A ideia da regionalização serve muito – ou também – para promover uma afectação mais equilibrada (e solidária, e justa, e diferente) dos recursos do Estado. É uma espécie de antídoto para essa falácia que vem sendo o «efeito spill over» que tudo (ou quase tudo) justifica nos lugares de sempre.
terça-feira, 17 de novembro de 2020
Regionalização (VII)
Regionalização (VI)
Volta e meia dou por mim a pensar nas razões que me animam em favor da regionalização.
Regionalização (V)
Outra ideia muito batida (esta então é mesmo a mais batida) que se ergue sempre contra a regionalização é a de que tudo, no fundo, se resume à ambição de mais lugares, que hão-de ser preenchidos por boys bacocos, carreiristas e regionais (aqui regionais é adjectivo pejorativo).
Regionalização (IV)
Uma outra intentona lançada contra a regionalização é a da despesa, de que representará a multiplicação de instituições, de empregos públicos, de quadros (mais quadros) para lá dos que já temos no Estado central. E, por arrasto, lá vem o fantasma de mais orçamentos, mais recursos para o Estado (para as regiões, em concomitância com os inamovíveis do Estado central).
Regionalização (III)
O ónus da prova – esse pesado ónus que, inexplicavelmente, impende sobre quem vem sugerindo a regionalização – tem de ser enjeitado sem apelo nem agravo.
Regionalização (II)
A ideia (de que falei no post anterior) de que quem defende a regionalização põe em causa a unidade do nosso querido Portugal – e que é tantas vezes ilustrada com um mapa de Portugal ostensivamente esquartejado – é tributária de tantas outras sem qualquer fundamento. Nós, pela unidade, vocês pela divisão de portugueses contra portugueses! O porquê desse binómio simplista é que é mais difícil de explicar.
Regionalização (I)
O debate sobre a regionalização – que nunca se chega a materializar (o debate, entenda-se) – está invariavelmente condicionado por estereótipos e boutades que têm tanto de infantil quanto de frases feitas (são mais ou menos sinónimos, bem sei).
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020
O testemunho de Passos Coelho
Passos Coelho terá sido um deles. Impressionou-me (impressionar é mesmo o verbo certo) na sua sobriedade e simplicidade.
Não é nada comum um primeiro-ministro (hoje ex-primeiro-ministro) tomar-se por tão comum, tão simples, tão normal.
Na vida do dia-a-dia em Massamá ou nas férias em Manta Rota. Na actividade profissional que, depois da ribalta, prosseguiu. E também (ou talvez sobretudo) na discreta vida com a sua mulher doente.
Sem alarido, com enorme dignidade, como deve ser.
Eu acho que lhe devemos agradecer este testemunho.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020
Oh Vasco!
Só me ocorre vernáculo e negação. E mais vernáculo.
Porra, Vasco!
Sim, vou tratar-te por tu, que me entraste na intimidade das leituras e das irritações (como é próprio da intimidade).
Tantos, por aí, costumam fulanizar no Miguel (o MEC) ou no Paulo (o Portas) as suas origens. Eu também por lá andei, mas nem por isso.
Foste tu, Vasco (o VPV). Foste tu. Foi pelas tuas crónicas, pela tua língua afiada e até azeda, pela tua síntese impossível (e irritante) que eu corri até ao quiosque (no tempo em que eu corria até ao quiosque, que hoje é raro e já nem a passo).
É que tu tinhas o que me desafiava. Até os teus complexos e presunções (e a Igreja era injustiçada e vítima da tua ignorância, que a tinhas!) eu gostava de te ler. Porque eu gosto de discordar e tu também me davas esse prazer. Da política, à história, do ressabiamento ao caricato. Guardo memória de tanto, pá. Era no papel que brilhavas. Mas esse brilho também era alimentado pelo contraste da tua expressão. Afundado no sofá de copo na mão e cigarro na boca. O verbo difícil e confuso. A distância da realidade (não esqueço aquele debate com o José Magalhães, contigo todo atrapalhado sobre o salário mínimo nacional). Chego a imaginar o Francisco Sá Carneiro a pensar várias vezes «que luxo ter este louco ao meu lado!». E foi um luxo, seguramente. Como, para mim, foram centenas das tuas crónicas, do teu olhar nada convencional, das tuas previsões desafiantes, da tua coragem desligada de respeitos humanos (o que é e não é um elogio).
Mas queres um elogio? Eu dou-to com sinceridade e em absoluta incredulidade (estou em negação). Deixaste rasto. Não foi vã esta tua passagem. Serão poucos os que me merecem este elogio.
Eu sei que estou a ser rude e bruto, pá. Mas só me ocorre vernáculo. Não, caraças (caraças posso escrever?)! Partiste mesmo?
Oh Vasco!