quarta-feira, 24 de agosto de 2016

As desgraças naturais

À margem, ou ao lado, das desgraças que nós próprios perpetramos ou que, em certa medida, provocamos – como os atentados, as guerras ou grande parte dos incêndios – aparecem, sem convite e sem aviso, as desgraças naturais. E quando essas desgraças naturais ocorrem em larga escala, disseminando o sofrimento e a dor, e ceivando vidas – muitas vidas – sou sempre sobressaltado pela inquietante constatação da nossa fragilidade neste mundo. Os terramotos (ou marmotos ou tsunamis) permitem-nos, ao menos, pensar sem ruído e sem censuras (porque não vale a pena procurar culpados ou bodes expiatórios) no nosso lugar neste mundo, em como a ausência de explicação nos conduz à incompletude. O «salto» que estes momentos me sugerem é o da fé, que tenho a graça de ter. É quase um impulso racional («não pode ser de outra maneira», penso). Mas penso também como será para quem não tem esse dom da fé. Se para qualquer «terreno» estes momentos são incompreensíveis e nos impelem à resistência e à revolta, é pela fé que encontro o consolo e a conformação possíveis. De outro modo custava-me mais aceitar a nossa fragilidade, a reiterada e experimentada precariedade da nossa existência, no fundo, esta condição que nos limita e expõe. Claro que vos fala alguém que tem fé. Mas imagino que a vida sem Deus e sem a esperança da Sua Justiça deve ser mais difícil.

Hoje penso naqueles que sofrem em Itália. Que sofrem pelos seus que partiram, pelos sofrimentos físicos que lhes foram infligidos, pelas privações e destruições brutais. E sem qualquer explicação possível.
Rezo por eles. E rezo para que tenham o dom da fé. O consolo possível da fé.


#Jardim

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