Naturalmente que os jornalistas são pessoas como
quaisquer outras, com ideias, com clubes, com relações sociais e familiares. E
não será exigível que se dispam totalmente dessas suas filiações
"emocionais" (chamemos-lhes assim). Já não se compreende que uma manchete,
uma denúncia, uma chamada de primeira página, uma crítica ao óbvio, o tom mais
ou menos grave, sejam contidos (ou até negados) por submissão àquelas filiações
"emocionais".
Para mim – consumidor e leitor – não é tanto um problema
de alinhamento à direita ou à esquerda. É mesmo um problema de espírito
crítico, de exigência e, no fundo, de jornalismo.
São poucos – cada vez menos e mais contados – os que se
rebelam contra o seu próprio espartilho e cumprem o seu papel. A cada polémica,
a cada embaraço à esquerda ou à direita, é vê-los, dependendo do alinhamento,
com olhos mansos ou mesmo tolhidos, ou agressivos senão esbugalhados.
Estes episódios à volta da Caixa e de Mário Centeno, como
ontem o dos swaps com Maria Luis Albuquerque, ou mesmo os anúncios governamentais
de resultados macroeconómicos (seja qual for o governo ou conjuntura), são bem
elucidativos de quão desinteressante e condicionada é, por regra, a cobertura
jornalística. Uns adiam as notícias e ignoram o óbvio. Outros exploram com
clamor e exagero. E, depois, há um enorme défice de análise crítica dos dados
anunciados por cada governo (seja sobre o défice, sobre o desemprego, sobre o
crescimento ou sobre a dívida e os juros).
A quase todos, em algum momento, parece faltar o
distanciamento que se espera do profissional com carteira de jornalista.
Tendencialmente, os jornalistas têm de ser incómodos e
exigentes com o poder. Um bom entrevistador ou repórter é aquele que faz
perguntas difíceis. Um director de jornal não tem por que fugir ou promover manchetes
favoráveis ao poder. Mas tem de gerar a confiança de que a manchete é crítica e
rigorosa.
Podem faltar investidores e recursos financeiros ao
jornalismo. Mas o que não pode faltar é sentido crítico e genuína independência.
É certamente um problema de credibilidade. Mas é antes um problema de liberdade.
E às tantas nem se apercebem disso.
#Saladeestar
#Escritório
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