quarta-feira, 18 de abril de 2018

O prazer das desoras


Naqueles dias em que «recolho» a desoras e nem tempo tenho para pensar – de tão assoberbado de trabalho, solicitações e compromissos – não há nada como chegar a casa.

Já não vejo os meus filhos (quer dizer, eles é que já não me vêem). Sou recebido pelo silêncio de uma casa a dormir (onde já se chegou, viveu a rotina do fim do dia, dos banhos, do jantar, do ir para a cama). Atiro-me para o sofá de pernas e braços prostrados (só não abro o botão da camisa nem solto o nó da gravata porque não faz o meu estilo).

Nesses dias (ou noites) passo sempre por aquele desabafo interior do «que raio de vida esta», que me faz «preferir» a presunção dos afazeres «tão importantes» e que me nega liderar os momentos corriqueiros da rotina familiar.

Não dura muito esse desabafo desalentado. Naquele périplo pelas camas dos meus filhos – em que os vejo na serenidade do sono profundo – logo sou compensado pela sensação de «significado».
Vê-los serenos, enquanto lhes ajeito os lençóis e cobertores, é das sensações compensadoras por que passo na vida. Este pequeno prazer chega a ser paradoxal (porque supõe o regresso a casa a indesejadas desoras). Mas é muito bom.

#Saladeestar

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