sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Em reflexão

Estamos confinados ao concelho em que residimos por ser esse o critério de «conexão eleitoral». Sucede que muitas vezes – especialmente nas áreas metropolitanas – essa circunstância remete-nos para o terreno da indiferença.

Não é o meu caso – que nasci, vivo e trabalho no Porto, pelo que sou eleitor no concelho com o qual me acho «ligado». Mas conheço imensos exemplos de «vítimas» daquele critério único de conexão eleitoral.
Alguém que tenha nascido no Porto (podia também usar o exemplo de Lisboa), tenha vivido grande parte da sua vida no Porto, tenha estudado no Porto, tenha agora os seus filhos a estudar no Porto e trabalhe no Porto, seria no Porto que, muito provavelmente, gostaria de votar. Mas se essa mesma pessoa comprou um apartamento na Maia onde se «deita» à noite, é na Maia que pode «deitar» o seu voto (em vez da Maia podia usar o exemplo de Gaia ou de Matosinhos).
Não interessa invocar que o concelho que conhece bem é o Porto, que sabe quais são, onde são e como são as suas freguesias, as suas qualidades e carências, os seus protagonistas associativos e políticos. Não interessa invocar que mal conhece a Maia, as suas freguesias, os seus protagonistas associativos e políticos locais. Pois repito. Se comprou um apartamento na Maia onde se «deita» à noite, é na Maia que pode «deitar» o seu voto.

Há uns anos – no tempo em que o cartão do cidadão e o NIF não estavam tão oleados (sempre o sistema da AT a provocar estragos) – ainda era possível manter o recenseamento eleitoral, não obstante a mudança de concelho de residência. Hoje, entre IMI’s e IMT’s, registos e registinhos, nada passa ao «sistema» e estamos mesmo «obrigados» a estar recenseados eleitoralmente no concelho de residência.

Eu conheço muito boa gente que não tem vontade de votar porque não vota onde, justificadamente, tinha vontade de votar. Sei bem que não é um tema de resolução fácil, mas talvez valesse a pena pensar nisto. Até porque – e esta é uma última nota – podemos estar em presença de um fenómeno socialmente pouco saudável. As cidades onde este tema é mais relevante (Lisboa e Porto) são suficientemente grandes para que este condicionamento eleitoral não assuma uma expressão excessiva. Mas no limite há aqui uma «depuração» do universo eleitoral – a reboque, ou como consequência dos constrangimentos do mercado imobiliário – que mereceria reflexão.

#Escritório

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