O meu querido amigo Francisco Mendes da Silva veio hoje dissertar – com a sua habitual elegância literária – sobre o conservadorismo em que se revê (este artigo no Jornal de Negócios). No caso, a incursão no tema servia para se apartar do estilo agora ensaiado pela novel primeira‑ministra britânica, Theresa May, que, segundo ele, enveredou pelo proteccionismo reaccionário (os adjectivos são meus). Não será esta a motivação do meu comentário (não comungo, em intensidade, da vibração do Francisco com o que se passa em terras de sua majestade). Eu gostava de recuar ao «seu» conservadorismo (e ao de Michael Oakeshott e de João Pereira Coutinho, que ele cita no seu artigo).
Se tendencialmente me sinto confortável com a ideia de que devemos preferir «tirar partido das possibilidades do presente» em vez de «ansiar por passados irrecuperáveis ou futuros incertos» e de que a exigência com a mudança é uma predisposição essencial (a importância da tal «pedra na engrenagem» de que fala João Pereira Coutinho e que o Francisco recupera) não creio que a acção política se possa alimentar de tão pouco. A ideia (ideia no sentido literal) tem de ter mais espaço, o propósito de conformação em liberdade da sociedade, a fixação de limites (sem receio da radicalidade, se necessário), a afirmação de valores (ou a não cedência nos essenciais). No fundo, uma doutrina de substancia (seja a doutrina social da Igreja, seja o socialismo democrático, seja o liberalismo, seja o comunismo) faz parte e não vejo porque não deva fazer com significado. Coisa diferente – aqui reaproximo-me do Francisco – é a de que a acção política (seja ela qual for) se deve orientar pelo senso comum, com temperamento, respeitar e ter presente a natureza humana, a moral, a tradição, a comunidade, a experiência. Aí estou de acordo. E já sabia que estava.
No fundo, o que queria dizer é que o conservadorismo como expressão de gestão corrente (agora é a minha vez de criar expressões) deve conviver com ideias. Eu percebo o sublinhado do Francisco. Em tempos de falta de bom senso e de temperamento, talvez seja boa ideia recuperá-los como doutrina política. Mas não deixa de ser insuficiente.
#Escritório
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