrar a importância social que protagonizou. Um pouco por todo o país, a Sonae e o respectivo universo empresarial representou e representa muitos milhares de postos de trabalho. Lugares qualificados (onde escasseavam) ou menos qualificados. E no Porto, em especial, quando olhamos para a nossa família, para os amigos, para os conhecidos, serão muito poucos os que passaram «à margem» da Sonae e das empresas do universo empresarial representado por Belmiro de Azevedo. Se não fomos nós próprios, foram os nossos pais, ou irmãos, ou cunhados, ou primos, ou amigos, ou simplesmente conhecidos.

Como se não bastasse, o seu ímpeto empresarial foi tão amplo, transversal e até original, que sentimos a sua marca no desenvolvimento de Portugal. Essa marca é também a do desafio. Ao seu círculo próximo de colaboradores, aos seus colaboradores em geral, aos seus parceiros, aos seus financiadores, consultores, advogados. E, de um modo peculiar, ao poder político. Não serão poucos os que, para lá do próprio potencial, devem a qualidade das suas carreiras, a sofisticação dos seus conhecimentos e a projecção profissional, àquele desafio e exigência com que sempre viveu Belmiro de Azevedo. Seja dentro seja fora da Sonae.

A partida de Belmiro de Azevedo não há-de significar o abandono desta marca de vida. Até porque o seu estilo vincado, com enormes virtudes e com defeitos (naturais e discutíveis) permanece em tantos e com diferentes expressões e notáveis inovações (mais um mérito).

A riqueza da vida de Belmiro não se expressa num qualquer saldo bancário ou numa qualquer capitalização bolsista de referência. Ela mede-se por aquela marca. De investimento. De gestão. De muitos empregos criados. De independência do poder. De resistência a Norte.

Não houve (nem há) muito quem.

#Saladeestar
#Jardim

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Ajuda ao algoritmo


Não há dia em que no meu timeline do Facebook não me sejam exibidos «sponsored» homens de meia idade e sorridentes, com direito a um «antes» e um «depois» (a parte sorridente é no «depois»), exibindo com orgulho o seu novo e frondoso cabelo (eu percebo o orgulho e o sorriso, qual Bruno de Carvalho depois da operação de emagrecimento).

Num gesto de boa vontade, vou dar uma ajudinha ao algoritmo que me selecciona.
Tenho especial «queda» para gastar mal o dinheiro (deve ser essa a parte do algoritmo que me selecciona) mas, para o bem e para o mal, não tenho ansiedades sobre a minha condição estética (já sei que devia, escusam de se desgastar com piropos desdenhosos).
E se é certo que todos temos as nossas «quedas», a do cabelo, contudo, não é uma das que me assista (até ver). E mesmo que fosse, não tenho a certeza que o tónico mais mobilizador seja a imagem sorridente do Jorge Gabriel ou do Rúben Micael (é sempre um dos dois que me é exibido como exemplo de sucesso).
Revejam lá isso.


#Saldadeestar

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Bragança calls

Eu, por exemplo (já o disse várias vezes) acharia muitíssimo bem que o Instituto Nacional de Estatística ou o Instituto do Mar e da Atmosfera (só para dar dois exemplos) se «deslocalizassem» não para o Porto mas para Bragança ou para Faro, ou para a Guarda ou Castelo Branco, ou Braga ou Beja (para início de conversa escolheria Bragança).
Ah, claro, os trabalhadores não quereriam porque têm as suas vidas em Lisboa (onde é que haviam de ter as suas vidas?). Já sei. Porque é lá que têm a casa que estão a pagar ao banco, a escola dos miúdos, a sogra e a melhor amiga.

Desculpem lá. Haverá algum movimento de «deslocalização» (detesto a palavra «deslocalização») para fora de Lisboa que mereça a aprovação dos respectivos trabalhadores?
Haverá algum movimento de «deslocalização» que cumpra os estudos de eficiência económica que reivindicam (como se estivéssemos a falar de um problema de eficiência e de estabilidade)?
Haverá algum movimento de «deslocalização» que não contrarie de frente o critério da racionalidade de custos?

Se continuamos a colocar o problema nesse plano – no dos trabalhadores, no da estabilidade, no da racionalidade imediata dos custos (tudo critérios que sensatamente devem ser medidos) – anuncio-vos já as conclusões: qualquer serviço relevante do Estado é em Lisboa e só em Lisboa que deve estar e permanecer para todo o sempre.
O problema, meus amigos, é que há mais Portugal para lá de Lisboa (circunstância que, já sei, não gera qualquer leve rasgar de vestes).
Esse Portugal para lá de Lisboa merece a atenção, o investimento e a presença equilibradamente disseminada do Estado. Porque ao lado do critério da racionalidade económica e de custos, está o do equilíbrio do território. E – não tenho dúvidas – esse equilíbrio, para quem não tem vistas curtas, é condição para a dita racionalidade económica a médio prazo.

É também isto que iconicamente se joga nesta história da mudança do Infarmed para o Porto. E seria muito interessante e simbólico mudar por exemplo um INE (ou parecido) para Bragança (depois do «EMA in Porto» eu alinhava numa campanha «Bragança calls»).

PS. E não me venham com a ideia (aparentemente sedutora) de que não faz sentido deslocalizar serviços estabilizados em Lisboa. Que o que faz sentido é fixar de início novos serviços e entidades fora de Lisboa (e só esses).
Pois eu não concordo. Primeiro porque o nosso problema não é um problema de défice de Estado (já temos que chegue). O problema é mesmo o do excesso de concentração em Lisboa. E depois porque o Estado que interessa e que representa as áreas relevantes de actuação naturalmente já existe. E, portanto, ou bem que a descentralização se faz através desses serviços que «interessam» ou não vale a pena perdermos tempo.

#Escritório

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Sois uns meninos

Para lá dos soundbytes e de uma certa libertação infantil de uns quantos que desataram a carpir sobre o Porto e as suas pretensões (o que para aí estava reprimido! Chega a ser confrangedor…) vai ser muito interessante seguir o processo político e social de mudança da sede do Infarmed de Lisboa para o Porto. Aliás, já está a ser.
Não me interessa a motivação. Pode ser um rebuçado, pode ser um simples gesto político discutível, pode ser por impulso na sequência da candidatura à EMA. Pode ser o que quiserem que para a análise de fundo pouco me interessa. Porque o que me interessa agora é o facto. E o facto é que uma determinada organização do Estado fecha portas em Lisboas e transfere-se para o Porto. Olhemos desapaixonadamente para ele.
De repente, na voz dos muitos que têm voz, parece impossível uma decisão dessas.
O que vai ser das 400 pessoas e suas famílias (parece que serão 400) que estão em Lisboa e que terão que ir para o Porto?
E como é que é dos custos dessa transferência?
E o edifício onde funciona actualmente o Infarmed, qual o seu destino?
Dúvidas e mais dúvidas, argumentos e mais argumentos, ansiedades e mais ansiedades (certamente legítimas, não questiono).
Meus amigos, têm muito a aprender. Muito mesmo. E se quiserem venham aqui ao Porto que nós temos ampla experiência. São muitos quilómetros. Mais de 20 anos. Milhares de famílias e amigos. Experiências pessoais. Quase que se poderia dizer que é a história da nossa vida.
Fazem ideia de quantas vezes uma organização fechou no Porto e se transferiu para Lisboa?
Fazem ideia de quantas vezes edifícios da nossa cidade ficaram desertos e sem destino porque a organização que o ocupava fechou no Porto e se concentrou em Lisboa?
Fazem ideia de quantas famílias nossas se mudaram de armas e bagagens para Lisboa porque o emprego do pai ou da mãe fechou no Porto e se transferiu para Lisboa?
E fazem ideia de quantas vezes temos que ir a Lisboa porque o serviço que precisamos só pode ser resolvido numa organização instalada em Lisboa?
Como se ouve muito por cá nos nossos bairros, «sois uns meninos».

#Escritório

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

EMA in Porto (só mais uma achega)

Eu não alimentarei a discussão que inevitavelmente se ensaiará sobre o empenho do Governo, sobre a opção pelo Porto ou por Lisboa, sobre a sorte que teria tido a candidatura portuguesa se a estratégia tivesse sido outra.
Uma vez ultrapassada a polémica interna não há notícia de que o empenho de todos não tenha sido inexcedível. E isso é muito mais importante que repristinar polémicas vãs.
Mas gostava de deixar ainda uma nota. O Porto (e arrisco dizer, Portugal) precisava desta candidatura. Fez bem ao Porto passar por este exigente processo. Fez bem ao Porto ter de se apresentar na Europa perante tão competentes adversários. Fez bem ao Porto ter de cumprir um périplo diplomático a que não está habituado. Fez bem ao Porto ter de ser bandeira de Portugal numa importante disputa política europeia.
Na Europa e em Portugal o Porto precisava desta candidatura. E não tenho dúvidas que ganhou.


#Escritório

EMA in Porto

Não foi. Mas podia ter sido.
Neste «podia ter sido» (talvez seja mais rigoroso dizer «podia mesmo ter sido»), está parte da relevância desta jornada à volta da EMA.
Várias vezes duvidei.
Num primeiro momento – como todos – duvidei internamente (chega a ser caricato que as primeiras, e porventura mais injustas, dúvidas brotem dos nossos, de nós próprios).
Num segundo momento duvidei que ainda fosse possível apresentar-nos a ponto de olharem mesmo para nós. O nível de exigência do processo era quase incompatível com os timings com que nos vimos confrontados.
Duvidei, também, do cumprimento de alguns dos pressupostos. Não se trata propriamente de duvidar do Porto. Trata-se, antes, de sensatamente reconhecer que o nível de abrangência e de exigência não era manifestamente fácil de cumprir.

Depois, passei a confiar. Confiei nas pessoas que nos representaram e que cumpriram magistralmente. E confiei que só poderia correr bem. Como correu, devo dizer.
Porque o processo nos honrou (e deixará marcas). Porque, de facto, os resultados revelaram que o Porto é um destino muito competitivo e completo. E porque se desta vez não conquistámos a EMA (e eu não escondo que vibraria com semelhante conquista) estaremos na calha para projectos e sedes futuras (o passo foi dado, e no radar já se lê «Porto»).

Um abraço especial ao Ricardo Valente (a quem abraço por todos).


#Escritório

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Carta aberta pelo Interior (para quem a quiser ler)

Passou um mês.
Têm sido muitas as iniciativas de solidariedade a favor do interior e das pessoas afectadas pela tragédia dos incêndios. Mais ou menos institucionalizadas, mais ou menos formais, mais ou menos eficazes. Não podemos deixar de valorizar esse esforço e essa entrega de tantos.

O meu tema, contudo, é outro. É o mesmo, mas é outro.
Refiro-me ao interior. A esse interior exposto e abandonado. Que está à mercê da sorte porque já quase não há quem dele cuide. É um problema do Estado? Claro que é. Mas é sobretudo um problema de todos. Porque o Estado «surfa» sempre a onda que, no curtíssimo prazo, lhe convém financeira e eleitoralmente. E, por nossa causa, o interior não lhe convém.

Eu, sinceramente, ainda pensei que o trágico 15 de Outubro (para mais, depois de Pedrógão) gerasse em Portugal um sobressalto consequente e radical em favor do interior abandonado. Um mês passado – apenas um mês depois – constato que era vã a minha esperança.
O que aqui digo sempre direi (mesmo que possa prejudicar os meus próprios e comezinhos interesses de menino instalado, de menino da cidade e do litoral). E não o digo por alinhamento ou conveniência. Porque há matérias (claro que há) que não são de esquerda ou de direita. Esta, aliás, padece do mal oposto – o de não ser de ninguém.
Dispensarei meias palavras.
A luta pela resistência do interior (acho que devemos colocar a questão em termos quase de sobrevivência), continua a não merecer mais do que desprezo (meio disfarçado, mas desprezo).

Ou bem que há uma mudança de hierarquias brutal, com consequências radicais no plano da afectação dos recursos financeiros do Estado, ou não vale a pena perder tempo.
O Estado e as populações – aquele com estas, estas por causa daquele e vice versa – foram desertificando uma parte cada vez mais extensa do nosso território. Pois se as populações não podem ser coarctadas (e naturalmente desrespeitadas) na sua liberdade de partir, ao Estado não assiste – não pode assistir – essa bonomia e tolerância.

Por estes dias, o debate público é dominado pela necessidade de reconstrução de casas que foram consumidas pelo fogo, pelo esforço de recuperação de pequenas indústrias e empresas (e até de parques empresariais completos) que representavam muitos dos postos de trabalho vigentes no interior. Eu não concordo. Porque eu não posso concordar com um modelo de intervenção que se baseie na ideia de reposição da situação anterior aos incêndios de 15 de Outubro. É preciso muito mais do que uma mera reposição.
Sem esforço, sem estudo rigoroso (como gostam tanto de apregoar), sem eufemismos, qualquer um de nós consegue apontar o caminho. Vários caminhos. É preciso recursos? Claro. Muitos! Mas o caminho é tão claro que custa aquele discurso da reposiçãozinha.
Eu dou exemplos (remato à baliza, para usar uma expressão que todos entendem).
É urgente o regresso do Estado. Tribunais, escolas, centros de saúde, serviços de finanças, postos dos correios, centros de emprego, postos da GNR. O Estado, que desistiu do interior, tem de regressar para ajudar no regresso das populações.
Pois onde não há Tribunais não moram advogados e solicitadores, oficiais de justiça, procuradores e juízes. E respectivas famílias.
Pois onde não há escolas não moram professores e funcionários. E respectivas famílias. Pois onde não há centros de saúde e hospitais não há médicos, enfermeiros, auxiliares de saúde. E respectivas famílias.
Pois onde não há serviços de finanças, postos de correio, centros de emprego e postos da GNR não há funcionários do Estado. E respectivas famílias.
Pois onde não há nada disto não há restaurantes, lojas, empresas, pessoas. E respectivas famílias. Que justificam, por sua vez, aqueles Tribunais, aquelas escolas, aqueles centros de saúde e hospitais, aqueles serviços de finanças, postos de correio, centros de emprego e postos da GNR.

O regresso do Estado é urgente. É obrigatório. E pode e deve passar por serviços centrais do próprio Estado. Serviços como o Instituto Nacional de Estatística, como o Tribunal de Contas, como o Instituto do Mar e da Atmosfera e – já agora – como a anunciada empresa pública das florestas (no fundo, serviços do Estado «a sério», que podem e devem funcionar no interior do país).
É também urgente olhar para o território como um bem a cuidar. Não vale a pena teorizar muito. Basta olharmos para os quarteis dos bombeiros e para os postos da GNR do interior do país. Estamos a falar de quarteis e de postos da GNR que «cobrem» enormes áreas territoriais. Enormes e sensíveis. Deviam ser os quarteis e os postos mais equipados, com mais activos e com maior e mais competente capacidade operacional. Pois estão no extremo oposto. Os meios são poucos, estão obsoletos e não têm capacidade de resposta (naquele fatídico 15 de Outubro, lembro-me do relato de dois autotanques inoperacionais no quartel de bombeiros de Tábua, por exemplo, e vi dois jipes de combate avariados à porta do quartel de Vila Nova de Tazem). E se olharmos à GNR os militares são pouquíssimos e sem a mais pequena capacidade operacional (basta ocorrerem dois incidentes em simultâneo em duas freguesias vizinhas que é certo que uma delas não terá resposta). Insisto. Não vale a pena teorizar muito. É mesmo assim.
No domínio das infra-estruturas, também há todo um mundo pela frente. É indispensável dotar o interior de redes de comunicações de qualidade (internet e móveis) e de transportes de qualidade entre concelhos. Há que desenvolver um programa de reflorestação em grande (enorme) escala, com o predomínio de árvores comprovadamente não combustíveis, e em que serão incluídas espécies animais adequadas à flora a plantar. E este plano deverá passar também pela criação (não é no papel nem na lei) de parques nacionais devidamente infra estruturados, com guias profissionais , com fiscais preparados, com profissionais de manutenção e de limpeza (parques que caricatamente não fiquem inacessíveis ao primeiro espirro de neve!). E, naturalmente, um plano de recuperação da originalidade das nossas aldeias – muitas das quais com potencial para integrar a rede de «aldeias históricas».
Em suma, era mesmo preciso um plano global, de fundo, ambicioso. Não para recuperar o que o 15 de Outubro nos levou. Mas para inverter o abandono. Para relançar o equilíbrio do país, sem nos vergarmos ao estafado efeito spill-over que tudo justifica na capital e no litoral. Um plano para, em boa verdade, projectar o futuro.
Não há dinheiro, estarão a pensar em tom adversativo.
Há. Claro que há. Então não há?
Quando olhamos às manchetes, aos anúncios e aos orçamentos, vemos que há. Muito até. Vemos devoluções de mais de 1000 Milhões de Euros. Vemos redes de metros em Lisboa e no Porto a expandir. Vemos terminais portuários. E vimos estádios e «Expos». Vimos pontes e auto-estradas. Há dinheiro. Falta é vontade a sério. Se quiserem um slogan, falta interiorizar o interior. Aquele interior que não dá votos. Aquele interior que não cumpre os critérios estritos e curtos de racionalidade económica (ou economicista). Mas aquele interior que nos justifica e que temos de honrar.

#Escritório

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

O acantonamento da vida não é saudável

Nunca o escondi. Sempre o afirmei. Cada vez mais o sinto.
A defesa da vida (que em linguagem directa, passou e passa por não aderir ao aborto livre e, por estes dias, se traduz também na resistência à eutanásia) é uma causa tão séria como nobre.
Aliás, não tenho dúvidas que é uma causa justa – porque é de «justiça» que cuidamos quando um ser indefeso é protegido para poder viver, como é de «justiça» que falamos quando, num momento terminal, esperamos do Estado (pelo menos, também) respostas diferentes da «solução final».
Repare-se que os actos consequentes de quem milita ou reivindica a proeminência da vida são, em boa verdade, actos consensuais e naturalmente louváveis. A assistência a mulheres com dúvidas ou dificuldades, bem como a prestação de cuidados paliativos a quem sofre, não são – não podem ser! – matéria de facção, objecto de resistência ou de divisão. Estou certo que qualquer pessoa de boa-fé, mesmo que não se reveja num quadro de valores em que o da vida figura como prioritário, reconhece a justeza de uma sociedade que se organiza para prestar assistência a mulheres com dúvidas ou dificuldades, promovendo o nascimento dos seus filhos, e reconhece quão importante é dispormos de uma rede de cuidados paliativos ao serviço dos que mais sofrem.

Vistas as coisas assim é muito difícil compreender o acantonamento a que vão sendo votados os que se dedicam a estas causas. Nos partidos, nos media, e no espaço público em geral, quem ousa promover a causa da vida merece pouco mais que os mínimos olímpicos de cobertura e atenção. E mesmo essa cobertura, quando existe, é tendencialmente menorizante e pouco abonatória (o que contrasta com o tratamento de que gozam os que, com a mesma liberdade e legitimidade, militam em favor da liberalização).

Este fim–de-semana, por exemplo, organizaram-se caminhadas pela Vida. Aqui no Porto, no percurso pacífica e ordeiramente percorrido entre o Largo da Sé e a Praça dos Leões, não sei bem quantos seríamos. Talvez 400, 500, 600. Em números «sindicais», talvez milhares. Não sei. Sei que fomos ignorados. Que «nada aconteceu», para quem, pelos media, quis saber o que aconteceu. Qualquer acampamento político com 50 jovens. Qualquer manifestação com 5 ou 6 professores. Ou 20 ou 30 funcionários públicos. Ou 10 ou 20 enfermeiros. Um qualquer «desses legítimos números» consegue ampla reportagem, chega a lograr uma primeira página de jornal ou mesmo um directo na televisão. Nós, não.

É certo que estiveram lá mais que 50 jovens (não estiveram lá nessa qualidade, é verdade). É certo que estiveram lá mais que 5 ou 6 professores (não estiveram lá nessa qualidade, é verdade). É certo, também, que estiveram lá mais que 20 ou 30 funcionários públicos (não estiveram lá nessa qualidade, é verdade). E estiveram lá mais que 10 ou 20 enfermeiros (não estiveram lá nessa qualidade, é verdade). Ou então, talvez seja isso que nos falta. Invocar outras qualidades. Porque por muito absurdo que pareça, por estranho que seja face à representatividade que ainda lhe assiste, a militância da vida, pelos vistos, vive acantonada e não existe.

Temo sinceramente por uma sociedade, como esta, em que a defesa da vida é militantemente acantonada. Porque o acantonamento da vida não é saudável.

#Jardim
#Escritório

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

3 pontos


1. Jogo difícil. Adversário ultra competitivo. Nada previsível. Percebe-se bem porque foi “só” o segundo classificado do campeonato alemão.

2. Fizemos o segundo quando estávamos à procura dele. Não caiu do céu. Mas nem sempre, mesmo quando o merecemos e procuramos, o golo aparece.

3. 3 pontos contra uma equipa alemã num jogo de Champions são 3 pontos contra uma equipa alemã num jogo de Champions. E o resto é conversa.

#Saladejogos

Cumprindo Tourais

Nestes dias em que cumprimos com os nossos - e neste ano ainda mais especialmente - cá estamos.




#Jardim