Não escapo aos diálogos comigo mesmo. Aliás, vivo em acesa conversa interior.
Tomo decisões, rio-me, irrito-me. Passo por momentos primários e também experimento os profundos. E tudo isto - como é próprio - sem filtros ou cerimónias (afinal o "cara" do lado de lá sou eu mesmo).
Ontem, depois de um desses momentos (daqueles de irritação), caí em mim. Posso estar à vontade mas não preciso de exagerar, pensei (lá está, também passo da irritação aos momentos profundos numa fracção de segundo e só não me tomam por maluco porque sou eu comigo...). Bem, pensava eu, o chorrilho denso e irreproduzível de palavrões que me disse não pode continuar sem freio. Mesmo tendo presente que me queixava em nome do dedo mindinho do meu próprio pé (que tem um caso amoroso com a perna da cadeira do quarto, só pode). Não é modo de vida. Já sei, foi só comigo e entre mim. Já sei, foi interior e ninguém ouviu. Já sei, o efeito libertador de um bom palavrão não é desprezível. Sei tudo isso. Mas começo a ter receio. Às vezes que me refugio interiormente nos palavrões - e não é sempre em nome do meu querido dedo mindinho do pé (que até merece o vernáculo) - ainda me revelo e perco a autoridade.
Tenho de me preservar. Pelo menos perante os meus filhos. E se puder ser perante alguém mais, tanto melhor.
Estarão a pensar que os bons modos que ainda vou praticando são um espartilho - são, em muitos momentos, não nego. Mas aquele selvagem que fala comigo permanentemente também não sou eu. E deve ser controlado!
Tenho que ter mais cuidado com o dedo mindinho do meu pé ...
saladeestar
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