terça-feira, 17 de novembro de 2020

Regionalização (V)

Outra ideia muito batida (esta então é mesmo a mais batida) que se ergue sempre contra a regionalização é a de que tudo, no fundo, se resume à ambição de mais lugares, que hão-de ser preenchidos por boys bacocos, carreiristas e regionais (aqui regionais é adjectivo pejorativo).

Pondo de lado o paternalismo do argumento (que assenta na ideia de que localmente as pessoas não são competentes para escolher os seus representantes e nem sequer dispõem de quadros qualificados - o que é também um imenso desdém pelos milhares de autarcas que temos), há um gigantesco problema de falta de autoridade moral. É mesmo um argumento «cara de pau». Como se o modelo actual, com o Estado central, fosse uma referência na selecção de representantes – no Estado central é só gente da fina flor, patine da patine, quais «arquétipos da perfeição» (como se canta na música). Ele é ministros e secretários de estado, ele é toda uma administração central plena de perfis e currículos de excelência. Talvez um espelho serenasse o argumento. Mas também vos digo. Se é assim que veem as coisas, entre um bacoco e carreirista lá no Estado central e um bacoco e carreirista aqui da região eu não resisto à doutrina Roosevelt (may be he’s a son of a bitch, but he’s our son of a bitch, cito no original em inglês para disfarçar aqui o regionalista brejeiro).

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