Eu tenho mixed feelings relativamente ao que deve ser uma boa
decisão sobre o tema da ala pediátrica do São João e das condições em que são acolhidas
e tratadas as crianças com doenças oncológicas.
Nunca percebi verdadeiramente, sob o ponto de vista administrativo
e de gestão do sistema, qual a articulação entre o São João e o IPO (que fica paredes
meias e que acolhe também crianças). Também nunca percebi – na mesma lógica
administrativa e de gestão do sistema – em que posição figura o novíssimo
centro materno-infantil (pensando especificamente na vertente infantil). E,
finalmente, nunca percebi o que determina que umas crianças sejam tratadas numa
instituição e outras noutra (quando a patologia e área de residência são as mesmas).
Nunca percebi (embora suspeite das eventuais razões) e aqui fica confessada a
minha ignorância.
Mas há uma coisa que eu percebi. Que sempre percebi muito
claramente, aliás. É que o Estado e os governos (e este em concreto) vivem em
permanente reserva mental, quando não mesmo em exercício de mentira despudorada,
e alimentam-se de uma cobardia política revoltante.
Sim, cobardia. Porque se porventura entendem que não se
justifica o investimento na ala pediátrica do São João (porque os mesmos serviços
devem ser prestados noutras instituições) não o assumem – têm medo das manchetes
do estilo «Governo deixa cair ala pediátrica do São João» ou não estão
interessados em enfrentar a resistência das administrações implicadas.
Sim, cálculo e reserva mental. Porque vão alimentando o dossier
sem verdadeiramente o tomarem em mãos – «vamos desbloquear», «será lançado o
concurso», fazem aprovar (ou consentem a aprovação) no parlamento de
«recomendações ao Governo sobre a prioridade do dossier».
E, sim, mentira despudorada. Porque asseguram há anos que o
problema «está já a ser resolvido» e não está, como bem vemos.
Nada disto seria lamentável e revoltante se, pelo meio, não tivéssemos
crianças e suas famílias, quais joguetes frágeis e inocentes, vítimas de
cuidados e condições indigentes.
Aos gritos – aos gritos esganiçados! – rogo: resolvam o problema!
Se é administrativo e de gestão, se é de egos entre instituições, se é
financeiro ou mesmo político, não quero saber. Resolvam-no já. Porque o que não
pode continuar é o sofrimento indigno a que vimos destinando crianças e suas
famílias, precisamente no momento em que mais e melhor os devíamos cuidar.
Tenham vergonha. Por amor de Deus! (sim de «Deus», para que
estale a polémica que a que interessa pelos vistos não estala …).
Notícia no JN:
#Escritório
#Saladeestar
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