Nunca o vi, ou nunca o reconheci, por ser «o
mais rico» ou «dos mais ricos». Essa circunstância – que é mesmo circunstancial
– não é necessariamente sinónimo de especial virtude. E não é justo ser o epíteto no
obituário de um homem como Belmiro de Azevedo que, sendo rico (era com certeza)
não vivia à sombra dessa condição de privilégio.
Sempre identifiquei Belmiro de Azevedo como um
homem da indústria, da gestão e dos negócios que, de facto, inovava, investia e gerava empregos.
Muitos. E em Portugal.
E tendo-o feito sempre a partir do Porto e do
Norte – quando, porque infelizmente se tornou numa opção mais exigente e incómoda, eram cada vez menos os que o faziam – eu tendo a valorizar mais o seu
legado. Não são frases feitas. Qualquer exercício serve para demonstrar a
importância social que protagonizou. Um pouco por todo o país, a Sonae e o
respectivo universo empresarial representou e representa muitos milhares de postos
de trabalho. Lugares qualificados (onde escasseavam) ou menos qualificados. E
no Porto, em especial, quando olhamos para a nossa família, para os amigos, para
os conhecidos, serão muito poucos os que passaram «à margem» da Sonae e das
empresas do universo empresarial representado por Belmiro de Azevedo. Se não
fomos nós próprios, foram os nossos pais, ou irmãos, ou cunhados, ou primos, ou
amigos, ou simplesmente conhecidos.
Como se não bastasse, o seu ímpeto empresarial
foi tão amplo, transversal e até original, que sentimos a sua marca no desenvolvimento
de Portugal. Essa marca é também a do desafio. Ao seu círculo próximo de
colaboradores, aos seus colaboradores em geral, aos seus parceiros, aos seus financiadores,
consultores, advogados. E, de um modo peculiar, ao poder político. Não serão
poucos os que, para lá do próprio potencial, devem a qualidade das suas
carreiras, a sofisticação dos seus conhecimentos e a projecção profissional,
àquele desafio e exigência com que sempre viveu Belmiro de Azevedo. Seja dentro
seja fora da Sonae.
A partida de Belmiro de Azevedo não há-de
significar o abandono desta marca de vida. Até porque o seu estilo vincado, com
enormes virtudes e com defeitos (naturais e discutíveis) permanece em tantos e
com diferentes expressões e notáveis inovações (mais um mérito).
A riqueza da vida de Belmiro não se expressa num
qualquer saldo bancário ou numa qualquer capitalização bolsista de referência.
Ela mede-se por aquela marca. De investimento. De gestão. De muitos empregos
criados. De independência do poder. De resistência a Norte.
#Saladeestar
#Jardim
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