terça-feira, 30 de maio de 2017

Promessa cumprida?

Sou muitas vezes confrontado pelos opositores a Rui Moreira com a pergunta (na boca de quem a faz, pretende ser retórica) sobre que promessas relevantes Rui Moreira cumpriu. Normalmente a pergunta é feita em tom acusatório («diga uma!» como celebrizou Manuel Serrão).

Tenho pensado frequentemente nesta pergunta (já lá irei à resposta). É que a própria pergunta diz muito de quem a faz. Revela quão reféns estamos ainda do modelo de acção política e autárquica quase exclusivamente medido em «metros cúbicos de betão» e «quilómetros de alcatrão». E tem o condão de expor a perspectiva que cada um tem das necessidades actuais e modernas de uma cidade como o Porto. E – já agora – acaba por ser um interessante barómetro sobre que competências e que recursos julgam os cidadãos (alguns) que as autarquias dispõem.

Eu não desprezo nenhuma dimensão da acção política – declaro-o já, para que me poupem à acusação. Mas para este mandato de 2013-2017 numa cidade razoavelmente infra-estruturada, havia duas áreas que me preocupavam acima de todas as outras – a social (é inevitável numa cidade com mais de 30.000 pessoas registadas a residir em bairros sociais) e a economia e emprego (do meu ponto de vista, o verdadeiro motor da cidade – e mais do que da cidade, da área metropolitana).

A debandada geral de quadros qualificados para Lisboa e para o estrangeiro, a carência de novos investimentos, a diminuta comunidade de estrangeiros, a ausência do Porto no radar de potenciais destinos de investimentos e, no fundo, a incapacidade de garantir o futuro, era o maior desafio do Porto nesta fase da sua vida. Especialmente num país de ilógicos instintos centralistas como o nosso. Porque – e este é o ponto – a dinâmica que a economia da cidade tiver é a antecâmara das patologias sociais a que tem de fazer face. E é, depois, a razão para a construção (ou reconstrução) da cidade que, naturalmente, continua a ser necessária.

Não confundam. Eu próprio estou ansioso com a recuperação do Bolhão, do Rosa Mota, da estação de Campanhã (e por aí fora). E sei o que se fez e estará para fazer nesses dossiers emblemáticos. Mas mais ansioso vivo com a economia da cidade e da região, com a criação de emprego para os milhares de alunos das nossas prestigiadas faculdades que eu gostaria (eu e eles!) de manter por cá. Quase egoisticamente falando, dói-me o coração por cada amigo com quem deixo de poder almoçar ou jantar regularmente porque «foi trabalhar para Lisboa».
Ora se há «promessa» (não gosto do termo) que se cumpriu nestes 4 anos foi justamente essa. Poderei resumi-la numa palavra – InvestPorto – mas talvez seja curto. De repente, começamos a ver novos investimentos no Porto, abertura de agências, de centros de investigação, de sedes de plataformas digitais, de empresas tecnológicas. Dirão os mais críticos – ou mais exigentes – que não é suficiente. Eu respondo com a manifesta inversão do ciclo. E essa inversão era muito mais difícil do que se possa imaginar. Insistirão os tais mais críticos que não é mérito da autarquia. Aí eu respondo que não podemos ter vistas curtas e devemos reconhecer o mérito onde ele também existe. Houve todo um trabalho dedicado e quase desconhecido. Desse trabalho também fez parte a dinâmica cultural, a projecção de uma nova imagem, a presença em fóruns de promoção em mercados que nos interessam. E até a luta (verdadeira luta) para assegurar ligações aéreas para o nosso aeroporto. Mas houve sobretudo um trabalho profissional e dedicado para identificar potenciais interessados. A transformação do Porto numa cidade atractiva é tudo isso. E isso – que não é pouco – foi magistralmente alcançado numa base consistente e com futuro de esperança.

O próximo mandato tem tudo para ser extraordinário. Será necessariamente o mandato das obras emblemáticas (tem de ser!). Mas será o da consolidação desta inversão de ciclo e de atracção do Porto a todos os níveis. Assim espero.

Ah, a pergunta! Uma promessa cumprida? Não consigo responder nessa velha lógica.

PS: Diz Álvaro Almeida que «Rui Moreira é populista, traidor e déspota». Este tipo de declarações está nas antípodas do que esperava. E são tudo o que não precisávamos. Lamento. Lamento mesmo. Até porque revela falta de inteligência política (e revela outras coisas, embora prefira deixar o juízo moral para cada um).

#Escritório

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