quarta-feira, 19 de setembro de 2018

19 de Setembro


Acumulamos ao longo da vida datas marcantes. O nosso próprio dia de anos, desde logo. Os dias de anos de muitos à nossa volta (dos pais, dos filhos, da mulher). O dia em que casamos. O dia de uma conquista académica ou profissional relevante. Ou mesmo o dia em que a nossa selecção ou o clube do coração tocaram o céu e «estávamos lá». São, no fundo, datas que nos vão animando a memória à medida que o ano corre.
Também temos registos que nos custam. A partida de cada um dos nossos, especialmente se «fora de tempo» (e é sempre!), a lembrar-nos à bruta como é e há-de ser incompleta esta vida (por mais datas marcantes e boas que acumulemos).

De todas estas datas, se tivesse que escolher uma eu talvez arriscasse no 19 de Setembro. Por ter sido um dia feliz, claro. Porque faz anos um dos meus, também. Porque passei a estender a mão para «baixo» e não apenas para o lado ou para cima. Por tudo isso, com certeza.
Mas não é bem por aí.
Nesse dia – é isso que o torna marcante como nenhum outro – senti-me irrompido por uma responsabilidade completamente nova e transbordante. Porque não mais era eu a razão da minha relevância (ou, se quiserem, deixei de ser irrelevante).
Já não era verdade o que sempre achara sobre a minha própria partida desta vida, sobre as lágrimas vãs que poderiam ser vertidas. Sordidamente, imaginava o meu velório (desculpem a imagem) e concluía que não teria importância nenhuma. As saudades que pudesse deixar, as obras terrenas por acabar, seriam sentimentos do momento. O ente querido (ente querido é uma expressão que detesto!) que ali se velava não deixaria ninguém irremediavelmente pendurado.

A partir daquele 19 de Setembro foi diferente. Percebi que a minha partida poderia ser uma desgraça. Não que eu valha muito. Mas porque sou mesmo necessário para aquele pequenito que gerei. Passei até a medir, por instinto, as loucuras que outrora fazia. Fiquei condicionado. E percebi que era incrível e que, sobretudo, me fazia bem!
A responsabilidade foi-se densificando, entretanto, com mais «datas marcantes». Mas a viragem foi a 19 de Setembro.

#Jardim

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