terça-feira, 27 de março de 2018

O meu problema

O meu problema não é essa coisa do défice ser de 1 ou 3 por cento por causa de uma imposição do Eurostat. O meu problema não é o Governo ou a oposição terem ou não uma narrativa mediática, mais ou menos excitada, à volta do aumento ou da diminuição do défice (apesar de me dar gozo que não seja possível essa parolice do “melhor resultado de sempre” às custas de cativações manhosas). O meu problema também não é ser ou não ser importante cumprir as “metas europeias” (dou de barato que é, claro que é).
O meu problema - o meu verdadeiro problema - é que sou um contribuinte que paga a sua casa e alimenta os seus filhos com os rendimentos contados do seu trabalho, que todos os anos paga IRS (sim, pago mesmo), que suporta e liquida IVA, que pagou IMT e Imposto do Selo quando, com um banal crédito à habitação, comprou a sua casa, que agora paga IMI, que pagou Imposto Sobre Veículos (e mais IVA) na compra do carro de família, que paga Imposto Único de Circulação, que paga permanentemente Imposto Sobre Produtos Petrolíferos e Energéticos (e mais IVA) de cada vez que abastece o seu carro, que paga sei lá que tributos mais (porque volta e meia também bebe um copo de vinho ou um fino, uma Coca-Cola ou um Frisumo, e já sei que foram inventados impostos especiais para tudo o que mexe). O meu problema - sim, o meu problema - é que ao lado deste permanente e colossal esforço para respirar no meio de tantos impostos, sou confrontado (já sabia, hoje sou sobressaltado pela recordação) com um aumento do défice de não sei quantos milhares de milhões de Euros que foram necessários para acudir à Caixa Geral de Depósitos. Depois de não sei quantos milhares de milhões que se perderam com o BPN. E não sei quantos milhares de milhões que, directa ou indirectamente, se esfumaram ou esfumarão com o BES.
O meu problema é que estou farto que o meu esforço - o meu digno esforço - sirva para cobrir desvarios de instituições (públicas ou privadas), sempre com milhares de pornográficos milhões, onde medram administrações de génios, principescamente remunerados, em regime de alternância, de promoção recíproca e em círculo fechado.
Sinceramente, o meu problema ... é que estou farto.


#Escritório

Sem comentários:

Enviar um comentário