Nunca o escondi. Sempre o afirmei. Cada vez
mais o sinto.
A defesa da vida (que em linguagem directa,
passou e passa por não aderir ao aborto livre e, por estes dias, se traduz
também na resistência à eutanásia) é uma causa tão séria como nobre.
Aliás, não tenho dúvidas que é uma causa justa –
porque é de «justiça» que cuidamos quando um ser indefeso é protegido para
poder viver, como é de «justiça» que falamos quando, num momento terminal, esperamos
do Estado (pelo menos, também) respostas diferentes da «solução final».
Repare-se que os actos consequentes de quem
milita ou reivindica a proeminência da vida são, em boa verdade, actos consensuais
e naturalmente louváveis. A assistência a mulheres com dúvidas ou dificuldades,
bem como a prestação de cuidados paliativos a quem sofre, não são – não podem
ser! – matéria de facção, objecto de resistência ou de divisão. Estou certo que
qualquer pessoa de boa-fé, mesmo que não se reveja num quadro de valores em que
o da vida figura como prioritário, reconhece a justeza de uma sociedade que se
organiza para prestar assistência a mulheres com dúvidas ou dificuldades, promovendo
o nascimento dos seus filhos, e reconhece quão importante é dispormos de uma
rede de cuidados paliativos ao serviço dos que mais sofrem.
Vistas as coisas assim é muito difícil
compreender o acantonamento a que vão sendo votados os que se dedicam a estas causas.
Nos partidos, nos media, e no espaço público em geral, quem ousa promover a
causa da vida merece pouco mais que os mínimos olímpicos de cobertura e atenção.
E mesmo essa cobertura, quando existe, é tendencialmente menorizante e pouco
abonatória (o que contrasta com o tratamento de que gozam os que, com a mesma
liberdade e legitimidade, militam em favor da liberalização).
Este fim–de-semana, por exemplo, organizaram-se
caminhadas pela Vida. Aqui no Porto, no percurso pacífica e ordeiramente percorrido
entre o Largo da Sé e a Praça dos Leões, não sei bem quantos seríamos. Talvez
400, 500, 600. Em números «sindicais», talvez milhares. Não sei. Sei que fomos
ignorados. Que «nada aconteceu», para quem, pelos media, quis saber o que
aconteceu. Qualquer acampamento político com 50 jovens. Qualquer manifestação com
5 ou 6 professores. Ou 20 ou 30 funcionários públicos. Ou 10 ou 20 enfermeiros.
Um qualquer «desses legítimos números» consegue ampla reportagem, chega a
lograr uma primeira página de jornal ou mesmo um directo na televisão. Nós,
não.
É certo que estiveram lá mais que 50 jovens
(não estiveram lá nessa qualidade, é verdade). É certo que estiveram lá mais que
5 ou 6 professores (não estiveram lá nessa qualidade, é verdade). É certo,
também, que estiveram lá mais que 20 ou 30 funcionários públicos (não estiveram
lá nessa qualidade, é verdade). E estiveram lá mais que 10 ou 20 enfermeiros (não
estiveram lá nessa qualidade, é verdade). Ou então, talvez seja isso que nos
falta. Invocar outras qualidades. Porque por muito absurdo que pareça, por estranho
que seja face à representatividade que ainda lhe assiste, a militância da vida,
pelos vistos, vive acantonada e não existe.
Temo sinceramente por uma sociedade, como esta, em que a defesa da vida é militantemente acantonada. Porque o acantonamento da vida não é saudável.
Temo sinceramente por uma sociedade, como esta, em que a defesa da vida é militantemente acantonada. Porque o acantonamento da vida não é saudável.
#Jardim
#Escritório
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