quinta-feira, 28 de junho de 2018

Futebol e vinho entre Trump e Marcelo

Acho, sinceramente, muita piada às reacções geradas pelo encontro na sala oval entre o Trump e o nosso Marcelo.
Por várias razões, devo dizer.
A primeira delas é pela extraordinária versatilidade que aquele momento proporciona. Está ali um momento para quaisquer gostos e preconceitos.
Reparem bem.
Para quem gosta do Marcelo todo aquele diálogo serviu para os mais rasgados elogios. «Lição de história!», «Classe de Marcelo», «É assim mesmo, Portugal não é os Estados Unidos!». Já para não falar do à vontade e da postura em geral notável de Marcelo.
Para quem não gosta ou não é um indefectível de Marcelo o diálogo serviu para demonstrar o quão ridícula foi a abordagem. «Falar de futebol? Por amor de Deus!», «E de vinho?», «Não havia nada mais importante para falar com o presidente dos Estados Unidos?». Tudo aquilo foi ridículo e constrangedor.
Mas a versatilidade continua. Reparem agora.
Para quem não gosta de Trump a conversa foi uma ilustração lapidar do confronto entre um ignorante (Trump, claro) e o professor (Marcelo, naturalmente) – meteu lições de história, de vinho e de futebol, em que Trump sorria meio atarantado ante a sapiência e superioridade do nosso Marcelo (que até saiu vencedor do confronto do bacalhau!). Trump não estava preparado (aposto que nem foi «briefado» para o encontro).
Para quem gosta de Trump (ou talvez para quem não hostiliza Trump) o diálogo serviu para demonstrar a sua simpatia e disponibilidade (que é o presidente dos Estados Unidos da América, não esqueçamos o peso do cargo) para com o Chefe de Estado de um país como Portugal.

Não vou contrariar nenhuma das leituras. Estão todas certas, devo dizer. Afinal, é por essa razão que achei piada ao momento.
Mas e a segunda razão? Não eram várias as razões para ter achado piada?
Várias talvez seja exagero. Mas há uma segunda (a mais curiosa, devo dizer).
É que mantém-se o mito de que as conversas entre Chefes de Estado – os cumprimentos nas residências oficiais, nas cimeiras pomposas ou jantares – são sempre momentos de grandiloquência e profundidade. Continua meio mundo a achar que entre apertos de mãos para as fotografias, entre imagens de encontros frente a frente ou lado a lado com câmaras na sala, os protagonistas tratam das grandes questões do mundo, ponderam posições e opções delicadas e marcam a história para todo o sempre.
Não me levem a mal se vos desfizer a ideia romântica. Não. Naquelas ocasiões fala-se de tudo e mais alguma coisa com um único propósito: evitar silêncios, gerar expressões de boa disposição e passar a ideia de boas relações (ou propósito de boas relações, pelo menos).
E sim. Fala-se de futebol, de vinho, de meras curiosidades. Como pessoas normais (que às tantas até serão … outro mito ...).

#Saladeestar
#Escritório

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Fernando Guedes

Serão relativamente poucos os grupos económicos de relevo em Portugal. Desses grupos económicos também não serão muitos os que lograram internacionalizar-se ao ponto de se poderem dizer multinacionais. E desses grupos ainda serão menos os que se poderão afirmar de referência mundial na sua área de actividade.
A Sogrape de Fernando Guedes foi e é um desses raros exemplos. E o que é mais extraordinário é que essa referência que a Sogrape protagoniza se fez com os ingredientes que qualquer «business plan» rejeitaria.

A Sogrape baseou-se a norte, em Vila Nova de Gaia (baseou-se mesmo, não se ficou pela cosmética de uma sede simbólica, para depois instalar os seus administradores na cercania da Presidência do Conselho de Ministros). Criou centenas de empregos (mais e menos qualificados) quer no próprio grupo quer à sua volta. Insistiu num sector tradicional – o vitivinícola – emprestando-lhe uma dinâmica de organização e empresarialização notáveis. Olhou com olhos de ver para o interior e o seu território meio esquecido – enviando e atraindo profissionais, destinando investimento, criando estruturas de futuro. Lançou-se, depois, ao mundo (foi mesmo até ao outro lado do mundo!). E sempre a partir do improvável (e não simbólico) norte de Portugal. Eu, que não sou um especialista no sector dos vinhos (poupo-vos à graçola de que sou um especialista de copo na mão), fico sempre meio embaraçado (qual devedor perante o credor) quando olho para um legado como este.

Não sou muito dado a juízos de justiça pela morte (a frase feita de que a morte é muito injusta é sobretudo uma manifestação natural, humana e irresistível de incompreensão). Mas já sou dado a juízos de justiça pela vida.
É certo que, de um modo geral, foi dado algum eco da partida, aos 87 anos, de Fernando Guedes. Mas num país que faz capas com tanta gente – notável, seguramente – há uma justiça que fica por fazer. Nem que seja por comparação.
Podia dar o exemplo de Anthony Bourdain (o Pedro Boucherie Mendes dizia mais ou menos o que aqui digo ilustrando com o exemplo de Bourdain). Eu ilustraria com o exemplo do fundador do Lux (desculpem dizer fundador do Lux porque, ignorante como sou, e com todo o respeito, tive de ir ao Google para saber que se chamava Manuel Reis).
Fernando Guedes não «mereceu» as capas que os jornais ofereceram a Bourdain ou ao Manuel Reis do Lux. Esta mera constatação é todo um programa sobre o que somos colectivamente e sobre quem nos interpreta nos media.

Porquê que somos assim? Não sei. Talvez não houvesse capas que justificassem (que fizessem devida justiça). Talvez seja isso.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Questões verdadeiramente importantes


- O que é que interessa o Bruno de Carvalho ou o Lopetegui, ou as rescisões, ou a greve dos professores, ou o Kim e o Trump?
- Como assim, não são questões importantes?
- Não interessam nada, pá.
- Então o que é que interessa?
- O que é que interessa? Há questões que há dezenas de anos que estão por responder!
- Quais?
- Por exemplo:
Que outros Santos, para além do Santo António, se festejam em Lisboa no mês de Junho? Ai «vou aos Santos» - dizem todos - mas eu só os vejo a festejar o Santo António. Quem são esses outros Santos de que ninguém fala?
- Bem visto.
- E outra incontornável:
«Santo António já se acabou, o São Pedro está-se a acabar, São João, São João, São João, dá cá um balão para eu brincar».
- É uma música tradicional. O que é que tem?
- O que é que tem? Então o Santo António é dia 13 e antes do São João. O São João é dia 24 e antes do São Pedro. O São Pedro é dia 29.
Porque raio no São João se canta que o São Pedro está-se a acabar se o dia ainda nem chegou?

#Saladeestar

terça-feira, 12 de junho de 2018

Trump / Kim – é a Paz que importa

O «mas» que se coloca, a «reservazinha», a dificuldade ou mesmo desconforto em reconhecer o sucesso que é juntar os dois Presidentes – o dos Estados Unidos da Améria e o da Coreia do Norte – é todo um programa.
O embaixador Francisco Seixas da Costa – sempre tão interessante e tão bem documentado – logo veio lembrar (como quem diz que o acontecimento é só um bocadinho melhor) a visita à Coreia do Norte de Madeleine Albright em 2000. Talvez essa visita esteja ao nível da de Mike Pompeo (que já lá foi duas vezes este ano).

O encontro de Presidentes de hoje, por muito que queiram desvalorizar por ser Trump, é objectivamente importante para a pretendida Paz para a Península da Coreia e para a aquela região do mundo (e não tem «cromo para a troca»).
Para quem gosta ou pelo menos não hostiliza Trump também não precisará de exagerar com exigências do tipo «Nobel da Paz!» – esses exageros só aos «bons» são consentidos (e conseguidos). Mas para quem não gosta e combate a todo o transe o actual presidente dos EUA recomendo que não se perca no meio dos seus sentimentos. É que há eventos ou conquistas que têm valor por si, independentemente de gostarmos ou não dos protagonistas. E quando estamos a falar de avanços na Paz não podemos ceder nem deixar suspeitas relativamente ao essencial das nossas convicções. Em assuntos de tão extrema importância não nos fica bem a reserva de clubite. No caso, é a Paz que importa.

#Escritório

Nunca pensei que demorasse tanto


Enganei-me completamente. Eu achava que ao fim de um ano não haveria um jogador de qualidade que quisesse ir para o Sporting (e quem diz um jogador diz um treinador). Os termos de qualquer negociação, a relação avessa com a verdade e a previsibilidade, a quase irracionalidade, haveriam de ditar o fim de Bruno de Carvalho. Sempre esteve à vista de todos. O calvário dos preços absurdos, as cláusulas gulosas anti rivais, as condições remuneratórias chico-espertas. Tudo (e tanto mais) manifestações que nunca foram expressão de genialidade e de boa gestão. A qualquer renovação, transferência ou empréstimo, estavam invariavelmente associados episódios caricatos e absurdos.



O que é paradoxal é que se é verdade que são essas características de Bruno de Carvalho que ditam a desgraça do momento do Sporting, é também verdade que foram essas características que ditaram a aparente glória financeira que todos ressalvam e lhe louvam.


Ao contrário do que pensavam (e porventura muitos ainda contemporizarão) Bruno de Carvalho nunca foi bom para o Sporting. A irracionalidade, a chico-espertice e a loucura até podem resultar transitoriamente. Mas acabam sempre mal. O método foi sempre mau.


Eu achava que seria um processo natural e não muito demorado – antecipei que bem cedo Bruno de Carvalho estaria exposto. Enganei-me.


Demorou mais o tempo em que os jogadores iam para o Sporting apesar do clube ser presidido por Bruno de Carvalho. E chegou mais tarde o tempo em que os jogadores já não querem o clube presidido por Bruno de Carvalho apesar de ser o Sporting.

#Saladejogos

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Cecília Meireles

A militância partidária faz-se muito da tensão entre os equilíbrios internos (que se exprimem especialmente nos actos eleitorais para as estruturas partidárias) e a capacidade de estar aberto a quem olha de fora, a quem tem verdadeiramente o poder eleitoral de tornar relevante cada partido (até porque é dessa relevância que depende, depois, a capacidade de dar expressão ao programa do partido). Quanto mais valorizada for essa capacidade de interpretar quem olha de fora, em detrimento da sensibilidade para os equilíbrios internos, maior será a relevância do partido e, portanto, maior será a expressão que o programa do partido terá na vida colectiva (afinal, é esse o verdadeiro propósito). Se quiserem, numa frase, muito mais importante que agradar aos militantes importa compreender e corresponder aos eleitores. E se os militantes perceberem isso não chegará, sequer, a haver qualquer «oposição» entre uns e outros.
No caso do CDS, onde milito, essa abertura a quem nos vê de fora tem tido particular expressão nas pessoas que vem agregando à sua volta, na dinâmica de atracção de «boas cabeças», na capacidade de preencher os lugares relevantes com gente que compara para (muito) melhor com a «concorrência».
E em certa medida, é das pessoas que advém a ambição do CDS no actual contexto do centro-direita político.
Mesmo os mais exigentes sabem que na direcção nacional, na bancada parlamentar, na elaboração do programa do partido, o CDS agrega pessoas qualificadas e com capacidade de alargar eleitoralmente o partido.

Há pouco mais de dois meses, quando integrei a lista da Isabel Meneres Campos para a concelhia do Porto, experimentei com especial acuidade o que representa isso da tensão entre os equilíbrios internos e a capacidade de estar aberto a quem olha de fora. Pouco me interessaram aqueles, devo dizer. Estive e estou com a Isabel pelas melhores razões.
Agora, o calendário eleitoral interno coloca-nos perante a escolha de uma nova liderança para a distrital do CDS Porto (a maior distrital do partido).
Não sei, sinceramente, que melhor critério deva seguir que não seja o de procurar interpretar o nosso eleitorado. Imagino as questões que se possam colocar. Que liderança pode desafiar mais e melhor o CDS e os eleitores do CDS? Que liderança pode projectar mais e melhor a influência e a presença do CDS na nossa vida colectiva? Que liderança pode gerar a confiança que os eleitores do centro-direita querem e ainda procuram?

Eu vejo na Cecília Meireles essa líder. Enquanto deputada e vice-presidente do Partido, reconheço-lhe uma invulgar capacidade de trabalho, de dedicação, e sobretudo, de competência política. Reconheço – o que não é menos importante – que quem nos vê de fora lhe reconhece essas qualidades políticas. Se esta constatação não fosse já suficiente, valeria a pena olhar ao modo generoso, humilde e entusiasta com que se apresenta a eleições para a liderança da Distrital do Porto.
Ora eu não estaria a ser consequente se não oferecesse à Cecilia Meireles o meu apoio – e mais que apoio, a minha participação. Seria até um desperdício não aderir à ambição da Cecília.

Há também um sinal político que o CDS pode retirar deste acto eleitoral interno (e nós sabemos bem como têm valor os sinais políticos). Depois de uma líder nacional – Assunção Cristas –, depois de uma líder concelhia – Isabel Meneres Campos –, podemos ter uma líder distrital – Cecília Meireles. Só no CDS e no Porto, antes de qualquer outro partido e lugar. Também esta é uma oportunidade.
Força Cecília Meireles. Conta comigo.


#Escritório