Provincianamente, cresci refém de vários preconceitos. Um deles sempre foi o de que as declarações de amor, quando ditas em inglês, ou mesmo em brasileiro, ficam naturalmente bem. Já se ditas no nosso português soam a forçado, pouco natural e até ridículo.
Eu reconheço que, por um lado, somos filhos das séries e filmes em inglês - em que qualquer "I love you", "I miss you" ou "I need you" sai sempre bem. E por outro, fomos formatados pelas telenovelas brasileiras - em que o banal "te amo" ou "eu amo você" contrastava com o nosso forçado e quase anti natural "eu amo-te" (com ou sem acento no "a"). Em inglês ou em brasileiro, todos tivemos o nosso momento mais frágil (quem nunca estremeceu com uma declaração de amor no cinema ou na TV?).
Com o tempo, com a experiência e alguma emancipação, fomos aderindo ao português e ao nosso modo de nos declararmos. Eu, pessoalmente, desde que tenho filhos, tenho vindo a descobrir a riqueza impressionante da nossa língua. Nas palavras, na forma de as dizer e nas imagens disponíveis.
A mais recente (e que ainda ferve no meu coração sensível) foi-me dedicada pela minha filha de 4 anos que, doente em casa e acompanhando-me à porta de saída me pediu "pai, compra-me uma lata de salsichas só para mim?". Quando lhe disse "claro que sim, filha", respondeu em bom português e com a voz embargada pela febre "o pai é lindo". Não sei se em inglês ou brasileiro ficava tão bem ...
#Saladeestar
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