
Eu, por acaso, tenho pena (chego a experimentar um certo
sentimento de culpa) que olhemos para os fenómenos de tensão social nas
empresas primeiro como um estigma e, depois, como mais uma trincheira de disputa
política esquerda/direita. Por muito que possa parecer estranho (que não é nem
deve ser), eu olho para a «tensão social» entre os trabalhadores e a gestão das
empresas não apenas com naturalidade mas especialmente como uma necessidade. O
equilíbrio e a justiça devem presidir à paz social, sob pena de ser podre e iniqua.
E esse equilíbrio depende da força que cada «lado» dispuser para se fazer
respeitar. Não será sempre assim, naturalmente. Há gestores que antecipam e praticam
por sua iniciativa esse equilíbrio. E o mesmo se deve dizer a respeito dos trabalhadores.
A dita «tensão» é, no entanto e especialmente, necessária para quando não há
essa «iniciativa» (e não é preciso muito, basta desconfiar da ganância própria
da natureza humana).
O problema do caso específico português está na circunstância
de a esmagadora maioria das pessoas se ter demitido da «tensão social». Por
estigma e preconceito, a participação e a legítima representação dos
trabalhadores está, assim, livremente entregue a quem dela não se demite. Claro
que há outras especificidades, como seja a promiscuidade entre o PCP e a
principal confederação de sindicatos (no que isso significa de subversão dos interesses
dos trabalhadores e de instrumentalização da própria «tensão social»). E claro
que há um lastro denso, de muitos anos, de funcionalismo sindical no Estado e
nos serviços públicos. Estas condicionantes não nos deviam, todavia, desviar do
essencial. E, em primeiro lugar, o essencial é que a tensão social não deve ser
estigmatizada. E, em segundo lugar (mas não menos essencial), é que é urgente a
democratização da participação (até para ser representativa). Porque nem o
trabalho nem a gestão são de esquerda ou de direita.
#Escritório
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