Depois do Nobel a Dylan (apesar do manguito que destinou à Academia), no Porto o “Nobel” local vai este ano para o José Mário Branco. A tília a baptizar (por acaso a ideia das tílias é uma representação feliz) nos jardins do Palácio de Cristal terá o nome do dito Branco. Ao lado da Agustina, da Sophia, do Vasco Graça Moura, do Mário Cláudio, vai agora medrar a tília José Mário Branco baptizada em plena Feira do Livro.
Percebe-se que a câmara do Porto queira cavalgar na ideia de que os compositores e letristas de músicas também são escritores, até porque se há lugar que tem sido magistralmente escrito nas músicas é o Porto.
Mas que diabo. Se era para secundar a originalidade da academia sueca, porquê o José Mário Branco? É que eu tomo o impulso por um tiro único e não imagino que se repita tão cedo semelhante homenagem a um letrista de músicas (afinal, a palavra “livro” na feira não cedeu ao “disco”).
Se há letras no José Mário Branco que até singraram pelas melodias que as deram a conhecer, a maioria não tiveram essa sorte. E uma sem a outra - peço desculpa, mas é o que acho - perdem força. Que sentido faz homenagear alguém por ter escrito letras de músicas de curto alcance, pouco conhecidas e meio esquecidas (refiro-me às melodias).
Um “Eu vim de longe” ou “FMI”, ou ainda “Mudam-Se Os Tempos, Mudam-Se As Vontades”, são melodias e letras, ainda que de facção, que tiveram impacto, que marcaram uma época e que são reconhecidamente simbólicas. Mas para uma “tília” eu exigiria mais. Sinceramente.
Se o que queriam (parece que terá sido uma das motivações) era um letrista de época, de intervenção, da “revolução” (há aqui tanto de complexo ...) eu não ia pelo Branco. Para isso preferia um Sérgio Godinho (também nado e criado no Porto e com um repertório de letras e melodias que “sabem a tanto”).
Agora, se me perguntassem, se queriam mesmo um “homem das letras” (de músicas, entenda-se), de sons que ontem e hoje cantamos, que ontem e hoje nos fazem rir e sentir representados, eu sei bem a quem dava uma tília. Sem complexos, eu não hesitava num Tê. Quê? Isso, o Carlos Tê. Tê de tília (é até harmonioso e poético, o que faz sentido).
PS. Daqui a uns anos, um Miguel Araújo (nunca sei se nele gosto mais das letras ou das músicas), bem que pode ter a sua “tília”.
#Saladeestar
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