Estamos confinados ao concelho em que residimos
por ser esse o critério de «conexão eleitoral». Sucede que muitas vezes –
especialmente nas áreas metropolitanas – essa circunstância remete-nos para o
terreno da indiferença.
Não é o meu caso – que nasci, vivo e trabalho no
Porto, pelo que sou eleitor no concelho com o qual me acho «ligado». Mas conheço
imensos exemplos de «vítimas» daquele critério único de conexão eleitoral.
Alguém que tenha nascido no Porto (podia também
usar o exemplo de Lisboa), tenha vivido grande parte da sua vida no Porto, tenha
estudado no Porto, tenha agora os seus filhos a estudar no Porto e trabalhe no Porto,
seria no Porto que, muito provavelmente, gostaria de votar. Mas se essa mesma
pessoa comprou um apartamento na Maia onde se «deita» à noite, é na Maia que pode
«deitar» o seu voto (em vez da Maia podia usar o exemplo de Gaia ou de
Matosinhos).
Não interessa invocar que o concelho que
conhece bem é o Porto, que sabe quais são, onde são e como são as suas
freguesias, as suas qualidades e carências, os seus protagonistas associativos
e políticos. Não interessa invocar que mal conhece a Maia, as suas freguesias, os
seus protagonistas associativos e políticos locais. Pois repito. Se comprou um
apartamento na Maia onde se «deita» à noite, é na Maia que pode «deitar» o seu
voto.
Há uns anos – no tempo em que o cartão do cidadão
e o NIF não estavam tão oleados (sempre o sistema da AT a provocar estragos) – ainda
era possível manter o recenseamento eleitoral, não obstante a mudança de concelho
de residência. Hoje, entre IMI’s e IMT’s, registos e registinhos, nada passa ao
«sistema» e estamos mesmo «obrigados» a estar recenseados eleitoralmente no concelho
de residência.
Eu conheço muito boa gente
que não tem vontade de votar porque não vota onde, justificadamente, tinha
vontade de votar. Sei bem que não é um tema de resolução fácil, mas talvez
valesse a pena pensar nisto. Até porque – e esta é uma última nota – podemos
estar em presença de um fenómeno socialmente pouco saudável. As cidades onde
este tema é mais relevante (Lisboa e Porto) são suficientemente grandes para
que este condicionamento eleitoral não assuma uma expressão excessiva. Mas no limite
há aqui uma «depuração» do universo eleitoral – a reboque, ou como consequência
dos constrangimentos do mercado imobiliário – que mereceria reflexão.
#Escritório
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