Já não me consola (nunca consolou, em boa verdade) a ideia que vamos
tendo de que as tragédias acontecem sobretudo aos outros e não à nossa
comunidade e país. Os acidentes impressionantes, as histórias caricatas,
se não mesmo macabras, assolam os outros (uma universidade nos Estados
Unidos, um acampamento na Noruega, uma ponte em Itália, um desabamento
no Brasil, e por aí fora).
Nos dias que passam, os incêndios, as pontes, os desabamentos, levam-nos os nossos e tocam-nos à porta.
O que talvez ainda não tenha mudado - e, ao que se sabe, impressiona
especialmente na tragédia de ontem com o helicóptero do INEM - é que o
nosso estado de alerta ou de sobreaviso ainda é tributário daquela ideia
de que só acontece aos outros.
Em Pedrógão como nos incêndios de
15 de Outubro, no desabamento da estrada de Borba como ontem na queda
do helicóptero do INEM, a reacção diz muito de como ainda nos vemos à
prova de fatalidades.
A estrada da morte em Pedrogão não foi
cortada a tempo porque ninguém estava devidamente alerta. A louca
profusão das chamas a 15 de Outubro cavalgou livre e sem consciência
colectiva horas a fio porque, nesse fatídico domingo, os comandos
operacionais ou não estavam ou não comandavam. A estrada de Borba esteve
em equilíbrio entre margens eloquentemente despidas, porque se confiou
para além do limite que a urgência não se revelaria. E ontem, o primeiro
telefonema para o 112 passou pela GNR local sem consequência e sem
demais mobilização tendo decorrido mais de 2 horas até que se tomasse
consciência da tragédia. Talvez não fizesse diferença. Talvez seja até
mal comparado. Mas o padrão repete-se. E desta vez com a triste ironia
de ser uma urgência relativa a um helicóptero e a agentes do INEM (um
dos serviços de urgência mais relevantes).
É urgente (urgente
aqui não é jogo de palavras) sermos capazes de cortar uma estrada num
incêndio, de mobilizar os serviços num cenário de catástrofe, de
percebermos que um helicóptero caiu com a prontidão do “minuto
seguinte”.
Mais do que qualquer outra, essa seria a melhor
homenagem a esses bravos que vivendo a salvar vidas ontem perderam as
suas ao nosso serviço.
#Escritório
#Saladeestar
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