sexta-feira, 24 de junho de 2016

Deus nos "leave" dos perigos do Brexit!

1. O interesse que o referendo britânico nos suscita tem todo o fundamento. O Reino Unido não é um Estado qualquer, a sua importância militar, económica e política justificam a proeminência que tem, e a ele nos ligam laços históricos que, pelo menos, no domínio do simbólico (mas não só) ainda têm expressão prática nos corredores e gabinetes diplomáticos.
2. A opção pelo "leave" é errada a vários títulos. E nem sequer surge pelos melhores motivos. Foi uma opção motivada conjunturalmente (por muito que a conjuntura nos exija ponderação e nos obrigue a alterações colectivas profundas). E foi sobretudo egoísta e sintomática da fraqueza do eleitorado - um eleitorado que prefere o presunçoso e imediato e que não sabe estar à altura do que representa o Reino Unido na Europa e no mundo.
3. Não me anima qualquer revanchismo ou sentimento de vingança. Não é caso para "crime e castigo", como lhe chamaria Dostoievski. É antes o momento da responsabilidade. Liberdade e responsabilidade, como diria Bento XVI. É por isso que o "exit" só pode ser doloroso, difícil e penalizador para o Reino Unido, sob pena de dupla fraude eleitoral. Para aqueles que lutaram pelo remain. E para aqueles que há dois anos não deram a machadada tão temida na outra união (a do próprio Reino Unido, bela ironia) por temerem a exclusão da União Europeia (não fora esse argumento e provavelmente, então, não teria saído vencedor o better together ...). O fim da presença na União deverá ser mesmo isso e deverá exigir o tortuoso início de um novo e desconhecido processo de negociações e complexos acordos bilaterais. Aliás, a madura democracia britânica não merece menos (faço-lhes essa justiça).
4. A história o dirá, mas não creio que os ufanos vencedores de ontem serão os bons de amanhã. Há qualquer coisa de repetitivo nesta história (é sempre assim, basta ler a história). Há qualquer coisa de Churchiliano na coragem e afastamento de Cameron. Há qualquer coisa de sinistro e louco (nalguns simultaneamente sinistro e louco) nos agora vistos como vencedores.
5. "Donald Trump considera fantástico saída ldo Reino Unido da UE", "Geert Wilders já celebra a vitória do Brexit", "Beppe Grillo anunciou que vai exigir um referendo à permanência do país na moeda única, num primeiro passo ao qual se poderá seguir uma outra consulta à saída dos italianos da UE", "Marine Le Pen exigiu que França leve a cabo um referendo nos mesmos moldes". Diz-me com quem andas que eu digo-te quem és ...
6. O Reino Unido é uma democracia madura e de referência. Mas ainda não foi desta que nos conseguiram servir o resultado a uma hora que qualquer outra democracia menos madura conseguiria ...

#Escrtório

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