quarta-feira, 26 de outubro de 2016

3 anos de Rui Moreira

Se com um ano de mandato é prematuro, e com dois ainda não é suficiente, volvidos três anos à frente da Câmara do Porto estamos já em condições de ensaiar um balanço (que se há-de completar, naturalmente, daqui a um ano).

Aspectos positivos:

1.
Dinâmica cultural. Os primeiros dois anos foram de tal modo fervilhantes que o embalo é imparável. O Porto é já – ele próprio – expressão de dinâmica cultural. Talvez se possa sinalizar este último ano com a «conquista» da polémica colecção Miró do BPN. Mas podia isolar a feira do livro, os concertos de música clássica na avenida ou a D’bandada, por exemplo. Ou a «descoberta» do património, agora explorado com outra organização (a torre dos clérigos será o caso mais icónico). Depois da inesperada partida do genial vereador Paulo Cunha e Silva, os legítimos receios de desaceleração foram infirmados. Não lhe podia ser feita melhor homenagem.
2.
O destino. O Porto consolidou-se e cresceu vertiginosamente como destino. Não é só o número impressionante de turistas. É mais a expressão cosmopolita que o Porto ostenta, com a criação e recriação de espaços, de soluções urbanísticas e paisagísticas. Com o «espevitar» das nossas instituições culturais, patrimoniais ou universitárias (são milhares os estudantes estrangeiros). E se os méritos primeiros estão nas pessoas, na sociedade civil, há que reconhecer que o modo como o Porto se abre é também mérito do seu executivo camarário.
3.
Foco na zona oriental da cidade. Ainda não se consegue medir como devia, mas é justo reconhecer que se olharmos aos maiores investimentos eles foram na área social e nos bairros da zona oriental da cidade. Vibro com o despertar da cidade «conhecida» para esta cidade «adiada» e reservo enormes expectativas para o projecto do matadouro municipal.
4.
Escolas – valorização dos espaços exteriores. Tenho vindo a sinalizá-lo todos os anos e, felizmente, vejo razões para renovar esse sublinhado. A reserva dos espaços de recreio face ao exterior das escolas faz todo o sentido (o que nem sempre é possível porque há muitas escolas cujos recreios estão sob as janelas de prédios, sobretudo em bairros sociais). A recuperação generalizada dos espaços exteriores das escolas (os únicos espaços onde muitas crianças brincam, como lembrava o próprio Rui Moreira) segue e deve ser saudada;
5.
Higiene e espaços verdes. Já vinha de trás, mas é uma marca da cidade que me orgulha muito. O Porto é uma cidade limpa e com espaços verdes incríveis e cada vez mais reabilitados;
6.
Abertura a todos. Sou muito sensível à ideia de que todos os cidadãos se devem sentir representados na sua Câmara Municipal. Esse sentimento tem sido possível e desejado, com enorme mérito do actual executivo. Este ano, por exemplo, a mão foi estendida ao vereador Ricardo Valente a quem inteligentemente foi atribuído um relevante pelouro.
7.
A Baixa. Está intimamente relacionada com tudo o que disse (dinâmica cultural, o destino Porto, a higiene, a abertura). A Baixa do Porto já saiu do controlo. E se a Câmara Municipal tem pouco a ver com o que os milhares de privados decidiram fazer, é justo reconhecer que soube tirar partido desse fenómeno. Com eventos, com agenda e sobretudo com o alargamento da área relevante da baixa (numa lógica de disseminação e contaminação).
8.
Finanças. Quem olha para o orçamento municipal para 2017 percebe que a Câmara está a fazer um excelente trabalho sob o ponto de vista financeiro. O aumento expressivo do investimento, conjugado com a redução dos impostos municipais, é uma lição que me orgulha.

Aspectos menos positivos:

1.
Pouca dinâmica na manutenção da rede viária. Não obstante o «movimento» mais intenso dos últimos meses, continuo a achar que a pequena manutenção ficou aquém do necessário e possível. Não estamos a falar das grandes obras, mas simplesmente das reparações de buracos e de repavimentações. Conseguiria, sem esforço, nomear dezenas de ruas (da zona ocidental à oriental) que carecem de manutenção. A ver se este último ano me apaga esta crítica!
2.
A paisagem por recuperar. Se em cima, nos aspectos positivos, destacava o enfoque na zona oriental, também terei de a destacar nos aspectos menos positivos. Passaram 3 anos e a assustadora porta de entrada da cidade que é a Estação de Campanhã continua incólume no seu terceiro mundismo. Os acessos, o asseio, o aspecto geral, são demasiado penosos. O acordo do Porto – que garantirá verbas para o novo terminal e demais investimentos previstos – teima em transitar dos anúncios para o terreno. E é urgente! E, já agora, pergunto também pelo Parque Oriental – para quando o seu crescimento para que se possa afirmar como polo de lazer e de atracção numa cidade que tem de ser territorialmente mais equilibrada?
3.
O prado do repouso. Tal como Campanhã - aliás, o prado do repouso é na freguesia de Bonfim e quase na de Campanhã - é um local de enorme frequência e que marca para muitos a imagem que levam da cidade. Os acessos e o asseio urbanístico até ao cemitério recomendam uma intervenção prioritária da Câmara.
4.
Palácio de Cristal. Sou suspeito porque tenho naqueles jardins e naquele pavilhão um canto a que gosto de voltar muitas vezes. Há ali demasiado potencial por explorar. E o estado do pavilhão - para multiusos ou centro de congressos - é triste. E mais triste é não perceber para quando uma intervenção da Câmara passados que estão 3 anos e depois de tanto debate.
5.
Alguma sobranceria. Não consigo fugir ao tema. Reivindicamos há muitos anos uma liderança que nos represente, que tome as nossas justas dores, que o faça com rigor e seriedade. Se é certo que Rui Moreira interpretou bem essa sua missão e até logrou escalar a difícil barreira mediática, é também importante advertir para os momentos dispensáveis que protagonizou. Não gostei do despique com o Alcaide de Vigo, até porque Rui Moreira tinha razão. Tem de ser superior aos seus ímpetos verbais, sobretudo para que não perca a razão que tem.
6.
Trânsito. Não sei o que se passa. Se é por haver mais carros, se é pela sincronização dos semáforos ou se é pela organização viária (que tem sofrido algumas alterações). O que sei é que o trânsito está caótico e piorou muito neste último ano.
7.
Equipa. Falta músculo para lá do presidente. A saída inesperada de Paulo Cunha e Silva - com o seu protagonismo e espaço próprios - não ajudou com certeza.

Conclusão:

Venho fazendo uma avaliação global francamente positiva. Passado mais um ano reitero animado essa avaliação. Mantenho o espírito crítico porque gosto de ser exigente. Mas é justamente por ser assim que não hesito nos elogios e, com honestidade, procuro apontar o que julgo não estar tão bem.
Sei também que há muitas mais razões para elogiar. E haverá explicações e atenuantes para as críticas que faço (não é possível ir a todas, dirão com razão).
E há ainda um ponto - que só serei capaz de avaliar no final - que é a área da economia e do emprego. No fundo, os dados da atracção de investimento. Suspeito que será o «prato forte» quando olhar para o mandato. Ainda bem!
Por mim, continuo a acompanhar, a viver e a vibrar com o Porto que tanto amo.

#Escritório
#Salaodevisitas

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