quinta-feira, 26 de maio de 2016

Aprender com os 6 meses da esquerda

Estes seis meses de governo da esquerda - com BE e PCP implicados - deviam interpelar a direita parlamentar e social para lá da mera oposição (por muito competente e eficaz que esta possa e deva ser).

Para o bem ou para o mal, a esquerda, ao contrário da direita, está apostada em assumir-se. E por isso, uma vez sentada no poder, avança sem freio nem pudor. Na primeira hora, e no que ao plano simbólico e cultural dos costumes se refere, arrasou as taxas e demais medidas dissuasoras do aborto, avançou para a adopção por casais homossexuais, para as barrigas de aluguer e lançou a eutanásia. No plano estritamente político, foi em frente com o fim dos cortes nas pensões e na função pública, revogou o coeficiente familiar, e não hesitou na reversão das concessões e privatizações nos transportes. Não satisfeita, lançou-se ainda contra os contratos de associação na educação, aproveitando para desprezar os bons resultados e a história de tantas escolas junto das suas comunidades e entrincheirando eventuais pretensões sobre a "liberdade de educação".

Se há característica que se destaca, e que marca a esquerda por contraposição à direita, - e é perigosamente cada vez mais assim - é que a esquerda não hesita em avançar com as suas reformas ideológicas, desprezando se necessário o argumento económico-financeiro.

Já a direita nem com maiorias absolutíssimas avança com olhos de ver. E no que avança fá-lo com mil hesitações. Por muito que o estado de necessidade financeira diminua a margem de actuação, ele não justifica tudo. Até porque há muitas medidas simbólicas que escapam a esse espartilho (como bem demonstra a esquerda).

Para quem não se identifique nada. Para quem não se identifique substancialmente. Ou para quem não se identifique em parte (porque não enjeita algumas das medidas). Seja para quem for, a verdade é que estes seis meses de governo da esquerda servem, entre outras coisas, para cravar esse sulco entre a tibieza da direita e o despudor da esquerda. Devíamos aprender.

#Escritorio

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