À margem, ou ao lado, das desgraças que nós próprios perpetramos
ou que, em certa medida, provocamos – como os atentados, as guerras ou grande
parte dos incêndios – aparecem, sem convite e sem aviso, as desgraças naturais.
E quando essas desgraças naturais ocorrem em larga escala, disseminando o sofrimento e a dor, e ceivando vidas –
muitas vidas – sou sempre sobressaltado pela inquietante constatação da nossa
fragilidade neste mundo. Os terramotos (ou marmotos ou tsunamis) permitem-nos,
ao menos, pensar sem ruído e sem censuras (porque não vale a pena procurar
culpados ou bodes expiatórios) no nosso lugar neste mundo, em como a ausência
de explicação nos conduz à incompletude. O «salto» que estes momentos me
sugerem é o da fé, que tenho a graça de ter. É quase um impulso racional («não pode ser de outra maneira», penso). Mas penso também como
será para quem não tem esse dom da fé. Se para qualquer «terreno» estes
momentos são incompreensíveis e nos impelem à resistência e à revolta, é pela
fé que encontro o consolo e a conformação possíveis. De outro modo custava-me
mais aceitar a nossa fragilidade, a reiterada e experimentada precariedade da
nossa existência, no fundo, esta condição que nos limita e expõe. Claro que vos
fala alguém que tem fé. Mas imagino que a vida sem Deus e sem a esperança da Sua Justiça deve ser mais difícil.
Hoje penso naqueles que sofrem em Itália. Que sofrem
pelos seus que partiram, pelos sofrimentos físicos que lhes foram infligidos, pelas
privações e destruições brutais. E sem qualquer explicação possível.
Rezo por eles. E rezo para que tenham o dom da fé. O
consolo possível da fé.
#Jardim
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