Eu
compreendo mal (é uma dificuldade minha, seguramente) o desejo de alguns, à
primeira oportunidade, desancarem no Cristiano Ronaldo.
De
um modo geral todos nós (aqui não distingo os que gostam e os que não
simpatizam com o Cristiano), nem nos damos conta da expectativa que lhe
reservamos. Já o disse uma vez – «a exigência que lhe impomos vai ao ponto de
que quando não marca achamos que ficou aquém e quando
marca achamos que cumpriu. Já só abrimos a boca de espanto quando faz um
hat-trick (que faz muitas vezes). É assim há mais de uma década. Não me lembro
de nenhum jogador a quem exigíssemos tanto. De quem esperássemos tanto.»
E a verdade é que também não me
lembro de um jogador que correspondesse tanto.
A propósito do jogo de ontem, e a
propósito de jogos como os de ontem (em europeus ou mundiais), lá vem a lenga-lenga
de que nunca aparece nestes momentos.
Eu lamento ter de discordar. Lamento
mesmo, porque custa-me aceitar tamanha falta de memória. Se me restringir às
duas últimas grandes competições – no Brasil há dois anos, e agora em França –
se há jogador que correspondeu e a quem devemos a nossa presença é o Cristiano
Ronaldo. De repente ninguém se lembra do hat-trick que marcou na Irlanda do
Norte, garantindo o único resultado que nos mantinha na qualificação, ou o golo
no último minuto na Dinamarca, que nos deu os primeiros 3 pontos depois de uma
humilhante derrota em casa com a Albânia. E em ambas as ocasiões não foi um
acaso. Quem mais faria aqueles 3 golos na Irlanda do Norte? Quem teria a
capacidade de elevação para cabecear aquela bola na Dinamarca? E a esses juntou
mais golos. Em jogos a doer, quando tanto precisávamos (ide pesquisar…).
E, já que falam em fases finais,
eu lembro-me há 4 anos de quem marcou os golos contra a Holanda que nos garantiram
o primeiro lugar na fase de grupos do europeu, e ainda estou a ver aquele
golaço de cabeça contra a República Checa que nos conduziu à meia-final. Ou em
2004 (o homem anda nisto há 12 anos, inacreditável!) lá festejámos o golo na
meia-final contra a Holanda em Alvalade. Memória. Tudo memória. Mais recente ou
mais remota.
Ao Cristiano Ronaldo eu consinto
mais do que a qualquer outro jogador, é verdade. Porque já demonstrou que mesmo
no mais apagado dos jogos, aparece a marcar ou a dar a marcar.
Ontem, honestamente, nem achei
que estivesse muito apagado ou escondido do jogo. Não está na sua melhor forma,
como é evidente. Mas vi-o a rematar. Vi-o a ir buscar a bola ao meio-campo.
Vi-o a defender e a cortar as bolas nos cantos adversários. E tenho presente
aquele centro bem arrancado e medido que só não deu golo do Nani porque a bola esbarrou
num misto de sorte e inspiração do guarda-redes islandês.
Há
vários anos que lhe anunciam o fim. Que lhe pressagiam e desejam o fim. É provocado
e mal tratado em tudo o que é comentadeiros nacionais e internacionais. E invariavelmente,
o nosso Cristiano responde dentro de campo (sem que aqueles se retractem num
gesto mínimo de pudor).
Eu
ao Cristiano só reservo uma palavra. A única justa e ajustada pelo que nos deu
e nos continua a dar. Obrigado.
#Saladejogos
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