12 de Maio. Fátima convoca-nos e uns quantos
comparecemos.
Depois de uma mão cheia de horas (ou mais) de resistência
e paciência, uma multidão de centenas de milhares de pessoas faz um silêncio
quase sufocante.
Em uníssono cumpre-se o terço. Pai-Nossos, Avé Marias,
Glórias. Intervalados com leituras serenas do Evangelho. Em português, árabe,
italiano, espanhol, coreano, francês, alemão, polaco, ucraniano, inglês. A cada
dezena erguem-se os braços ao Céu. O manto de velas ao som de «Glória ao Pai,
ao Filho e ao Espírito Santo» comove e aquece. De joelhos Francisco - o pastor vindo de Roma - fecha os olhos em absoluta intimidade.
Que Poder é este?
13 de Maio. Fátima mantém a convocatória e uns quantos
voltamos a comparecer.
Mais horas de resistência e paciência acumuladas. A mesma
multidão. Porventura ainda maior. Francisco entra com a descrição do peregrino.
A quem ergue o olhar, o que vê? A verdadeira
universalidade da Igreja. Milhares de cartazes. Bandeiras do mundo inteiro.
Talvez seja normal.
Do Algarve a Braganca. Normal. Estamos
em Portugal.
Mas de todos os países onde se fala português. Do Brasil, a
Angola, passando por Moçambique, indo à Guiné, a São Tomé e a Cabo Verde, e
terminando em Timor (quantas bandeiras timorenses?). Também será normal. Alguns
até viverão cá em Portugal. É normal.
Da Europa? Sim, quase todos. De Espanha (imensos), de Itália, de
França, da Alemanha, da Irlanda, da República Checa, da Roménia, da Grécia, da Suíça, da Lituânia
(que grande grupo), da Bélgica, da Polónia, da Ucrânia, da Rússia. Já nem sei quem mais ou simplesmente
quem não estaria. Mas é também normal. Ou são ricos ou são muitos ou são vizinhos. É normal.
E da América Latina, quantos? Pois imensos, senão mesmo
todos. Argentinos, brasileiros, mexicanos, costa riquenhos,
uruguaios, colombianos. Do Panamá também. E da Venezuela.
Tantos e tão impressionantes. Alguns com cartazes que nos gritavam com letra
impressiva «SOS Venezuela». Mas também será normal. Poderão não ser ricos.
Poderão ser de longe. Mas serão tantos que é normal alguns cá virem. E era a peregrinação
do seu Papa.
De África sou de tal modo refém da minha ignorância que nem
saberei distinguir de onde provinham tantos daqueles peregrinos. Vi do Quénia,
da África do Sul, da Nigéria. E sei de tantos mais que não sei. Normal? Talvez.
Afinal diz-se que é de lá que nos vem a força da evangelização de que tanto
precisamos.
A Ásia não faltou. Aliás, fez-se representar em massa. Do
Japão. Da China (tantas e tão visíveis as bandeiras da China). Do Vietname. Da
Coreia do Sul. Estes os que eu vi e percebi de onde eram. Mas é sempre assim, é
normal. São também tantos e alguns tão ricos, que é normal.
E é normal que da Austrália e da Nova Zelândia também
venham muitos. Pelas mesmas razões. É normal.
E esta multidão, este mundo todo reunido, ao que vem? Por
que se junta e aperta naquele recinto ameaçado por nuvens escuras rasgadas por
um sol quente e inesperado? Por nada de especial. Por algo absolutamente normal.
Afinal, rezar, mais uma vez, o terço em absoluta serenidade
e comunhão, não é fazer nada de especial. Desta vez, também em russo e croata.
Aquela multidão reza. Só reza e espera. E parece tudo suportar,
para ali estar a rezar e a esperar.
E, finalmente, a missa, a canonização e procissão do
adeus. É difícil compreender. E mesmo sem compreender é difícil esconder. Se
não a comoção, pelo menos a dúvida. Uma multidão que se mobiliza. Que respeita
os momentos. Que sabe fazer silêncio. Que reza em uníssono. Que simplesmente reza.
No mais absoluto anonimato e transversalidade. Com algumas, poucas ou nenhumas
horas de sono. Com escassa e mesmo nenhuma comodidade. Simplesmente reza porque
quer rezar. Ali. Com aquela multidão universal e irmanada. Junto da Mãe comum («temos Mãe», gritava Francisco!) dirigindo-se ao Pai.
Que Poder é este?
Será tudo muito normal. Sempre normal. Mas de tão normal,
será mesmo normal?
Que Poder é este?
#Jardim
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