quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Tenham vergonha por amor de Deus!


Eu tenho mixed feelings relativamente ao que deve ser uma boa decisão sobre o tema da ala pediátrica do São João e das condições em que são acolhidas e tratadas as crianças com doenças oncológicas.
Nunca percebi verdadeiramente, sob o ponto de vista administrativo e de gestão do sistema, qual a articulação entre o São João e o IPO (que fica paredes meias e que acolhe também crianças). Também nunca percebi – na mesma lógica administrativa e de gestão do sistema – em que posição figura o novíssimo centro materno-infantil (pensando especificamente na vertente infantil). E, finalmente, nunca percebi o que determina que umas crianças sejam tratadas numa instituição e outras noutra (quando a patologia e área de residência são as mesmas). Nunca percebi (embora suspeite das eventuais razões) e aqui fica confessada a minha ignorância.

Mas há uma coisa que eu percebi. Que sempre percebi muito claramente, aliás. É que o Estado e os governos (e este em concreto) vivem em permanente reserva mental, quando não mesmo em exercício de mentira despudorada, e alimentam-se de uma cobardia política revoltante.
Sim, cobardia. Porque se porventura entendem que não se justifica o investimento na ala pediátrica do São João (porque os mesmos serviços devem ser prestados noutras instituições) não o assumem – têm medo das manchetes do estilo «Governo deixa cair ala pediátrica do São João» ou não estão interessados em enfrentar a resistência das administrações implicadas.
Sim, cálculo e reserva mental. Porque vão alimentando o dossier sem verdadeiramente o tomarem em mãos – «vamos desbloquear», «será lançado o concurso», fazem aprovar (ou consentem a aprovação) no parlamento de «recomendações ao Governo sobre a prioridade do dossier».
E, sim, mentira despudorada. Porque asseguram há anos que o problema «está já a ser resolvido» e não está, como bem vemos.

Nada disto seria lamentável e revoltante se, pelo meio, não tivéssemos crianças e suas famílias, quais joguetes frágeis e inocentes, vítimas de cuidados e condições indigentes.

Aos gritos – aos gritos esganiçados! – rogo: resolvam o problema! Se é administrativo e de gestão, se é de egos entre instituições, se é financeiro ou mesmo político, não quero saber. Resolvam-no já. Porque o que não pode continuar é o sofrimento indigno a que vimos destinando crianças e suas famílias, precisamente no momento em que mais e melhor os devíamos cuidar.

Tenham vergonha. Por amor de Deus! (sim de «Deus», para que estale a polémica que a que interessa pelos vistos não estala …).



Notícia no JN:

#Escritório
#Saladeestar

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