1. O meu post de ontem – em que defendo que algumas raças de cães (deixo aos entendidos quais deverão ser) não podem ser admitidas como animais domésticos e de estimação pelo genético potencial violento – gerou imensos comentários de discordância (ver aqui). Não é pela discordância que regresso ao tema. É mesmo por achar que vai por aí uma enorme confusão. E porque – terei de o dizer – não apreciei especialmente o tom adoptado por alguns dos meus amigos.
2. Não confundam: eu não estou a fazer nenhuma crítica aos cães (não lhes posso conceder, em substituição da natureza, essa capacidade de imputação de culpa), estou simplesmente a socorrer-me de um dado da natureza (o seu reconhecido potencial de instinto violento) que, do meu ponto de vista, e demonstradamente, recomenda a dita proibição.
3. O argumento mais usado pelos que discordam de mim é muito baseado na ideia de que os animais (estes cães de determinadas raças) não são naturalmente violentos, emanando essa violência (quando revelada) dos seus donos e da «educação» que estes lhes destinam. No fundo, o argumento é o de que só haverá cães violentos se os donos forem violentos ou os instigarem à violência. Este argumento, de tantas vezes contrariado na prática, custa-me ter de enfrentar. O Afonso Botelho Vieira até teve o cuidado de dar o seu testemunho pessoal, relatando o episódio de violência que viveu com um dos seus cães, ao qual havia dedicado o mesmo carinho e educação que a outros cães de que era proprietário e com os quais não teve qualquer problema semelhante. Ora bem, os meus amigos estão a sugerir que o ataque de que o Afonso foi vítima se ficou a dever à violência do próprio Afonso? Não admitem que possa não ter essa origem e que o seu cão, num impulso natural de instinto, se lançou num violento ataque sem explicação? Ou por outra, não admitem a hipótese da explicação estar na natureza do próprio cão (essa sim, eu não discuto e, por isso, recomendo que se actue em conformidade)?
4. Eu, em certa medida, antecipei que não resistissem à comparação entre os homens e os animais (retoricamente, sugeri que me poupassem à típica frase feita). Lamento não ter sido atendido. Mas lamento mais que insistam na comparação. A dignidade do Homem, por muito desprezível que este seja, não permite esse nivelamento em que os meus amigos embarcam. Não faz qualquer sentido (e não quero ser paternalista ao ponto de explicar porquê). Mas, curiosamente, os que se lançam no exercício de comparação com os homens são, por regra, os que me lançam a crítica por querer comparar os cães de raça violenta com alguns animais selvagens. Mas eu esclareço: eu não disse que são animais selvagens (calculo que usem a expressão em sentido técnico). Sugeri – ou afirmei – que comungam de muitas das características desses animais violentos. O que está demonstrado. E, por muito que queiram ignorar, essa violência é, frequentemente, independente dos donos (que, como os meus amigos, podem ser umas jóias de pessoas) e, obviamente, é independente da culpa que os animais não têm porque não podem ter.
5. Eu não levo a mal algumas das acusações que me fizeram. Conheço os seus autores e sei da sua boa fé, recta intenção e, portanto, não atendo ao sentido literal de algumas das palavras que escolheram. Mas dispenso – não o deixo de dizer – que me acusem de egoísta, de baixar o nível para o gajo de bairro (até pode ser elogioso, depende do bairro). Primeiro porque não são bem argumentos. E depois porque não é verdade. Egoísta? Mas egoísta porquê? Baixar o nível? Como assim?
#Saladeestar
quinta-feira, 27 de abril de 2017
quarta-feira, 26 de abril de 2017
É da natureza
Eu se quisesse ter em casa e até passear na rua com um tigre ou um leão não podia. Pouco adiantaria argumentar que aquele animal, em concreto, não tinha qualquer episódio de violência, era dócil com todos e que estava muito bem domado. Fosse com ou sem trela. Com ou sem açaime. Não podia, e muito bem!
Há raças de cães que são autênticos leões ou tigres em potência. Por muito doces que nos pareçam. Por muito bem domados que estejam. Por nenhuns episódios de violência que tenham registado. E como é assim – é da natureza! – deviam ser proibidos como animais domésticos e de estimação. Ponto.
Nem percebo as hesitações, os argumentos e o latim com justificações, até porque não tem nada a ver com a defesa dos animais (eu que acho o tigre um belo animal e uma espécie que deve ser protegida).
PS.1. Um cão de raça com potencial reconhecidamente violento, por acção directa, atacou uma criança de 4 anos deixando-a às portas da morte. As autoridades colocaram o animal na dita «quarentena». Se fosse com o vosso filho de 4 anos (façam o exercício) ...
PS. 2. Poupem-me à frase feita de que há homens que são piores que muitos animais. Não é bem um argumento. A sério.
PS. 2. Poupem-me à frase feita de que há homens que são piores que muitos animais. Não é bem um argumento. A sério.
#Saladeestar
segunda-feira, 24 de abril de 2017
Parecidos
A não declaração de apoio do candidato do Bloco e do Podemos francês - o senhor Melanchon - a qualquer dos candidatos que passaram à segunda volta é todo um eloquente programa.
Reparem no argumento. Quer ouvir os seus apoiantes. Entre Le Pen e Macron, ele bem sabe que não é nada óbvio quem os seus apoiantes preferem.
Tão queridos e tão parecidos. Lá como cá.
#Escritório
Olhos em Macron
Macron não é propriamente alguém que surge de fora do sistema. Tem história bastante de gabinetes e, sobretudo, de governo (há pouco tempo ainda era ministro da economia). A sua ascensão, todavia, deixa-nos algumas sugestões (pelo menos sugestões) e, não o escondo, preocupações (talvez a palavra mais justa seja ansiedades).
A primeira sugestão é a de que as democracias - mesmo as mais consolidadas e relevantes - estão disponíveis para a "bofetada" no sistema tradicional. Não fecham a porta a uma personalidade que surja sem entourage partidária, que desafie os inevitáveis directórios. Por muitos acasos que se tenham conjugado, não deixa de ser impressionante o percurso de Macron. E mais que impressionante, diria que pode ser inspirador.
A segunda sugestão é a da renovação. Não resisto ao sinal da idade. Por muito que insistam, alguém com 39 anos não é obviamente um jovem (em condições normais, é alguém com mais de 15 anos de vida profissional!). Mas em França como em tantos outros países, parecíamos reféns de personagens que nos entram pela casa adentro há mais de 20 anos!
Outra sugestão - talvez a que me saiba melhor registar - é a de que a façanha de Macron não se fica a dever a impulsos primários e populistas. Não permite os lugares comuns "cartão amarelo à Europa", ou "depois do Brexit e de Trump, agora é a vez de França". Fomos poupados a essa narrativa que só confunde.
Do lado das ansiedades está esta sensação de que Macron é, de facto, do sistema e que não transporta essa mudança ou essa nova interpretação do sentimento das pessoas. Fico, aliás, com a sensação de que erra no diagnóstico e que insiste nas receitas que afastam os políticos das pessoas (é desconcertante o jogo de propostas, que vai da redução de funcionários públicos, à redução da tributação das empresas e do peso das contribuições sociais, conjugado com mais investimento público, mais polícias - funcionários públicos... - e lugares nas prisões, incluindo a estafada agenda liberal em matéria de costumes). Posso ser eu, mas não encontro a novidade. E não encontro essa adesão às pessoas que se afastaram e que urge resgatar.
A outra ansiedade - que é uma derivada da anterior, e ao mesmo tempo a que mais me preocupa - é a de que Macron é o que for preciso ser. Não haverá por ali doutrina, convicção ou projecto que possamos antecipar. Posso estar errado, mas o movimento "en marche" é ainda um conjunto inconsistente de pessoas. E em tais circunstâncias, a distância para a desilusão é tendencialmente curta.
#Escritório
quinta-feira, 20 de abril de 2017
Pobres pais
Os meus filhos cumprem o plano de vacinas? Cumprem, mas não posso garantir que o tenham cumprido (ou venham a cumprir) no estrito rigor dos prazos estabelecidos (às tantas a vacina dos 3 meses tomaram aos 4, e a dos 5 anos tomaram já com 6).
Sou irrepreensível no cumprimento dos deveres de zelo para com os meus filhos? Não sou. Claro que não sou. Quantas vezes desprezei o cinto de segurança bem colocado, ou falei ao telemóvel a conduzir, ou me esqueci por momentos de pôr as braçadeiras na praia. E já nem falo das minhas manias (todos temos as nossas e algumas não serão assim tão recomendáveis).
Não procuro esta imperfeição, muito menos dela me orgulho e obviamente que tento evitá-la. A verdade é que são muitas as vezes em que não faço as coisas assim tão bem. E tenho tido sorte. Muita sorte.
Não sou um pai perfeito. Claro que não sou anti-vacinas. E não tenho, felizmente, nenhuma desgraça para contar.
Imagino-me na pele daqueles pais que, como eu, falharam (não necessariamente nas mesmas coisas) mas que não tiveram aquela sorte que me tem assistido. Imagino a dor inacreditável e inultrapassável por que estarão a passar.
E recuso-me a fazer juízos morais (é isso mesmo, não atiro a primeira pedra). Nem que seja por compaixão – já seria uma boa razão. Mas é mais por saber que podia ser eu. Não seriam as vacinas. Seria outro dever qualquer que não cumpro nesta minha imperfeição.
Não paro de pensar nos pobres pais daquela miúda que hoje lhes partiu.
Sou irrepreensível no cumprimento dos deveres de zelo para com os meus filhos? Não sou. Claro que não sou. Quantas vezes desprezei o cinto de segurança bem colocado, ou falei ao telemóvel a conduzir, ou me esqueci por momentos de pôr as braçadeiras na praia. E já nem falo das minhas manias (todos temos as nossas e algumas não serão assim tão recomendáveis).
Não procuro esta imperfeição, muito menos dela me orgulho e obviamente que tento evitá-la. A verdade é que são muitas as vezes em que não faço as coisas assim tão bem. E tenho tido sorte. Muita sorte.
Não sou um pai perfeito. Claro que não sou anti-vacinas. E não tenho, felizmente, nenhuma desgraça para contar.
Imagino-me na pele daqueles pais que, como eu, falharam (não necessariamente nas mesmas coisas) mas que não tiveram aquela sorte que me tem assistido. Imagino a dor inacreditável e inultrapassável por que estarão a passar.
E recuso-me a fazer juízos morais (é isso mesmo, não atiro a primeira pedra). Nem que seja por compaixão – já seria uma boa razão. Mas é mais por saber que podia ser eu. Não seriam as vacinas. Seria outro dever qualquer que não cumpro nesta minha imperfeição.
Não paro de pensar nos pobres pais daquela miúda que hoje lhes partiu.
PS. Não sei o que é uma sociedade machista. Mas o exercício público e publicado a respeito da notícia do dia serve bem para ilustrar. «Mãe é anti-vacinas», «mãe não vacinou a filha desde os dois meses», «mãe isto, mãe aquilo». E o pai? A menina não tinha pai? Foi só a mãe que falhou?
#Saladeestar
quarta-feira, 19 de abril de 2017
Nevoeiro
Qual renda que esconde
Qual manto de mistério
Qual fumo que responde
Qual vento frio e sério
Qual aragem da manhã
Qual frescura já gasta
Qual disfarce de afã
Qual imagem que basta
Qual cor sem cor
Qual amor por inteiro
Qual mulher sem flor
Qual é a tua, nevoeiro?
#Biblioteca
Allez
Não
somos especialmente letrados em política internacional (com política
internacional pretendo referir-me às diversas realidades nacionais de muitos
dos Países que nos vão interessando).
Conhecemos
pouco – mesmo muito pouco – da realidade e das idiossincrasias (fica bem dizer
idiossincrasias) dos Estados Unidos mas poucos de nós resistiram ao comentário
de cátedra sobre o duelo Trump / Hillary. Não fazíamos ideia sobre o
significado da queda da Dilma e sobre a história do seu sucessor, mas não nos
doeram os dedos na hora de postar uma opinião. Dos referendos que grassam (ou
desgraçam) por essa Europa – do já longínquo Grego, passando pelos incontornáveis
britânicos – o da Escócia e o do Brexit –, olhando ainda ao Italiano, e
terminando no Turco deste fim de semana – pouco sabemos para lá dos lugares
comuns, mas não hesitamos em tomar partido e a ensaiar umas ilações de
inteligência e pertinência duvidosas.
Agora
estamos com os olhos em França, de onde nos lançam 4 propostas a evitar
(dizem). A Marine Le Pen da extrema direita (cruzes credo!). O Mélonchon da
extrema esquerda (vá de retro!). O Fillon, retrógrado e a acumular escândalos
(ai de quem o defender!). E o Macron, que dá mau nome à esquerda ou ao centro porque é pelo
sistema (sistema em sentido pejorativo, como é óbvio). Está bom de ver que não é
fácil. Eu, que há muitos anos que me especializei em lugares comuns (não me
estou a pôr de fora, estão a ver?) já só me movo pelo elementar. E o elementar –
convém lembrá-lo – ainda é a preservação deste espaço de paz, de integração, de
democracia e de liberdade, que é a Europa sob o «jugo» da União Europeia. Sei bem
que é démodé, mas ainda sou europeísta convicto, daqueles que olha com
admiração e inspiração para um Adenauer, um De Gasperi ou um Schuman (sim, continuo a achar que eles é que estavam certos).
#Escritório
segunda-feira, 17 de abril de 2017
Claques
Há uma claque permanente de comentadores, repórteres, adeptos, e por aí fora, que gosta muito de praguejar que as claques são perniciosas, às tantas nem deviam existir, mas que seguramente têm demasiada importância.
Depois é vê-los - os mesmos - a darem honras de primeira página aos Fernandos Madureiras, a promoverem directos e exclusivos com declarações sobre tudo e mais alguma coisa, a difundir comunicados, a indignar-se com cânticos (com cânticos?!) porque são primários e indignos (descobriram agora?).
Depois é vê-los - os mesmos - a darem honras de primeira página aos Fernandos Madureiras, a promoverem directos e exclusivos com declarações sobre tudo e mais alguma coisa, a difundir comunicados, a indignar-se com cânticos (com cânticos?!) porque são primários e indignos (descobriram agora?).
Mas de onde lhes vem a importância que têm? Ou que não têm?
PS. Eu de pequeno que acompanho o fenómeno (sempre à distância, embora mais de perto na minha adolescência). Não dispenso as claques. Talvez infelizmente, mas não dispenso. Sem a sua entrega os nossos estádios pouco ficariam a dever a um sarau do lar da misericórdia (que são excelentes e louváveis, mas não para ver e sentir o futebol). E sim. Falta-lhes transparência, controlo, "estado de direito" em sentido lato. Mas não é um problema exclusivo das claques. E se lhes derem menos importância, seguramente que terão menos poder.
#Saladejogos
#Saladeestar
quarta-feira, 12 de abril de 2017
Gerações
Eu
gostava de dizer – ou de deixar dito – que neste jogo de gerações rascas, em
que as anteriores tanto gostam de exibir a sua superioridade comportamental
sobre as seguintes
(caso para perguntar com quem terão aprendido?), fujo o mais que posso do
teatro de indignados.
Não
tenho quaisquer ilusões. No meu tempo (o que dói assumir a expressão «no meu
tempo»!) éramos capazes disto tudo. Não éramos nem melhores nem piores que os
de hoje. E suspeito que dos que nos precederam.
Não
é desculpa para os de hoje. Nem para os de ontem, já agora. O que está mal hoje
estava mal ontem (que fique claro). Mas não
vale esse argumento do «no meu tempo não era assim». Porque era. Há várias gerações que, se estivermos a jeito, sabemos
ser selvagens.
PS. Não estou
aqui a tratar de outras questões. Como a facilidade e quase incitamento. A ausência
de censura ou desculpabilização. E a cultura de impunidade. Aí até pode haver diferenças.
Mas não são boas. Especialmente para a geração dos indignados.
#Saladeestar
terça-feira, 11 de abril de 2017
Semana Santa?
Porque não temos aulas, pensarão os alunos.
Porque estamos de férias, pensarão os que se banham pelos Algarves, pelo campo ou por esse mundo, em viagens justas e retemperadoras.
Sim. E não. Sim, porque uma semana dessas é santa por natureza. Mas não, esta não se diz Santa por causa disso.
O mistério desta semana – que persiste na tradição de quase todos e na devoção de muitos ainda – é esse evento inexplicável e incrível do próprio Deus, feito homem, se entregar por amor em nosso resgate. Sem paliativos. Sem loas. Na mais absoluta e humilhante doação.
E depois – bem depois – já sabem (sabemos todos). A vitória sobre a morte que dá «razão» à nossa fé.
Entre o maravilhoso sol e o calor deste ano que a semana seja (também) Santa para todos!
#Jardim
Porque estamos de férias, pensarão os que se banham pelos Algarves, pelo campo ou por esse mundo, em viagens justas e retemperadoras.
Sim. E não. Sim, porque uma semana dessas é santa por natureza. Mas não, esta não se diz Santa por causa disso.
O mistério desta semana – que persiste na tradição de quase todos e na devoção de muitos ainda – é esse evento inexplicável e incrível do próprio Deus, feito homem, se entregar por amor em nosso resgate. Sem paliativos. Sem loas. Na mais absoluta e humilhante doação.
E depois – bem depois – já sabem (sabemos todos). A vitória sobre a morte que dá «razão» à nossa fé.
Entre o maravilhoso sol e o calor deste ano que a semana seja (também) Santa para todos!
#Jardim
quinta-feira, 6 de abril de 2017
E nós, o que dizemos?
Cada vez é-me mais difícil. Não perder a sensibilidade, por um lado. Não me indignar, ainda do mesmo lado. E conseguir perceber o que motiva e o que explica a barbárie orquestrada, por outro.
É verdade e compreensível que nos correm mais facilmente as lágrimas quando as vidas tombam à nossa porta ainda que em números menos impressionantes (em Londres, em Paris, em Nice, em São Petersburgo, e por aí fora). Lá longe, nesses Iraques, Líbias e Sírias que não conhecemos e que se confundem na nossa geografia ignorante, a torrente de atentados, de ataques, de desgraças e desastres é de tal ordem que quase os enxotamos para um canto remoto das nossas preocupações rumo à indiferença e banalização.
Apesar de tudo, a força das imagens, os testemunhos de amigos e conhecidos que não comungam da nossa ignorância e dão o corpo ao manifesto (Gustavo Carona, Tiago Filipe V. Cardoso, Mariana Vareta, Irene Guia, que não vos doam os dedos e não vos falte a coragem!), mantêm-nos ligados, qual velinha que resiste acesa. E a eles vamos devendo a comoção que ainda sentimos.
Mas não basta, é miseravelmente escasso e é sobretudo inconsequente.
Desta vez, o cenário de morte, de dor, de desumanidade, provocado por mais um ataque químico indiscriminado, volta a sobressaltar a minha consciência. É insuportável ver o sofrimento daquelas pessoas (e então das crianças indefesas …).
Infelizmente, não me surpreende a capacidade diabólica que os homens têm de perpetrar sofrimentos e danos em grande escala. Há um instinto de desumanidade na natureza humana que não é exclusiva do nosso tempo e está provada à saciedade.
Sobram sempre os apelos à comunidade internacional (aos Estados, à ONU, à UNICEF, e por aí fora). O problema é que estes apelos difusos a entidades desfulanizadas não servem e desresponsabilizam. Há uma dimensão pessoal que continuamos a não assumir.
A cada um de nós cabe, em primeiro lugar, controlar o instinto de indiferença. Depois, assumir a causa dos direitos humanos (refiro-me à paz, à liberdade, à vida, aos direitos mais elementares, e não aos ocidentais e florais que só servem para distrair). E depois, ainda, fazer sentir em casa (nas nossas comunidades, nas nossas associações, nos partidos em que militamos, nos programas políticos que apoiamos, nos orçamentos que aplaudimos) que os direitos humanos à escala global são uma prioridade. Eu não sei o que os nossos partidos, os nossos governos, os nossos orçamentos, dizem sobre estas crises e necessidades da condição humana. Em 2015, em plena crise dos refugiados, nada diziam (que eu fui ver). Hoje suspeito que se mantém o silêncio. O que diz muito de nós. Ou pouco.
É verdade e compreensível que nos correm mais facilmente as lágrimas quando as vidas tombam à nossa porta ainda que em números menos impressionantes (em Londres, em Paris, em Nice, em São Petersburgo, e por aí fora). Lá longe, nesses Iraques, Líbias e Sírias que não conhecemos e que se confundem na nossa geografia ignorante, a torrente de atentados, de ataques, de desgraças e desastres é de tal ordem que quase os enxotamos para um canto remoto das nossas preocupações rumo à indiferença e banalização.
Apesar de tudo, a força das imagens, os testemunhos de amigos e conhecidos que não comungam da nossa ignorância e dão o corpo ao manifesto (Gustavo Carona, Tiago Filipe V. Cardoso, Mariana Vareta, Irene Guia, que não vos doam os dedos e não vos falte a coragem!), mantêm-nos ligados, qual velinha que resiste acesa. E a eles vamos devendo a comoção que ainda sentimos.
Mas não basta, é miseravelmente escasso e é sobretudo inconsequente.
Desta vez, o cenário de morte, de dor, de desumanidade, provocado por mais um ataque químico indiscriminado, volta a sobressaltar a minha consciência. É insuportável ver o sofrimento daquelas pessoas (e então das crianças indefesas …).
Infelizmente, não me surpreende a capacidade diabólica que os homens têm de perpetrar sofrimentos e danos em grande escala. Há um instinto de desumanidade na natureza humana que não é exclusiva do nosso tempo e está provada à saciedade.
Sobram sempre os apelos à comunidade internacional (aos Estados, à ONU, à UNICEF, e por aí fora). O problema é que estes apelos difusos a entidades desfulanizadas não servem e desresponsabilizam. Há uma dimensão pessoal que continuamos a não assumir.
A cada um de nós cabe, em primeiro lugar, controlar o instinto de indiferença. Depois, assumir a causa dos direitos humanos (refiro-me à paz, à liberdade, à vida, aos direitos mais elementares, e não aos ocidentais e florais que só servem para distrair). E depois, ainda, fazer sentir em casa (nas nossas comunidades, nas nossas associações, nos partidos em que militamos, nos programas políticos que apoiamos, nos orçamentos que aplaudimos) que os direitos humanos à escala global são uma prioridade. Eu não sei o que os nossos partidos, os nossos governos, os nossos orçamentos, dizem sobre estas crises e necessidades da condição humana. Em 2015, em plena crise dos refugiados, nada diziam (que eu fui ver). Hoje suspeito que se mantém o silêncio. O que diz muito de nós. Ou pouco.
#Saladeestar
#Escritório
#Jardim
quarta-feira, 5 de abril de 2017
Não sei como se diz um abraço em russo
Tenho um carinho especial por São Petersburgo. Por entre aqueles majestosos palácios, monumentos, jardins, estações de metro, museus, catedrais, avenidas e becos, sente-se a intensidade da história como em poucos lugares.
Da literatura à arquitectura. Do Ballet à pintura. Da resistência, à tensão política e religiosa. Da amargura à arrogância até. E sempre pela medida grande, com uma sumptuosidade que quase abafa.
Na expressão do vulgar vendedor de jornais, no espalhafato dos noivos que se passeiam em limousines insufladas, na dureza e mesmo exigência das distâncias. Em São Petersburgo prevalece o autêntico, com toda a naturalidade (quase a tocar a agressividade). Chega a ser revelador o regresso ao seu nome de sempre.
Talvez outros lugares (seguramente que sim) tenham sido mais marcados pela história. Mas não sei se algum a conserva tão respirável e marcada.
Há qualquer coisa de São Petersburgo no meu Porto. Ou de Porto em São Petersburgo. Também por isso senti mais o terrível atentado desta semana. Um abraço para lá.
#Saladeestar
#Escritório
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#Escritório
Sem sinal
Não tenho estado muito atento. Nem sequer estou em Portugal. E vou tendo rede e dados no telemóvel com alguma intermitência.
Refém da mesma Inbox e das páginas de internet outrora consultadas (que ficam congeladas até ao próximo "sinal"), vou perdendo o interesse e a esperança. A da novidade seguramente.
Se antes me serviam notícias da Caixa, agora servem do Montepio. Se antes era o Carlos Santos Silva e o Sócrates, agora é o Zeinal e o Granadeiro. Onde estavam as boutades sobre o populismo em França, agora estão os lugares comuns do Brexit. Até a praga dos recordes anda à solta (com o défice do orçamento a querer rivalizar com os golos do Ronaldo). E claro os não assuntos de primeira página. Desta vez é o busto, depois de ter sido a besta (esse, o holandês).
O que é que eu acho? Nada. Ou por outra, é sinal de que está tudo na mesma. Digo eu, que estou sem sinal.
#Saladeestar
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