quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Moção das cinco pedrinhas

Cinco ou seis pedrinhas. Tinha sempre de procurar cinco ou seis pequenas pedras. Por regra, à quinta ou sexta vez que acertava na janela da sala de estar do 1. Esquerdo era presenteado por aquele sorriso meigo e agradecido que já justificava a minha visita. A campainha era como se não funcionasse. Era já uma convenção (não sei se por segurança se por já nem captar o som da campainha que soava na outra ponta da casa).

Naquela salinha, com os pés pousados numa escalfeta e a ler as inocentes anedotas do Clarim, vivi dos melhores lanches (com o melhor leite e as melhores torradas) da minha vida. E sobretudo - muito sobretudo - com a melhor companhia. Arrependo-me de não ter repetido o programa o dobro das vezes (lição que levo para a vida e a que os meus filhos não escaparão).

Quando me procuro situar, quando me quero orientar, quando persigo o registo certo, é naqueles encontros que me inspiro.
Só hoje vejo tão perfeitamente como estava lá tudo. A entrega amorosa, a bondade, as certezas, as raízes, o surpreendente e disfarçado arrojo, as necessárias incoerências, a aceitação quase não assumida (mas praticada) dos desvios alheios, e o maravilhoso sentido de humor (qual líquido que tudo une).

Afinal, nestes tempos de programas, manifestos e moções, estava aqui a verdadeira moção. Das cinco ou seis pedrinhas brotava toda aquela sabedoria. Tão simples.

#Escritorio
#Jardim

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