O que mais me incomoda (e desculpem estar
sempre a voltar ao tema) não é esta coisa de serem 64 ou 65, ou 80 vítimas
mortais. Fossem muito menos e estaríamos sempre, obviamente, perante uma enorme
tragédia. E o número de vítimas não é de esquerda ou de direita. Nem deve ser
causa de disputa política. Uma coisa é uma tragédia – que todos estamos
convencidos que poderia ter ocorrido às mãos de qualquer governo – outra coisa
é a reacção do Estado, naturalmente tutelado por um governo em concreto.
Eu tenho profunda pena – lamento quase ao ponto
de sentir vergonha – que um governo (não interessa se é da minha simpatia), num
contexto como o que enfrentámos de enorme tragédia, não tenha sido capaz de transmitir
uma imagem de comando, de controlo, de gestão rigorosa e profissional das operações.
Lamento que nos tenha sido apresentada uma ministra da administração interna que
não serve nem nunca serviu (e eu digo isto porque o meu desejo era o de que tivéssemos
um titular da pasta com competência e pulso, porque os há como é óbvio no PS e na
sua área de influência). Lamento que os serviços do Estado também não tenham
estado à altura do momento. É a partir daí que eu passo para o chamamento à
responsabilidade do Governo. Não se trata de lhe assacar a tragédia
propriamente dita (insisto: seria desonesto não reconhecer que ela poderia ter
ocorrido às mãos de qualquer governo). Trata-se, sim, de lhe assacar a falta de
comparência e de elevação. E, obviamente, trata-se também de lhe perguntar pela
bandalheira e contradição dos serviços que tutela, por essa prioridade meio
macabra do «focus grupo», e pela desconfiança com que contaminou a informação
sobre tudo e mais alguma coisa.
A dúvida dos últimos dias a propósito do número
de vítimas mortais e dos critérios assumidos pelo Estado nessa contabilização
só foi tema porque não houve essa liderança e clareza. Pelo contrário, houve
opacidade, gestão de popularidade, lançamento de dúvidas e perguntas de quem
esperávamos respostas e certezas (na medida em que estas fossem possíveis).
Ai afinal confirma-se que são mesmo 64 as vítimas?
Ainda bem, que eu não chafurdo nem nunca chafurdei no tema. Mas lamento que o
ambiente gerado pelos protagonistas principais tenha consentido a dúvida.
A pergunta é retórica: como avaliam a reacção e
a organização dos vários serviços públicos e dos vários membros do governo à enorme
tragédia de Pedrógrão Grande? Ocorrem-vos termos como «irrepreensível», «impecável»,
«organizada», «transparente» e «elevada»? Associam aos protagonistas que nos
foram exibidos uma imagem de comando e liderança?
#Jardim
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