segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

O que é urgente

Já não me consola (nunca consolou, em boa verdade) a ideia que vamos tendo de que as tragédias acontecem sobretudo aos outros e não à nossa comunidade e país. Os acidentes impressionantes, as histórias caricatas, se não mesmo macabras, assolam os outros (uma universidade nos Estados Unidos, um acampamento na Noruega, uma ponte em Itália, um desabamento no Brasil, e por aí fora).
 
Nos dias que passam, os incêndios, as pontes, os desabamentos, levam-nos os nossos e tocam-nos à porta.
O que talvez ainda não tenha mudado - e, ao que se sabe, impressiona especialmente na tragédia de ontem com o helicóptero do INEM - é que o nosso estado de alerta ou de sobreaviso ainda é tributário daquela ideia de que só acontece aos outros.
Em Pedrógão como nos incêndios de 15 de Outubro, no desabamento da estrada de Borba como ontem na queda do helicóptero do INEM, a reacção diz muito de como ainda nos vemos à prova de fatalidades.

A estrada da morte em Pedrogão não foi cortada a tempo porque ninguém estava devidamente alerta. A louca profusão das chamas a 15 de Outubro cavalgou livre e sem consciência colectiva horas a fio porque, nesse fatídico domingo, os comandos operacionais ou não estavam ou não comandavam. A estrada de Borba esteve em equilíbrio entre margens eloquentemente despidas, porque se confiou para além do limite que a urgência não se revelaria. E ontem, o primeiro telefonema para o 112 passou pela GNR local sem consequência e sem demais mobilização tendo decorrido mais de 2 horas até que se tomasse consciência da tragédia. Talvez não fizesse diferença. Talvez seja até mal comparado. Mas o padrão repete-se. E desta vez com a triste ironia de ser uma urgência relativa a um helicóptero e a agentes do INEM (um dos serviços de urgência mais relevantes).

É urgente (urgente aqui não é jogo de palavras) sermos capazes de cortar uma estrada num incêndio, de mobilizar os serviços num cenário de catástrofe, de percebermos que um helicóptero caiu com a prontidão do “minuto seguinte”.
 
Mais do que qualquer outra, essa seria a melhor homenagem a esses bravos que vivendo a salvar vidas ontem perderam as suas ao nosso serviço.

#Escritório
#Saladeestar

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