Há um ano a divulgação das imagens de um enorme
naufrágio, com as pessoas a desaparecerem no mar, despertaram a nossa
sensibilidade para o drama dos refugiados. Mas foi com a fotografia horrível
daquela criança entregue pela espuma da maré que a nossa sensibilidade ficou
genuinamente exacerbada. Era demasiado real e chocante para não gerar um
impulso de disponibilidade, ainda que difusa.
Confesso que por algum tempo alimentei a
esperança de que aquelas vidas não se teriam perdido em vão. Internamente, projectei
essa esperança no processo eleitoral em curso e nos programas que cada partido
então preparava. Achava que fariam eco do «bruá» colectivo que momentaneamente
a causa dos refugiados experimentava. Foi curta e vã a minha esperança. A pobreza
dos programas – de todos os programas – estava totalmente alinhada com o
calculismo e o jogo político que os Estados exibem, sem pudor e sem humanismo,
nos acordos e verbas que com pompa anunciam.
Enquanto tiver consciência farei um esforço para não me ser indiferente. E procurarei que à minha volta o sofrimento e a desgraça alheia nunca sejam indiferentes. Sei que só faço o mínimo – diariamente, ao deitar e ao acordar, junto-me aos meus filhos para pedir pelos que mais sofrem (especialmente as crianças como eles).
Mas apetecia-me fazer-me à estrada. E à pergunta «o que levarias na mochila» responderia tão simplesmente com «nada». Levaria os braços abertos para abraçar aquelas crianças abandonadas e apresentava-lhes a cara envergonhada para um enorme pedido de desculpas.
#Jardim
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