Eu, por exemplo (já o disse várias vezes) acharia muitíssimo bem que o Instituto Nacional de Estatística ou o Instituto do Mar e da Atmosfera (só para dar dois exemplos) se «deslocalizassem» não para o Porto mas para Bragança ou para Faro, ou para a Guarda ou Castelo Branco, ou Braga ou Beja (para início de conversa escolheria Bragança).
Ah, claro, os trabalhadores não quereriam porque têm as suas vidas em Lisboa (onde é que haviam de ter as suas vidas?). Já sei. Porque é lá que têm a casa que estão a pagar ao banco, a escola dos miúdos, a sogra e a melhor amiga.
Desculpem lá. Haverá algum movimento de «deslocalização» (detesto a palavra «deslocalização») para fora de Lisboa que mereça a aprovação dos respectivos trabalhadores?
Haverá algum movimento de «deslocalização» que cumpra os estudos de eficiência económica que reivindicam (como se estivéssemos a falar de um problema de eficiência e de estabilidade)?
Haverá algum movimento de «deslocalização» que não contrarie de frente o critério da racionalidade de custos?
Se continuamos a colocar o problema nesse plano – no dos trabalhadores, no da estabilidade, no da racionalidade imediata dos custos (tudo critérios que sensatamente devem ser medidos) – anuncio-vos já as conclusões: qualquer serviço relevante do Estado é em Lisboa e só em Lisboa que deve estar e permanecer para todo o sempre.
O problema, meus amigos, é que há mais Portugal para lá de Lisboa (circunstância que, já sei, não gera qualquer leve rasgar de vestes).
Esse Portugal para lá de Lisboa merece a atenção, o investimento e a presença equilibradamente disseminada do Estado. Porque ao lado do critério da racionalidade económica e de custos, está o do equilíbrio do território. E – não tenho dúvidas – esse equilíbrio, para quem não tem vistas curtas, é condição para a dita racionalidade económica a médio prazo.
É também isto que iconicamente se joga nesta história da mudança do Infarmed para o Porto. E seria muito interessante e simbólico mudar por exemplo um INE (ou parecido) para Bragança (depois do «EMA in Porto» eu alinhava numa campanha «Bragança calls»).
PS. E não me venham com a ideia (aparentemente sedutora) de que não faz sentido deslocalizar serviços estabilizados em Lisboa. Que o que faz sentido é fixar de início novos serviços e entidades fora de Lisboa (e só esses).
Pois eu não concordo. Primeiro porque o nosso problema não é um problema de défice de Estado (já temos que chegue). O problema é mesmo o do excesso de concentração em Lisboa. E depois porque o Estado que interessa e que representa as áreas relevantes de actuação naturalmente já existe. E, portanto, ou bem que a descentralização se faz através desses serviços que «interessam» ou não vale a pena perdermos tempo.
#Escritório
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