quinta-feira, 31 de março de 2016

Cidade do Futebol (ou do futuro)

Não me canso de exaltar as virtudes do futebol. Por muito que lhe possam imputar os maiores defeitos e iniquidade - ao que respondo que suspeito não ser diferente nas demais actividades sociais e económicas - o futebol é um poderoso e singular instrumento de coesão, de integração e de realização. A que acresce o carácter interclassista que em mais nenhuma área da nossa vida comunitária se observa com tanta eficácia.


Hoje vim à inauguração da Cidade do Futebol. Um espaço de excelência construído em menos de um ano e meio, sem financiamento público e que se abre para albergar a Federação Portuguesa de futebol e as selecções nacionais. Uma promessa eleitoral do Presidente Fernando Gomes que se cumpre para surpresa de muitos, mas para bem do futebol.

Como dizia o Presidente Marcelo no seu discurso de inauguração, se este novo espaço não descurar aquela dimensão de coesão e integração que só o futebol cumpre, então esta não será apenas a Cidade do Futebol. Será do Futuro.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Caixa Negra

Há alguma resistência. Há também alguma troça (para não dizer desprezo). E há preconceito. Muito preconceito.
Eu apenas sugiro que o recente livro de Rui Moreira (escrito a duas mãos com o seu assessor Nuno Santos) merece ser lido. Naturalmente que para quem se interesse pelo dossier específico da TAP e do Porto, e das opções do Estado relativamente às infraestruturas aeroportuárias, o livro reúne matéria suficiente para no mínimo ficarem no «ar» muitas interrogações (ou como dizia António Lobo Xavier na apresentação do livro em Serralves, outro título possível poderia ser «à procura da lógica»).
A maior utilidade do livro, do meu ponto de vista, prende-se com o que revela sobre as «regras», as cumplicidades, os cruzamentos, no fundo o modus operandi do Estado central e do poder ou poderes que o cercam. No caso do livro é o Porto e o Norte que estão como pano de fundo. Mas podia ser qualquer outra região menos próxima do poder central.
Por mim, sobram-me duas interrogações embaraçantes.
De onde são e o que aportam os senhores - cada um dos senhores - que se sentam no Conselho de Ministros (de qualquer Governo)?
Para que servem as listas distritais e os seus eleitos - cada um dos seus eleitos - na Assembleia da República?
Como nunca fiz parte de uns ou de outros, pouco me pesa a consciência. Mas não me liberto da ideia de que seja quem for, seja de onde for, não faz muita diferença. Mas devia.

#Salaodevisitas
#Escritório

Portugal – Bélgica em Leiria



Não é o dia mais apetecível. Nem sequer é aqui perto. Está frio e ameaça chuva. É apenas um amigável. Até vimos de um resultado pouco animador. E obriga-me a um esforço de 400 Km à noite.
Mas é contra a Bélgica. Somos anfitriões por causa dos atentados em Bruxelas. E é uma notável organização da FPF que me habituei a admirar (podem achar que não, mas organizar um jogo destes do dia para a noite revela uma capacidade de resposta e uma competência sem paralelo).
Desta vez faço questão de estar presente.

#Saladejogos

segunda-feira, 28 de março de 2016

Falar ao país

Em determinados momentos, mais importante que a eloquência ou a erudição de uma comunicação, é que ela seja percebida pelos seus destinatários.
Quando o presidente fala aos portugueses, fala aos portugueses. Não fala aos mercados e aos jornalistas, ao governo e à oposição, aos financeiros e académicos.
A comunicação de hoje do Presidente da República – em que contextualiza a sua decisão de promulgar o Orçamento do Estado para 2016 – é meio caminho para as pessoas se sentirem identificadas. Sem paternalismo e infantilidade, a erudição e eloquência cederam à simplicidade.
Assim entendemo-nos.

#Escritorio

sábado, 26 de março de 2016

Páscoa na Beira

É sagrado. Podendo, é à Beira que me entrego na Semana Santa. Por muito que as comodidades do dia-a-dia tenham contaminado (para o bem e para o mal) as terras do interior, ainda é cá que sinto mais autenticamente o real significado destes dias. Na Páscoa (como no Natal) facilmente dou por mim perdido e desfocado do essencial. Distraio-me com as coisas comuns e deixo passar levianamente os dias como se banais dias de férias fossem.
É por isso que preciso de cá vir. Para sentir os cheiros e os sons da tradição de que provenho. Para ouvir o sino da igreja paroquial a convocar-nos à hora certa para o que interessa. Para a festa da Eucaristia, na quinta-feira. Para a adoração da Cruz, na sexta-feira santa, e para a missa de aleluia no domingo maior da nossa fé.

É desconcertante, mas este ano não teremos compasso. Ao que parece já não se justifica. Faltarão vocações e fiéis. Que pena ... tenho a sensação de que o encontro com a cruz nunca se justificou tanto.

Santa Páscoa para todos!

#Jardim

quinta-feira, 24 de março de 2016

Johan Cruijff

1. Parecerá uma banalidade dizer que Cruijff era especial. Mas era, de facto.
2. No tempo dos jogadores simplesmente com força e jeito para a bola, mas sem uma oratória escorreita e sem especiais dotes de inteligência, Cruijff emergia e destoava. Terá sido, porventura, o primeiro jogador elegante dentro e fora das quatro linhas.
3. Foi também o ícone máximo de uma equipa nacional de que ainda hoje se fala - a laranja mecânica.
4. Foi ainda o símbolo - e autoridade inquestionável - de um clube como o Barcelona. Um clube com ego e carisma únicos.
5. Como treinador, marcou um estilo de sucesso e que perdura. A ele deve o Barcelona a sua primeira Champions (só conquistada em 1992), apesar dos muitos craques que por lá passaram sem essa glória máxima.
6. Não lhe tinha ficado mal um mundial - ele que disputou uma final.
7. O 14 nas costas - no tempo das camisolas de 1 a 11 - simbolizava bem quão único era.

#Salaodejogos

terça-feira, 22 de março de 2016

Vítimas são vítimas

Mexe comigo esta coisa do «não há portugueses entre as vítimas». O que devia ser uma nota de rodapé é provincianamente tratado entre nós com chamada de primeira página. Já era tempo de crescermos.

#Saladeestar

De hoje

1. Há uma candura – quase cobardia – no modo como condenamos estes atentados;
2. O extremismo islâmico que, invariavelmente, tem motivado estes crimes horrendos, não encontra paralelo (a uma escala aproximada) em qualquer outra religião;
3. Mais que o problema religioso com o Islão, temos o problema em afirmar a existência do problema religioso com o Islão;
4. O nosso «way of life» (a liberdade de que nos orgulhamos de praticar) não vai nem pode ir ao ponto de condenar ou de proibir o Islão;
5. Mas é justamente por causa da nossa liberdade que, entre nós, o Islão tem de ser controlado, contido, seguido;
6. Não gozarmos todos das mesmas presunções faz parte da vida. É assim com as pessoas. É assim com os grupos. Tem de ser assim com as religiões.

#Jardim

Imparcialidade e justiça

Poupo-vos aos desenhos geniais e às habilidades reveladas nas ofertas com que hoje fui brindado. Posso garantir-vos duas coisas.
A primeira é que, segundo mais do que uma opinião, sou o melhor pai do mundo.
A segunda é que tenho artistas incríveis em casa.
Com toda a imparcialidade, tinha que o dizer. Por uma questão de justiça.

#Saladeestar

quarta-feira, 16 de março de 2016

Lula

Esta história do Lula inspira imensos trocadilhos e acaba por nos desviar do nojo que nos devia causar.

Qualquer democracia, qualquer Estado de Direito, qualquer sociedade civilizada, não consegue resistir a tão despudorada e eloquente instrumentalização das regras.
Tal como um bom exemplo ou um testemunho marcante tem uma força tremenda, também o mau exemplo ou péssimo testemunho causa enorme dano.

Ter um ex-chefe de Estado – que persiste como referência para milhões de concidadãos – a jogar com as regras, a abusar de prerrogativas e a gozar com o sistema judicial do Estado que chefiou, não é só uma «confissão» de culpa (como hoje li com graça e acerto). É a verdadeira falência do Estado e das suas mais altas instituições.
O ex-presidente e agora ministro até pode ser inocente dos crimes de corrupção de que o acusam (já nem quero saber). Deste crime de lesa Estado é definitiva e tristemente culpado.

Nojo foi o termo que usei lá em cima? Talvez seja mais ilustrativo dizer «escarro». Ou «lula», como dizíamos entre nós na escola.


#Escritorio

segunda-feira, 14 de março de 2016

Nicolau Breyner

Sempre desdenhei dos actores portugueses. Sempre padeci daquele provincianismo de que os estrangeiros eram muito melhores na arte de representar e por isso fui resistindo ao aportuguesamento progressivo que essa arte (felizmente) foi conhecendo.
Se fui injusto no meu provincianismo com tantos e tantos bons actores (reconheço-o e penitencio-me), sempre excepcionei o enorme Nicolau Breyner.
Não conheço actor português – ou melhor, artista – mais versátil, completo e notável.
Podia ser galã ou vilão. No teatro ou no cinema. Na revista ou na telenovela. Podia ser em registo de humor ou de drama. A cantar ou a declamar. Ao vivo ou em estúdio. Podia ser a sorrir ou a chorar. Em monólogo ou a contracenar. A preto e branco ou a cores.
Nicolau Breyner era simplesmente notável. Sempre notável. O que é notável!
Paz à sua alma.

#Jardim

domingo, 13 de março de 2016

Assunção Cristas



Os partidos políticos justificam a sua existência – e a militância de quem adere – por serem instrumentos de conformação e de transformação do país.
A maior ou menor adesão que suscitam depende da capacidade que tiverem de representar a mundividência, as preocupações e as aspirações dos eleitores.
Se é verdade que os partidos hão-de representar uma proposta de conformação, não é menos verdade que lhes cabe um esforço de abertura e abrangência que, sem descaracterização, garanta eficácia a essa proposta.

Tenho imensa esperança no CDS da Assunção Cristas. Essa esperança é tanto maior quanto nela projecto a «representação» de que Portugal precisa.

A Assunção é líder do CDS – e por via do CDS, apresenta-se ao país – com espontaneidade e cheia de vontade (e bem sabemos que não há vagas de fundo que suplantem genuinamente a falta de vontade).
A Assunção é mulher, é mãe de família, tem experiência de governo, tem experiência de administração pública, tem carreira académica, tem presença parlamentar, é advogada e tem obra publicada. O mundo da Assunção é, ele próprio, uma proposta mobilizadora.
É por isso que nela é tão natural a enorme empatia no contacto com as pessoas. Com todas as pessoas, das mais simples às mais sofisticadas.

A «liderança irreverente» que a Assunção Cristas nos propõe é uma oportunidade para o CDS. Mas é sobretudo uma oportunidade para o país.


#Escritório

quarta-feira, 9 de março de 2016

Uma questão de cultura. E educação.


Hoje, no preciso momento em que tomava posse na Assembleia da República o novo Presidente da República, foi bonito constatar a naturalidade com que todos os presentes na sala se ergueram para aplaudir. É assim em democracia. É assim entre pessoas com respeito pelas instituições. É assim entre pessoas educadas.
Claro que onde abunda a cultura de intolerância normalmente falta a cultura democrática. Duas faces da mesma moeda. E por isso não foram bem todos os que aplaudiram o simples acto de posse do novo Presidente da República eleito livremente pelos portugueses.

Já estamos habituados à elevação do BE e do PCP. É uma pena.

#Escritorio

terça-feira, 8 de março de 2016

Da noite para o dia

Às terças no La movida. Às quartas no River Café. Às quintas no Mau Mau. Às sextas no Estado Novo. Elas com bar aberto. Nós com direito a 2 bebidas a troco de 2 contos. A noite da mulher era bem giro.
Ao dia da mulher nunca fui. Onde é?

#Saladeestar

segunda-feira, 7 de março de 2016

Cavaco Silva

Eu lembro-me. Por estes dias haverá muitos que se esqueceram. Mas eu lembro-me. Eu lembro-lhes.

A personalidade em quem os portugueses mais confiaram, em quem mais votaram, durante mais anos - acima de qualquer outra, muita acima da segunda - confiando-lhe o Governo do país, entregando-lhe absolutamente o Parlamento, e escolhendo-o para Presidente da República, tem um nome. Aníbal Cavaco Silva. Foi assim em absoluta normalidade. E sobretudo, foi assim em absoluta liberdade.

10 anos como Primeiro-Ministro. 10 anos como Presidente da República.

Nunca reservei a Cavaco Silva o maior dos entusiasmos. O ponto, todavia, que hoje se impõe relevar é outro.
Alguém que se submete tantas vezes ao voto, merecendo a confiança inequívoca da maioria dos eleitores. Alguém que, no respeito pelo pluralismo democrático, dedica tantos anos ao exercício abnegado e digno dos mais altos cargos do Estado neste nosso Portugal, tem sempre o meu reconhecimento independentemente de lhe ter ou não confiado o voto, independentemente do maior ou menor grau de adesão ao longo de tais mandatos populares.

Aliás, não é apenas reconhecimento. É sobretudo agradecimento.

#Escritorio

sábado, 5 de março de 2016

Maria Luís Albuquerque

1. Não fui um entusiasta da nomeação de Maria Luís Albuquerque como Ministra das Finanças;
2. Pode ser injusto, mas fico sempre desconfiado do bom senso de alguém que aceita ser ministro das finanças estando sob a nuvem de um dossier politicamente crítico e potencialmente embaraçante para o próprio governo (como era o dos SWAPS a que estava ligada antes de ser governante);
3. Pode ser injusto, mas fico sempre desconfiado do bom senso de alguém que aceita ser ministro das finanças num governo de coligação sabendo do desagrado do outro partido da coligação;
4. Pode ser injusto, mas politicamente tudo recomendava que à falta de bom senso no convite não se juntasse a falta de bom senso na aceitação (para o que, reconheço, seria necessário um enorme desprendimento e resistência aos apelos do poder);
5. Pode ser injusto, mas o meu escasso entusiasmo de então não melhorou com os tristes ímpetos marialvas e infantis do próprio marido de Maria Luís Albuquerque;
6. Apesar de todo este quadro de partida, fui sendo conquistado ao longo dos seus dois anos enquanto ministra das finanças: apreciei o seu discurso, serenidade e até a classe de quem sabe estar (não só politicamente);
7. Ao não resistir ao convite para administradora não executiva da Arrow Global - para mais, mantendo-se na Assembleia da República como deputada - regressou àquela falta de bom senso de que já quase não me lembrava. E o pior é que essa falta de bom senso veio acoplada ao desprezo egoísta pela reputação do seu próprio partido (em boa verdade, tal como pelo governo quando aceitou ser ministra);
8. Lá em cima ressalvava que "pode ser injusto"? Desculpem. Infelizmente não é nada injusto. Estava lá tudo. Já estava e ainda está.
9. Tenho pena. Não devia ser assim.

#Saladeestar
#Escritorio

quinta-feira, 3 de março de 2016

O Porto descoberto

O que mais me surpreende na emergência do Porto como destino é o modo como nos soubemos abrir à descoberta e o sentido de oportunidade que revelámos nessa abertura. Quando digo «destino» não penso apenas na sua expressão puramente turística, mas também cultural, social, comercial, e até territorial. O próprio país também se tem encontrado com o Porto (o que, temo, não seja o maior elogio ao país que éramos).
Dizem de nós que somos o tesouro mais bem escondido. Eu não diria escondido. Talvez prefira dizer por revelar.
Para quem, como eu, vive embrenhado nesta urbe de que não se distingue, pode parecer estranho ou mesmo contraditório arriscar dizer que o Porto não valia assim tanto a pena.
Valia, com certeza. Este destino tão especial não nasceu agora. E se vale hoje é porque valia!
Com o distanciamento que não tenho, diria, todavia, que nunca como agora estivemos tão preparados para nos revelarmos. Não vivíamos tão abertos e tão disponíveis. Tínhamos os nossos espaços (alguns deles, aos olhos de hoje, aparentemente tão estranhos e incompreensíveis). Os nossos grupos. Os nossos temas. E era difícil penetrar neste nosso mundo. Para quem lograva tal façanha, vibrava connosco e percebia quão especial (já) era este lugar.
Era também o tempo dos espaços urbanos esventrados, por cuidar, e mais ainda por criar. Talvez estivéssemos aquém do nosso potencial. Nos conteúdos. Nas novidades. Nas recriações. Na descoberta de funcionalidades (dedicávamo-nos mais a outras, em boa verdade).
Quase parece que o sol não brilhava tanto no mar como agora (e o mar é o mesmo). Quase parece que o rio não nos reflectia tanto como agora (e o rio é o mesmo). Que «os campos, as árvores e as flores» não se abriam como agora (e somos os mesmos).
Não sei explicar. Mas sinto um efeito novo. Uma vida nova. Uma cor mais forte. E tudo isto sem termos perdido aquela mística, algo egoísta, que não se explica e que nos condena a sentir em circuito fechado certas dimensões do Porto.
Revelarmo-nos agora, só agora, fez todo o sentido. Não foi por calculismo. Mas foi sábio.

#Salaodevisitas