Eu ainda sou do tempo em que nos referíamos à Chanceler alemã como a «Senhora Merkel». Era o tempo em que projectávamos os nossos males nos outros (tendo como principal protagonista a Alemanha da «Senhora Merkel»). De tanto sublinharmos essa imputação à «Senhora Merkel» nem nos dávamos conta de como nos expúnhamos ao nosso próprio complexo de inferioridade. Claro que esse estrebuchar infantil ficava entre portas (a voz grossa e machista não tinha visto para atravessar a fronteira). E, curiosamente, era mesmo um tique de «género» (ao contrário da «Senhora Merkel», Hollande e tutti quanti não mereciam essa coisa do «Senhor» e eram poupados à nossa indignação).
Passaram alguns anos, os protagonistas internos trocaram de papéis, a imputação indignada à «Senhora Merkel» deixou de ser útil e até veio uma crise de refugiados em larga escala que nos revelou quem é consequente e quem não é (quem se fica pelas proclamações populistas e quem dá a mão não olhando às recomendações eleitoralistas).
De Merkel a história já não se livra. A maior democracia da Europa (digo maior simplesmente para significar que estamos a falar da democracia com mais eleitores), pela quarta vez consecutiva, escolheu livremente Angela Merkel.
E mesmo num cenário de «geometria» eleitoral incerta – em que ainda se medem as soluções e os acordos possíveis para assegurar a governabilidade – de Angela Merkel sabemos que estará sempre do lado da democracia. Ela que já testou quase todo o tipo de coligações. Ela que agora testará outro. E nesse outro sabemos – mais um mérito de Merkel – que não será premiada a ameaça dos partidos extremistas, sejam eles de esquerda ou de direita (porque para um democrata, no que é fundacional, não vale a pena distinguir).
#Escritório
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