quarta-feira, 25 de maio de 2016

Elevador

Não deve haver lugar de maior tensão diária que os elevadores nos edifícios de escritórios.
Quando primo o botão para chamar o elevador que me há-de levar ao meu posto de trabalho o gesto é sempre acompanhado do desejo interior de que nada nem ninguém me importune aquele percurso vazio. Gosto de andar sozinho de elevador. Relaxam-me aqueles segundos em que não penso em nada, não faço nada e não sou estimulado para nada (nem pelo telemóvel que perde logo a rede).
Quando aquele nada nos é negado não é só o nada que nos é negado. Ele é trocado pela desconfortável tensão da companhia – qualquer que ela seja – que ora suscita conversa forçada de circunstância (ah, o tempo, as obras da rua, o fim-de-semana) ora impõe um silêncio sepulcral e infindável que permite nervosamente fazer imensa coisa. Ajeitar o nó da gravata. Olhar (sem ver!) os papéis ou o telemóvel que temos nas mãos. E ler a ampla literatura afixada no elevador. Eu, por exemplo, já sei de cor que o certificado de inspecção da Schindler está em vigor até 16 de Outubro de 2016 e que tem de ser solicitada a sua renovação até ao dia 16 do mês anterior.

#Saladeestar

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