Eu por acaso não acho nada indiferente que um
político se assuma na sua orientação sexual. A entrevista da Graça Fonseca ao
DN tem interesse por várias razões (deixarei para o fim a parte da revelação
sensação).
Desde logo é uma entrevista que nos dá a
conhecer uma política (no sentido de sujeito) que pensa e fundamenta a sua própria
presença na política, que tem sentido crítico, que revela elegância no modo
como vê «o outro lado» e, especialmente, como se vai desviando das perguntas
algo tendenciosas e desnecessariamente opinativas que lhe foram sendo
colocadas. Fê-lo sempre com serenidade e fundamentação e em contra corrente com
o tom populista e preconceituoso da entrevistadora – que subliminarmente lhe
pedia a adesão que ela não dava (é interessante o modo como responde, sempre
com contemporização, à generalização sobre o PSD, sobre o Partido Republicano, sobre
o fenómeno racial, ou até como procura explicar o que sabemos das tendências do
sistema de justiça no julgamento de estrangeiros).
Eu gostei da entrevista. Gostei de conhecer um
pouco mais da Graça Fonseca.
Ora, com isto eu não estou a dizer que
concordei com o que a Graça Fonseca foi dizendo, com as opiniões que foi
expondo e a mundividência política que representou. Se bem interpretei a
política Graça Fonseca, eu vislumbrei naquela entrevista alguém com quem eu me
posso entender numa sociedade plural como a que defendo. E foi por isso que eu
gostei da entrevista. Porque eu temo – temo mesmo – pela ausência de
interlocutores disponíveis, de boa-fé, com fundamentação, nas diferentes facções
do nosso espectro político.
Já quanto à revelação da sua homossexualidade
eu repito. Não acho nada indiferente que um político livremente (e este
livremente é intransponível) se assuma na sua orientação sexual. Para quem,
como eu, acha que a avaliação de uma proposta de transformação política implica
conhecer os seus protagonistas – o que passa por conhecer o seu carácter, os
seus gostos, a sua mundividência – não é indiferente conhecer a sua história,
nela podendo relevar a orientação sexual. E como há, por razões de maioria, uma
presunção de heterossexualidade (não percam tempo a qualificar a presunção),
essa revelação é mais pertinente no caso dos homossexuais. Não confundam – podem
confundir, mas estarão a deturpar – com querer saber o que cada um faz ou não
faz em casa (faço ouvidos moucos à curiosidade de sarjeta). Não confundam – podem
confundir, mas estarão a deturpar – com obrigar ou esperar de uns o que não se
obriga ou espera de outros. Não confundam – podem confundir, mas estarão a deturpar
– com «proscrição» de uma orientação sexual face a outra.
Uma sociedade livre é mesmo isto. É também a assunção
livre da orientação sexual. E é a liberdade de quem acha muito bem (a revelação
e a opção) a saudar, quem não concorda a condenar, e quem acha indiferente a
desprezar ou não ligar. Todos com a mesma liberdade pessoal. O que quer dizer –
e este ponto é muito importante – que quem acha bem não deve «obrigar» aqueles
que não concordam a concordar (com a revelação ou simplesmente com a opção ou
com a sua promoção). Porque a liberdade ainda é de todos.
#Escritório
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