As fraudes eleitorais
não se medem tanto pelo não cumprimento de uma série de promessas (de tão
generalizada e de tão esperada, essa modalidade de fraude talvez já não sirva
de argumento de deslegitimação). A nova fraude eleitoral – mais impressionante
e mais perigosa – é-nos revelada pela adesão disfarçada ao essencial do programa combatido
e de cujo combate nasceu o mandato ou a legitimidade para governar.
Podíamos
falar de Portugal (expressões como «fim da austeridade», «virar de página» ou
«fim da obsessão pelo défice» soam-nos e ressoam-nos na cabeça, transpiram
reserva mental e não colhem no confronto com a prática se estivermos disponíveis
para a avaliar desapaixonadamente). Sobram operações superficiais de cosmética
(cada vez menos eficazes) e uma generosa paciência (para não dizer conivência),
das instituições e da comunicação social.
É a esta luz
que a entrevista ao Guardian de Alex Tsipras, do Syriza (o irmão grego do BE) é
especialmente eloquente. E só surpreende pela franqueza (essa sim, nada comum, em
contraste com o costumeiro disfarce e reserva mental). Nesta entrevista, Tsipras
não apenas reconhece a sua impreparação e os grandes erros que cometeu, como
enfrenta a ligeireza do seu «plano B», a ilusão de uma Grécia isolada, fora da
Europa e do Euro. E, no fundo (em jeito de mea culpa) assume o cumprimento de
um programa que não tem nada a ver com o que apresentou ao eleitorado e que corresponderia,
sem grandes diferenças, ao seguido pelo partido «deposto».
Acaba por ser
extraordinário que, apesar da estrondosa e confessada fraude eleitoral, Tsipras
não se coíba de se exibir «peito feito» porque – é essa a razão do seu orgulho – a
ele ninguém o poderá acusar de corrupção, desonra ou aproveitamento dos
recursos do Estado.
É esta a
frase:
«Se
for à rua e perguntar sobre o governo, muitos podem dizer ‘mentirosos’, mas
ninguém vai dizer que somos corruptos ou desonrosos ou que colocámos a mão no
pote de mel».
«Portugal não é a Grécia». É o que se diz…
#Escritório
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