A história é simples.
Um desses gentleman clubs de «prestígio», em
Londres, (daqueles discretos, reservados a homens influentes) organizou o seu jantar
anual de caridade.
Se ficássemos por aqui, os ingredientes já não
eram poucos: só homens, influentes, clube reservado, jantar anual de caridade.
Estamos todos a imaginar o potencial da coisa, mas não era suficiente para ser notícia (e podia nem haver nada digno de notícia).
A completar o «menu» o jantar (para 360 homens)
contava com 130 «hospedeiras» (130!), escolhidas e entrevistadas previamente,
com dress code preciso (fardas pequenas e lingerie a condizer), todas avisadas
de que poderiam ser importunadas (pelos homens influentes) e que poderiam ir
beber alguma coisa com quem «achassem mais atraente». No programa
constava ainda um after-party.
Estão a ver o menu não estão? Muitos homens.
Com poder e dinheiro. Jantar de luxo num hotel. Muitas hospedeiras escolhidas e
vestidas a «rigor» devidamente avisadas do «cenário». After-party. Enfim, estamos
todos a ver o filme.
Podemos ver isto de muitas perspectivas.
Pode ser uma manifestação de hipocrisia social –
em que a reboque de uma causa boa (arrecadação de fundos para fins caritativos)
se organiza um evento que é sobretudo uma manifestação de fausto e de poder.
Pode ser um retrato eloquente da decadência
moral das nossas elites ou, se quiserem, simultaneamente, um exemplo sofisticado
(mas transparente) da mercantilização da mulher e de que ao poder e ao dinheiro
tudo é permitido.
E depois, dependendo dos olhos, tanto pode ser mais
um caso de que a sociedade ainda não evoluiu, havendo resquícios de coutada
masculina sem respeito pela dignidade das mulheres, como pode ser um caso de negócio
entre adultos que até fica aquém do tema que por aí se discute da legalização da
prostituição (para este tipo de olhos – que não os meus! – nem sei bem que tipo de censura se fará).
Eu por acaso valorizo uma outra perspectiva. A
mim agrada-me francamente que um evento destes, com estes ingredientes, seja
notícia no Finantial Times. E agrada-me que mereça investigação num tom de
denúncia e de indignação. É sinal que ainda guardamos algum módico de sensibilidade.
Revela que não nos é indiferente e que ainda gera desconforto sabermos de um
evento em que 130 mulheres são contratadas (pagas) para servirem 360 homens
poderosos num jantar de luxo (com os pormenores do dress code, dos avisos e tudo o mais). Isto ser notícia? Que boa notícia, devo dizer.
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#Saladeestar
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