terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Silva Marques

Ainda me lembro daquelas tardes. Depois das aulas, sentado no sofá, o colo forrado de torradas num prato, regalado a ver o que dava na televisão.
Umas vezes era o Orçamento de Estado, outras uma moção de censura (que às tantas virava para moção de confiança), outras ainda o estado da nação. Entretinha-me e divertia-me com os directos da Assembleia da República. A oratória, o humor, a razão e o despudor. Os preparados e os atrevidos. Os talhados e os desajustados.
Lembrei-me dessas minhas tardes quando soube da morte do Silva Marques. E tive saudades.
Não sei se se lembram mas o Silva Marques foi um destacado deputado. Foi um dos que caiu em si quando percebeu que o PCP e o seu projecto político para o país eram um logro. E entre o PS e o PSD escolheu este último. Era, de facto, um senhor deputado. Por regra sentava-se na primeira fila, mas na cadeira mais à esquerda, de onde exibia o seu farto bigode, nó de gravata robusto e sorriso simpático. E tinha o que mais gosto nos deputados – eloquência inteligente e bem-humorada.

#Escritório

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