Na longa reportagem que o Público deu à estampa
sobre a partida aos 94 anos de George H. Bush – em que nos era contado quem foi
e o que representou esse homem que, entre outras coisas, foi embaixador do EUA
na China, presidente da CIA, 8 anos vice-presidente de Ronald Reagan, 4 anos
Presidente dos EUA –, nessa longa reportagem do Público, dizia, as «gordas» com
honras de primeira página e repetidas ad nauseam eram a de que partiu «um homem
sem qualidades». Isso mesmo, «um homem sem qualidades». As aspas (também
presentes na notícia e no destaque) talvez ali estivessem para não comprometer
(como quem diz, era o que dele diziam). Mas era mesmo esse o destaque.
Confesso que me impressiona a ousadia do «homem
sem qualidades», ainda que entre aspas e em citação. Dizer que é caricato, é
curto. É que para lá da sua impressionante folha de serviços estaremos sempre a
falar do líder da ordem mundial contemporâneo da desagregação da União
Soviética, da reunificação da Alemanha, no fundo, da consagração dos EUA como o
vencedor da Guerra Fria. Tenho a sensação (se não mesmo a certeza) que muito
ficamos a dever à sua magnanimidade, moderação e perfil genuinamente democrático na hora da vitória.
Nada mau para um «homem sem qualidades».
Ainda sobre George H. Bush (o Bush pai, como
depois foi sendo conhecido) talvez valha a pena relevar um dado sintomático (não
é bem um dado, é mesmo uma «qualidade», já agora arrisco na palavra).
Foi o último presidente republicano dos EUA que passou relativamente à margem
do desprezo e altivez (que vem evoluindo para o ódio) da opinião publicada
dominante na Europa. Depois tivemos o Bush filho, e agora o Trump ainda em
exercício. A internet, os blogues, e, sobretudo, as redes sociais por nascer
talvez expliquem. Talvez. O que sei é que foi mesmo o último presidente
republicano que não nos venderam insistentemente como estúpido e como tendo
sido eleito por estúpidos. Foi, portanto, o último presidente republicano que, estupidamente,
não fomos obrigados a odiar.
#Escritório
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