segunda-feira, 30 de abril de 2018

Ainda não

Vou ser franco. Não gosto desta festa. Não tem nada a ver com ser sonso.
Quando temos dois jogos e falta apenas 1 ponto (se os nossos rivais empatarem - o que nem é um resultado impossível - até pode nem faltar nenhum) seria absurdo não reconhecer que está próximo o momento. Mas eu não gosto desta festa.

Uma coisa é festejar uma vitória difícil e quase decisiva na Madeira (como também foi a da Luz há duas jornadas). Outra coisa é festejar um título que ainda não conquistámos. E uma coisa é festejar para dentro (entre os nossos) outra coisa é exibir para fora uma festa que ainda não se justifica. Ainda não. É esta a expressão.
PS. Apreciei (é quase um paradoxo) que o Porto Canal - sim o Porto Canal - não tivesse embarcado nos directos da chegada da nossa equipa ao aeroporto. É que “ainda não”.

#Saladejogos

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Memória ...


- Zé Maria?
- Sim?
- Não estás a ver quem eu sou ...
- ... mmmm ... 
- Católica?
- Ahhh ... (por favor diz o teu nome que eu não estou a ver e já estou a ver que não posso não estar a ver...)
- Alexandra...
- Ahhh Alexandra! Que é feito?
- Vivo aqui, quer dizer, metade do ano aqui.
- (boa, não percebeu que eu não estava a ver ... nem estou ainda...)
E tens estado com alguém? (procuro sinais, não desisti de corresponder)
- Olha, com a Marta continuo a estar. É das minhas melhores amigas.
- (Oh que caraças, quem diabo é a Marta?). Marta, sim, Marta...
- A Marta Pais.
- Pois, a Marta Pais. Sim.
(claro que continuo às escuras...).
- E o Pedro. Tenho falado com o Pedro.
- O Pedro não estou a ver (primeira vez que sou sincero).
- O Pedro Jota!
- Claro! O Pedro Jota! (não tive hipótese de ser sincero outra vez)
- Para onde vais que eu faço-te companhia?
- (estou tramado ... merecia uma reciprocidade genuína ... rezo por uma memória, só uma ...)

#Saladeestar

25 de Abril

Serei um filho do PREC e daqueles anos de governos provisórios e constitucionais de curta duração. Cresci ainda num país sob a tensão esquerda/direita e, mais do que esta, sob a disputa entre os que pendiam para as democracias ocidentais e os que torciam pela tutoria ou inspiração de leste.
Os amores e desamores pelo 25 de Abril, nos finais dos anos 70 e inícios de 80, eram-nos servidos em absoluto condicionamento. Porque a “liberdade” de Abril nunca foi nem a mesma nem uma só. Porque, paradoxalmente, o Abril celebrado era ostensivamente de facção. Porque na sua peculiaridade de revolução sem tiros e sem sangue, havia clubite e falta de magnanimidade entre protagonistas. Os “donos” - contraditoriamente “donos” - e os “vencidos” - como se numa democracia em que queriam estar (e construir) alguma vez fizesse sentido essa dor de vencidos.
No fundo no fundo, era Abril (esse mês substantivado) que teimava em não se cumprir na cabeça das pessoas. Era - interpreto hoje - a falta de adesão de uns, por um lado, e a resistência a essa adesão pelos que o celebravam, por outro.
O 25 de Abril - se genuinamente visto e sentido como uma viragem para a democracia pluralista, para a liberdade e para a abertura à Europa e ao mundo - sai defraudado se for de facção. Ele cumpre-se na justa medida em que quem dele não participou o celebre. Ele cumpre-se na justa medida em que quem dele participou celebre a celebração de quem dele não participou. Ele cumpre-se na justa medida em que cada um, livremente, o celebre ou não celebre.
Eu celebro. Porque a democracia vingou.

#Escritório

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Dos parabéns


O ponto de partida sempre foi a minha família. E, em boa verdade, nunca me libertei (nem libertarei) desse referencial.

Mesmo os meus grandes amigos – cujo mérito, quando lhes dou os parabéns, ainda é a minha memória – organizo-os por referência aos de minha casa. O Fulano faz anos no dia do meu pai. O Cicrano no do meu irmão mais novo. O Beltrano dois dias antes da minha irmã mais velha. E por aí fora.

Hoje repete-se. O  faz anos no dia da minha irmã Maria (que sorte, Zé, não podia ser melhor a referência!).

Mas nisto dos anos e dos lembretes, há qualquer coisa que não está bem.
Entre a nossa memória, a agenda (mais digital que física) e o ubíquo Facebook, não vencemos nenhuma manhã sem os avisos de «quem faz anos hoje». Há os que ignoram (e como são coerentes ou reagem esporadicamente, ninguém os toma por ostensivos). Há os que seleccionam (estes arriscam as suas relações com os mais melindrosos). E há os que disparam para tudo o que mexe (estes estão sempre bem). Eu, confesso, vou passando pelos três estados (tenho dias em que ignoro, tenho dias em que selecciono e tenho dias em que disparo para tudo o que mexe).

Mas o problema – que é mais intrusão que problema – não é bem esse. A memória e a agenda pessoal merecem-me todo o respeito. Já o FB, com os seus lembretes e lembretezinhos, abusa pá. Às vezes abusa.
«Hoje a Maria faz anos, felicita-a!», dizia-me.
Mas que raio tem o FB de se meter na minha vida?
«Hoje a Maria faz anos, felicita-a!» …
Então eu não sei??? Achas que eu não sei isso desde que me conheço? Por quem me tomas, pá?

Fico sempre a remoer quando o FB se intromete entre mim e os meus.
E só por isso, quase nunca (tenho os meus momentos de incoerência) correspondo ao desafio. E não felicito à vista de todos. Até porque podiam ficar a pensar que o mérito nem era a minha memória. Nem só de lembrete vive o homem.

#Saladeestar

quarta-feira, 18 de abril de 2018

O prazer das desoras


Naqueles dias em que «recolho» a desoras e nem tempo tenho para pensar – de tão assoberbado de trabalho, solicitações e compromissos – não há nada como chegar a casa.

Já não vejo os meus filhos (quer dizer, eles é que já não me vêem). Sou recebido pelo silêncio de uma casa a dormir (onde já se chegou, viveu a rotina do fim do dia, dos banhos, do jantar, do ir para a cama). Atiro-me para o sofá de pernas e braços prostrados (só não abro o botão da camisa nem solto o nó da gravata porque não faz o meu estilo).

Nesses dias (ou noites) passo sempre por aquele desabafo interior do «que raio de vida esta», que me faz «preferir» a presunção dos afazeres «tão importantes» e que me nega liderar os momentos corriqueiros da rotina familiar.

Não dura muito esse desabafo desalentado. Naquele périplo pelas camas dos meus filhos – em que os vejo na serenidade do sono profundo – logo sou compensado pela sensação de «significado».
Vê-los serenos, enquanto lhes ajeito os lençóis e cobertores, é das sensações compensadoras por que passo na vida. Este pequeno prazer chega a ser paradoxal (porque supõe o regresso a casa a indesejadas desoras). Mas é muito bom.

#Saladeestar

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Normal?

1. Faltam 4 jornadas. Temos mais 2 pontos. A vantagem no confronto directo é nossa.
2. Jogo intenso, dividido e incerto. Ganhar um jogo destes com um golo aos 90 é um tónico que nos estava a faltar.
3. Ter sido o Herrera, com um remate impedioso, de braçadeira e mesmo a fechar a partida é mais do que justo. Não podia ser mais justo.
4. Há 5 anos, um jogo destes, a esta
distância do fim do campeonato, e com o carácter quase decisivo que tinha, seria normal conhecer um desfecho como o de hoje. Espero que o resultado de hoje seja o regresso tão desejado a esse Porto “normal”. Sem presunção, é isso que espero.
5. Nós - os adeptos - merecemos muito voltar a “viver” o Porto campeão. Muito mesmo. Mas ainda falta.

#Saladejogos

segunda-feira, 9 de abril de 2018

O sobressalto da chavinha

Volta e meia, no meio de arrumações (ou desarrumações) sobressaltam-me velhas cartas. Cartas mesmo cartas. Com selos carimbados em envelopes de tabacaria e moradas escritas à mão e tudo. Chego a reconhecer o remetente pela letra! E à segunda ou terceira linha reaviva-se a memória (uma viagem, uma novidade, umas velhas saudades que me eram sinceramente destinadas). Tenho saudades dessas memórias, claro, mas mais saudades tenho do sobressalto que já não vivo.
 
Aqueles momentos, meio desajeitados (tantas vezes de mãos sobreocupadas), em que procurava a chavinha que me haveria de abrir a caixa de correio, eram de sobressalto, de dúvida, de expectativa (a fragilidade daquela chavinha – que chegava a ceder quando manuseada com violência – era uma espécie de símbolo lógico). Na caixa de correio jaziam à nossa espera missivas de amigos, da família, da namorada. Podiam estar acompanhadas de correspondência convencional (sempre houve contas para pagar!), mas não era essa que motivava a nossa visita.
 
Hoje não. Continua a chavinha, é verdade. Com a mesma fragilidade, é também verdade. E as contas para pagar, ainda mais verdade. Mas mais nada. Zero sobressalto. Zero fragilidade (da que interessa). Zero «saudades».
As contas para pagar dominam hoje a nossa caixa de correio. E para quem não teve o zelo ou a paciência para aqueles avisos amarelos «Publicidade aqui não» pode contar também com mil e um folhetos de publicidade (digo folhetos, que não cedo aos «flyers») e propostas de compra (senhor proprietário, se estiver interessado em vender o seu imóvel ... blá, blá, blá). Já nem os convites escapam ao abandono das caixas de correio (qualquer «evento» no Facebook serve). Não há um abraço escrito, um beijo endereçado, uma lágrima pingada no papel. Não há sequer mão humana naqueles escritos.
 
Ao menos ainda vou tendo o sobressalto de velhas cartas. Qualquer dia sobrar-me-ão os sobressaltos de velhas passwords. Ou não. Acho que não.
Tenho saudades do sobressalto da chavinha.
 
#Saladeestar

quarta-feira, 4 de abril de 2018

A cultura e a cultura centralista

É sempre difícil, sob o ponto de vista político, discutir o financiamento público (ou apoio, talvez prefira este termo) à cultura. Não apenas porque os recursos são (e serão sempre) escassos. Não apenas porque a própria expressão cultural tem uma incontornável dimensão subjectiva. Não apenas porque há uma certa cultura de casta, de direito «natural», de exigência extremada. A dificuldade da discussão explicar-se-á por todas estas razões e outras mais. Talvez acrescente ainda algum preconceito, mais expressivo numa certa direita (que não a minha), que entende que a cultura, como qualquer outra indústria, se deve cumprir à luz das regras do mercado.

Eu gostaria que a discussão se pudesse fazer num clima de civilidade democrática, sem chavões e com racionalidade. Mas não creio que haja essa disponibilidade.
De todo o modo, sempre valerá a pena deixar dito (é o mínimo) que há determinadas expressões culturais, ou porque não são economicamente sustentáveis ou porque não existem, que devem ser apoiadas e fomentadas pelo Estado.

Não reconhecer a importância das diferentes formas de expressão cultural (a dança, a música, o teatro, etc), a indispensabilidade de uma rede de teatros nacionais e municipais, de Museus Nacionais e Municipais, de uma Casa da Música ou de uma Fundação de Serralves (para recorrer a exemplos que conheço bem), seria quase como negar que o mundo é redondo. E não reconhecer que é importante «deselitizar» o acesso à cultura é – isso mesmo – elitista (tristemente elitista).
Não tem a ver com o querer ser (ou parecer) cosmopolita. Se quiserem uma fundamentação política (que tem vingado no Porto) tem a ver com a ideia de que a cultura é também um importantíssimo instrumento de coesão social. E nem sequer entro com argumentos de identidade, de formação, de exigência.
Eu, por mim, passava à frente da discussão sobre a bondade da promoção e do financiamento público à cultura. Ela é óbvia.

A polémica destes dias à volta dos subsídios ou apoios plurianuais suscita-me um outro tema. Um tema gasto, cansativo e permanente. Não devia ser assim, mas é sempre assim.
O Lisboacentrismo é doentio, mina a confiança do país no Estado, e põe permanente e criminosamente em causa a coesão territorial. Não falo do Porto (para que não pensem o também cansativo «lá vêm os tipos do Porto com o queixume»). Falo do país. Do Algarve ao Minho, do litoral ao interior. A distribuição dos apoios anunciados não é distribuição nenhuma. Onde devia estar distribuição está concentração. E no sítio do costume. Independentemente dos critérios de atribuição em concreto (àquele ou a outro projecto, àquela ou a outra companhia de teatro, àquele ou a outro festival) o critério territorial é inaceitável.

Se há fenómeno que urge não apoiar (mesmo!) é este que nos sufoca e que dá pelo nome de cultura centralista.

#Escritório
#Biblioteca

terça-feira, 3 de abril de 2018

Sobre a Lei da paridade (ou das «quotas»)

Apetece-me dizer três coisas óbvias.
A primeira é que gosto de militar no critério do mérito.
A segunda é que uma lei de quotas ou de paridade trará dificuldades no preenchimento das listas. 
A terceira é que essas dificuldades, em determinados círculos eleitorais, e especialmente nos partidos pequenos, tenderão a ser impossibilidades (como atrair candidatas?).

E, já agora, apetece-me dizer uma quarta coisa. Ainda mais óbvia.
Não perderemos nada (nada!) com os candidatos – e os eleitos – que deixarão de o ser. 
Acrescento, aliás, que o «mérito» não sairá beliscado. E até antecipo que será cumprido…


#Escritório

Vocabulário triste, ridículo e perigoso


Há uma polícia (com demasiado poder) que se vem dedicando a controlar a nossa linguagem mais elementar e secular (e natural, não fujo ao termo).
Querem, à força, contrariar os sinais e expressões próprias das relações humanas e familiares.

De repente já não há poder paternal ou maternal. Há poder parental.
De repente já não há sexo. Há género.
De repente já não haverá mãe e pai (mãe e pai, vejam bem!).
Sem mais nem para quê agora querem impor o parente 1 e o parente 2.
Claro que há aqui um problema no 1 e no 2 (a hierarquização entre mãe e pai parece-me absurda). Mas o maior problema é que andam a violentar a natureza, querendo-nos impor uma linguagem pseudo neutra e politicamente correcta.
Esta erosão, metódica e constante, que vem passando pelos nossos mais elementares símbolos (agora é a mãe e o pai!) é completamente artificial e até caricata.
Estamos já a imaginar os diálogos surdos.
- Parente 1, posso ir a casa do teu parente 1?
- Quê, a casa da avó?
Ou
- Feliz dia do parente 2!
- Mas hoje é dia 19 de Março, ao que vem isso?
- É o dia do parente 2 (ou 1, como preferirem).
Se não fosse triste era só ridículo …
Mas, pelo que representa de imposição e de desestruturação social e familiar, é sobretudo perigoso.

#Escritório