Ainda bem que somos
poupados - os nossos filhos nem imaginam - ao confronto embaraçoso com o
exercício de imitação dos nossos pais naquelas precisas manias que mais mexiam
com o nosso sistema nervoso. Especialmente a mania da recuperação permanente (e
até emocionalmente sufocante) do passado duro e exigente que haviam vivido.
«No meu tempo
tomávamos banho de água fria!».
«No meu tempo
recebíamos um par de meias no Natal e não protestávamos!»
«No meu tempo
éramos repreendidos na escola com a menina dos 5 olhos» (esta é só para quem
sabe).
Quase sem darmos
por ela, agora somos nós a abusar da muleta «no meu tempo» para forçar os
nossos filhos a sentirem-se agradecidos com o que têm e a deixarem-se de
protestos birrentos.
Então quando se trata de dar de comer às criancinhas é irritantemente inevitável: «no meu tempo não comíamos iogurtes
todos os dias nem os tínhamos disponíveis ao sabor de cada ida ao frigorífico!»
(no nosso tempo, em boa verdade, os que tínhamos eram quase sempre daqueles
artesanais – já agora, ainda haverá dessas máquinas de fazer iogurtes?). «No
meu tempo não tínhamos Cerelac em casa porque era muito caro!» (das coisas boas
quando ficava doente era o mimo de uma Cerelac só para mim!). Ou então uma mais
geral a empurrar a pressão emocional para os avós: «no meu tempo, ai de mim se
não comesse a sopa! Ficava logo de castigo!».
Lá em casa, por
exemplo, os miúdos ficam muito impressionados quando lhes lembro que «no meu
tempo» só tínhamos dois canais, não podíamos escolher nem quando nem quais os
bonecos (continuo a chamar bonecos aos desenhos animados) que íamos ver.
E por falar em
televisão está a ser urgente um pequeno reforço deste discurso. É que é bom que
os meus filhos saibam que ainda guardo o trauma da humilhação da Dora com o
«Não sejas mau para mim».
Ganhar Europeus e Festivais da Eurovisão? No meu tempo não era nada assim!
#Saladeestar
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