Há uma série de frases feitas (algumas não são bem frases feitas, são mais expressões de experiência) sobre a sucessão de efemérides por que vamos passando à medida que os anos "simbólicos" se acumulam.
Fazemos 10 anos, depois 12, 16, 18 e 21 (21 é mais uma herança, uma espécie de resquício do tempo em que a maioridade não se alcançava aos 18). Passamos, depois, pelos 25 e pelos 30, até chegarmos aos 40 (por estes dias, festejo vários 40's, antes de eu próprio - se aguentar mais um ano - lá chegar).
Os anos propriamente ditos pouco me dizem. Qual é bem a diferença entre fazer 29 ou 30 anos? Ou 39 ou 40? Ou, lá atrás, 18 ou 19? Muito mais marcante que a idade em concreto é cada uma das fases que vivemos (como a fase das "primeiras saídas à noite", ou a fase da faculdade, a fase dos primeiros anos de trabalho, a fase dos filhos a nascer, e por aí fora, pondo de lado o facto óbvio de cada um ter o seu percurso, a sua própria sorte e o seu ritmo).
No caso dos 40, há de facto, uma diferença. Não tem bem a ver com a fase em que cada um está. Tem mesmo a ver com a efeméride de fazer 40 anos. Os 40 - essa "ternura" musicada pelo velho Paco Bandeira - traz-nos, como nunca antes, a memória do tempo dos nossos pais.
É que todos nós (ou quase todos) não nos lembramos dos nossos pais fazerem 18 anos. Nem 25, nem sequer 30. Mas lembramo-nos bem de viverem e festejarem a viragem dos 40. E dessa constatação até ao remorso (algum), até à ansiedade, até à saudade, vai um passo curtíssimo.
Damos por nós a pensar como era injusta a ideia de que com 40 anos os nossos pais já eram um bocadinho "velhos". Como era possível ser essa a imagem que tínhamos? Hoje, vemo-nos ao espelho e não evitamos a negação e o ... remorso.
Percebemos também (quase à bruta) que o tempo corre sem esperar. Se temos filhos, quase que invejamos o seu estado "bruto" e as fases boas (Deus queira) que enfrentarão. Percebemos, com alguma ansiedade, que não falta muito. A eles, sim. Mas mais a nós. E ainda mais aos nossos pais, seus avós.
E não conseguimos resistir à saudade. A propriamente dita, pelo que já passou. E a antecipada, pelo pouco que falta. Talvez não a nós (ainda vivemos presunçosos, confiando que teremos outro tanto para viver). Mas aos nossos pais.
Temos saudades dos nossos pais com os nossos 40. Percebemos as dúvidas e as confianças de então. Perdoamos e revemos os juízos precipitados que fizemos sobre algumas das suas escolhas. E percebemos que a eles temos mesmo que "regressar". Deve ser isso, ou devia ser, a tal "ternura dos 40" (e é capaz de funcionar aos 20, aos 30 e aos 50).
#Saladeestar
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