quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

A liberdade e os jornalistas

Naturalmente que os jornalistas são pessoas como quaisquer outras, com ideias, com clubes, com relações sociais e familiares. E não será exigível que se dispam totalmente dessas suas filiações "emocionais" (chamemos-lhes assim). Já não se compreende que uma manchete, uma denúncia, uma chamada de primeira página, uma crítica ao óbvio, o tom mais ou menos grave, sejam contidos (ou até negados) por submissão àquelas filiações "emocionais".

Para mim – consumidor e leitor – não é tanto um problema de alinhamento à direita ou à esquerda. É mesmo um problema de espírito crítico, de exigência e, no fundo, de jornalismo.

São poucos – cada vez menos e mais contados – os que se rebelam contra o seu próprio espartilho e cumprem o seu papel. A cada polémica, a cada embaraço à esquerda ou à direita, é vê-los, dependendo do alinhamento, com olhos mansos ou mesmo tolhidos, ou agressivos senão esbugalhados.

Estes episódios à volta da Caixa e de Mário Centeno, como ontem o dos swaps com Maria Luis Albuquerque, ou mesmo os anúncios governamentais de resultados macroeconómicos (seja qual for o governo ou conjuntura), são bem elucidativos de quão desinteressante e condicionada é, por regra, a cobertura jornalística. Uns adiam as notícias e ignoram o óbvio. Outros exploram com clamor e exagero. E, depois, há um enorme défice de análise crítica dos dados anunciados por cada governo (seja sobre o défice, sobre o desemprego, sobre o crescimento ou sobre a dívida e os juros).
A quase todos, em algum momento, parece faltar o distanciamento que se espera do profissional com carteira de jornalista.
Tendencialmente, os jornalistas têm de ser incómodos e exigentes com o poder. Um bom entrevistador ou repórter é aquele que faz perguntas difíceis. Um director de jornal não tem por que fugir ou promover manchetes favoráveis ao poder. Mas tem de gerar a confiança de que a manchete é crítica e rigorosa.

Podem faltar investidores e recursos financeiros ao jornalismo. Mas o que não pode faltar é sentido crítico e genuína independência. É certamente um problema de credibilidade. Mas é antes um problema de liberdade. E às tantas nem se apercebem disso.

#Saladeestar
#Escritório

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