Imaginem um cidadão.
Imaginem que esse cidadão não é político nem
tem qualquer cargo que possa ser confundido com um cargo político.
Imaginem que esse cidadão é advogado (mas podia
ser economista ou engenheiro).
Imaginem que é um daqueles advogados deontologicamente
cumpridor (não vamos agora discutir o que quererá isso dizer).
Imaginem, depois, que é um advogado que se dedica
predominantemente a questões de fiscalidade ou, se preferirem, de impostos.
Imaginem, portanto, que esse advogado patrocina
pessoas singulares e empresas contra a Autoridade Tributária e Aduaneira.
Imaginem, ainda, que esse advogado gosta de representar
interesses legítimos de clientes relevantes, com casos complexos e
interessantes que, portanto, lhe dão mais conhecimento e experiência. Às vezes
lá consegue, tantas vezes nem por isso.
Imaginem, finalmente, que esse advogado trabalha
numa grande sociedade de advogados, depois de já ter trabalhado numa consultora
(se fosse um engenheiro ou um economista, talvez trabalhasse numa grande
empresa de comunicações, de energia ou de distribuição alimentar).
Ah – desculpem – imaginem, já agora, que esse
advogado vive dos rendimentos desse seu trabalho.
Imaginem, num último momento, que esse cidadão
e advogado (ou engenheiro ou economista) é convidado para um cargo político com
potencial exposição mediática.
Imaginem a estupidez que seria ele aceitar…
PS.1 Estão a conseguir transformar o exercício
de cargos públicos num impulso de estupidez.
PS.2 O debate à volta dos impedimentos, das
incompatibilidades, da revelação dos interesses (anteriores e posteriores), por
parte dos titulares dos cargos públicos, é da maior relevância. Mas está demagógica
e dolosamente contaminado.
PS.3 Para que não subsistam dúvidas, eu defendo
– imaginem – no ministério das finanças alguém com experiência em orçamento e
finanças, no ministério da defesa quem perceba de defesa e de relações
internacionais, na justiça quem tenha experiência e conheça o quadro de
actuação dos operadores judiciários, no ambiente quem tenha experiência e perceba
de energia e ambiente, e por aí fora. E, sim, na secretaria de estado dos assuntos
fiscais, alguém que perceba de impostos e que não caia lá de paraquedas sem
qualquer experiência. Isso implica enfrentar dificuldades em matéria de
incompatibilidade e impedimentos? Sem dúvida. Mas essas dificuldades não se resolvem
no terreno da fulanização demagógica.
#Escritório