Várias vezes lhe invejei o virtuosismo. Chegava a irritar-me com a dependência que dele tínhamos. E impressionava-me os mil e um ofícios de que era capaz.
Ontem, como hoje, qualquer problema solta o desabafo "é preciso chamar o homem". Pode ser uma janela que fecha mal, um candeeiro que não acende, uma torneira que pinga, o estuque da parede que caiu, qualquer electrodoméstico éstico que não funciona. Até para carregar móveis mais pesados.
Ao leve sinal de uma pequena patologia ou necessidade em casa, lá se ouve um "é preciso chamar o homem".
Com tanta arte e dependência do homem, é impossível a qualquer rapazito não querer ser homem um dia. Só não é tão completamente assim porque, como com quase todas as ilusões de infância, o tempo encarrega-se de desfazer o mito. Percebemos que o homem tem vários nomes, que não é sempre o mesmo, que nem sempre é competente. O "é preciso chamar o homem" chega a ser uma forma de pôr fim à conversa (suspeita-se que a avaria não tem solução, não se sabe sequer que homem se há-de chamar, mas não apetece alimentar a conversa, caso em que o "é preciso chamar o homem" vem sempre a calhar).
Por muita concorrência que lhe ergam (a começar pelos imensos incentivos modernos do "faça você mesmo"), por muito que lhe apontem o preconceito sexista (ainda há espaços de convivência imunes à perseguição do BE), por maior que seja a ignorância sobre quem é o artista em concreto, "o homem" ainda é uma instituição.
Para mim não tem problema nenhum. Para quem tiver não sei que lhe faça. Ou então que chame o homem ...
#saladeestar
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