Há um mês fiquei a matutar num Despacho publicado no Diário da República que anunciava a abertura do concurso para a admissão de nutricionistas no SNS.
Não sou nutricionista, não sou um profissional que trabalhe no SNS e (presunção e ignorância minha, seguramente) ainda não me sinto carecido de cuidados especializados em nutrição.
Mas aquele Diário da República de 27 de Agosto de 2018 deixou-me a matutar.
Não que a ideia de contratar nutricionistas para todo o país, através de um concurso, não me pareça boa. No meu modo simples e cândido, imaginei logo que haver nutricionistas no SNS há-de ser especialmente útil para uns quantos que estão gordos, para outros que estão a engordar, e para outros ainda que poderão vir a estar.
Como vêem, sou bom a matutar (presunção, outra vez).
O problema foi o anti-climax que, de repente, interrompeu aquele meu momento simples e cândido (infantil, mesmo). Ao regressar ao Despacho propriamente dito («para ver melhor», qual lobo mau) percebi que era mais do mesmo.
Em 40 vagas generosamente criadas, 31 (trinta e uma!) eram para a região de Lisboa, e o resto do país que se amanhasse com 9 nutricionistas. Assim mesmo.
Podemos fazer imensas piadas com isto, claro. Que é em Lisboa que estão os gordos. Que é para atacar as «gorduras» do Estado. E por aí fora. Mas não tem piada nenhuma.
Porque este país existe (e é país) para lá de Lisboa. Porque no dia em que quisermos inverter este ciclo (chegará esse dia?) não faltarão «linhas vermelhas» de gente que não está disponível para se deslocar para outras paragens porque tem a sua vida feita há dezenas de anos à volta dos lugares e dos cargos do Estado (que é o mesmo que dizer de Lisboa). Imagino até, daqui a 15 ou 20 anos, a comissão de trabalhadores nutricionistas do SLS (eu sei que é SNS, mas fugiu-me o dedo para o «L») a vociferar em nome de 90% dos nutricionistas que não querem sair de Lisboa. E imagino um ministro qualquer («qualquer» como expressão de desdém), numa declaração sonsa e atabalhoada, a ceder como sempre.
Eu já só peço transparência. Não disfarcem. Contem-nos tudo que nós até amochamos.
Neste país das Comissões, das Agências, dos Grupos de Trabalho, dos Institutos, das Direcções-Gerais, das Altas Autoridades, do diabo a quatro no lugar de sempre, falta ainda uma entidade (só mais uma) – que pode perfeitamente ser em Lisboa (who cares?) – que se dedique a contar-nos tudo. Uma entidade onde qualquer cidadão possa consultar quantas entidades o Estado tem (directa ou indirectamente), as suas localizações, o número de funcionários, os seus orçamentos, há quantos anos. Assim uma coisa simples com informação directa e sem grandes filtros. Para que se perceba o inferno do centralismo que nos sufoca (meço bem as palavras).
Ah, eu até tenho um bom nome para sugerir. INFERNED.
#Saladeestar
#Escritório
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